''AQUELAS MAOS....aquelas maos!!!! ""

Evaldo, coitado, nasceu com um grave defeito nas duas maos, na esquerda o dedo mindinho era grudado com o '' seu vizinho'',

grudadinho, e o '' fura bolo'' nao tinha unha e era do tamanho do '' mata piolho'', mas a mao direita era pior ainda, e mindinho, seu vizinho e o pai de todos, todos grudados e o fura bolo era tao pequenininho que quase nao se via e o mata piolho nao tinha unha e era curvado para dentro, parecia uma garra, um anzol. Foi aquela tristeza na materninade.

Foi crescendo e os medicos dizendo que tinham que esperar um pouco mais para separar os dedos, nervos, pequenas veias, eram tudo uma coisa so', e iria precisar de platicas e a coisa complicando e nada de ''separacao''. Foi ficando assim mesmo, foi se acostumando. A vida passando. Na escola estudando. Notas boas tirando.A mocidade chegando. E a moca por quem se apaixonou, notando ,e nada querendo, nao pelas maos, ela, a moca de sua paixao, gostava de outro e com o outro casou. Ele ficou, sozinho...e' melhor pensava e tocava a vida.

Trabalhava no cemiterio. No pequeno escritorio que havia por la'. Ganhava ate' que razoavel ja' que era funcionario da Prefeitura.E sempre na hora de seu almoco, que levava almoco de casa e por la' mesmo almocava e depois disso, saia andando um pouco para fazer a digestao, o kilo, e cada vez ia por caminhos diferentes.

Em uma das andancas, um tumulo rico, enorme, grande mesmo...tinha ate' dois anjos la' no topo tocando cornetas, o nome da familia em letras , grandes, douradas e fotos, varias , de varias geracoes...a data mais antiga de alguem enterrado por la' datava do fim dos 1800, 1898...e Evaldo ficou encantada com aquele tumulo, tinha uma parte plana, linda, toda em granito vermelho e colunas de granito pretas, e tinha a estatua do patriarca da familia, assim estava escrito na base do trono em que ele estava sentado, e Evaldo olhando uma por uma as fotos e viu uma de uma senhora, cabelos pretos, longos, olhos brilhantes, um rosto bonito, lindo mesmo, e tinha as duas maos apoiadas nas coxas e Evaldo viu um anel, grande e ficou imaginando de que cor seria a pedra...a foto era em preto e branco e notou as maos, lindas, finas, dedos longos, todos com unhas...pensou ele, coitado!!! e se foi, sua hora de almoco terminando.

Dois dias depois passava por la' de novo e tudo olhando e foi notando a foto da senhora , naquele dia nem tinha reparado no nome, hoje lia na placa ..."" Alina '' e as datas 10/10/1910*....19/10/1999 +, nascimento e morte, pensou ele e reparou que...impossivel!!!! tinha as maos no rosto, o mesmo anel ainda se via, e parecia que chorava, que solucava...olhou dos lados, tornou a olhar a foto...a mesma posicao, as maos no rosto, como que chorando....saiu dali apressado, suava.

E isto ficou na sua cabeca, tinha a certeza que na primeira vez as maos estavam no regaco, no colo dela, apoiada nas coxas...e agora, agora...no rosto?...e nao ia mais la', mas nao aguentou , voltou, duas semanas tinham ja' se passado..e ele direto olhando para a foto...

Tinha a cabeca de lado agora, se via apenas um lado do rosto, uma das maos apoiava a cabeca, a outra segurava um lenco e o anel se via ainda, parecia que faiscava...saiu dali, achava que estava ficando louco, que iria ficar louco, e nao contava isto 'a ninguem...

E cava vez que voltava via as maos, o rosto, a cabeca em outras posicoes...parou de ir por la'...seis meses se passaram

Sonhava agora que a senhora, Alina, estava falando com ele, sobre maos, sobre que ela daria as maos dela para ele, e ficaria com as maos dele e acordou com um tremendo barulho, sentou na cama, assustado...era um trovao, um relampago estourando na noite escura e a chuva forte caindo pesada...nao consegui dormir mais.

Assim que chegou ao trabalho nao tinha sossego, queria ir ate' o tumulo de Alina, precisava ir....e nem almocou e foi, e chegando foi direto vendo a foto...ela tinha a mao direita espalmada no regaco, a esquerda tinha o mindinho grudado com seu vizinho ..e ele logo olhando sua mao esquerda...e viu, viu que seu dedo mindinho tinha se separado de seu vizinho, mexeu, mexeu...mexiam normalmente....saiu correndo dali, chegou no escritorio colocou uma faixa, falou ao chefe que tinha se cortado ....ficou em choque a tarde toda, nao tinha coragem de tirar a faixa...tirou em casa, no banheiro, e os dedos livres e soltos...enfaixou de novo, deitou...sonhou com Alina.

E no dia seguinte, chegou no cemiterio foi direto ver a foto de Alina....as maos delas...as maos delas....iguais, iguaisinhas 'a dele...e ele agora olhando as suas...iguaisinhas 'as dela....identicas, lindas, finas, dedos soltos, normais....correu ao escritorio, foi ate' o pequeno deposito de material de limpeza, colocou duas luvas em cada mao...alegou que estava com uma alergia...neste dia nao almocou, nao conseguia comer nada...se comesse vomitava, pensava, tanto era o nervoso que estava...nem direito trabalhava.

Tomou banho, nao teve coragem de tirar as luvas, como iria explicar 'a todos, 'a todo mundo..de uma hora para outra suas maos '' normais""...impossivel!!! diriam, e dormiu, nao sonhou e quando acordou ja' tinha a solucao...

Pediu demissao. Da familia se despediu. Para longe, bem longe seguiu. Foram varios onibus que ele trocou, viajou, e sempre para o norte...e na ultima capital ficou, em um pequeno hotel se instalou, tirou as luvas, maos lindas, perfeitas...tomou banho, se trocou, em busca de emprego saiu.....Uma lanchonete , no centro, aceitou...passou a ser lancheiro, por perto mudou...e sua vida tambem mudou. Ali ninguem nunca saberia que tinha nascido com aquelas maos e que de uma hora para outra ....eram outras!!!..suava so' de pensar nisto...e a vida tocou!!!

Um ano se passou, a vida se '' assentou'', se acostumou, tinha amigos e amigas e uma das amigas tinha uma amiga que iria no sabado dancar...quer ir junto?...ele queria, foi, a amiga da amiga conheceu....gostou, ela tambem.

Bonitinho se aprontou, se perfumou todo, barba feita, cheiroso, gostoso e antes da hora na porta do salao esperava e viu as duas chegando....e foram se apresentando...

Evaldo, prazer

Aline, prazer tambem...e ele nem importancia para o nome dando, nem se lembrando e logo logo dancando e foi quando segurou a mao dela que notou...notou o anel, impossivel ser outro...tinha visto tantas e tantas vezes...nao aguentou, perguntou:-

Bonito anel...presente?

Foi, foi presente de minha bisavo', antes de morrer me deu

Ahhh!!....e nada mais saiu, mas ficou...algo ficou na cabeca a remoer...e mais tarde, tentanto voltar ao assunto e desta vez foi ela quem puxou....'' lindas maos, gostei...sao bem bonitas mesmo, parece ate' de mulher..'' e ele sentindo um calafrio mas pedindo...'' posso ver seu anel? pode tirar para eu ver bem de perto?'', ela estranhando mas tirando e ele na mao direita colocando...servindo como uma luva...perfeito!!...era o mesmo anel, sem duvida..e devolvendo e ela falando....'' bisa Alina..""..e ele ao ouvir o nome que conhecia tao bem, empalideceu e ela notou...parou de falar e ficou olhando admirada e ele dizendo " de onde era sua bisavo"?...e ela respondendo:- de tal cidade.....no sul, eu tambem nasci por la', fazem so' deis anos que estamos por aqui...meu pai foi transferido pelo banco que ele trabalha...e bla bla bla....""...agora ele tinha certeza.

Aline....a bisneta, Alina...a bisavo'....a ida ao tumulo, as maos trocadas...o anel....o encontro dos dois....nada tinha sido por acaso...tudo era um caso tramado, tramado pelo destino a quem os dois, Evaldo e Aline estavam marcados....

Casaram..fotos foram tiradas e Aline tinha uma foto da bisavo' Alina....foi mostrar para Evaldo um dia, e deu um grito, fazia tempo que ela nao via a foto, Evaldo acudiu, ela chorava, apontava a foto..e dizia....'' as maos dela..as maos dela, que horriveis...e nem tem mais o anel...tirou a foto, me deu o anel e morreu..e agora isto, que maos!!!, meu deus!!!....Evaldo guardou a foto, no fundo da caixa, colocou por ultima, tapou, amarrou, colocou la' em cima no sotao...

ficou por la' esquecida....mas Alina agora sorria.

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WILLIAM ROBERTO CUNHA
Enviado por WILLIAM ROBERTO CUNHA em 02/06/2010
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