Histeria

Não há o direito. Ele não foi concedido em momento algum, não foi permitido. Desautorizo a continuar a fazer algo que não foi sequer cogitado, pois pior que criar regras é esboçá-las. Regras foram feitas para serem ultrapassadas, como um teste, para o que serve e o que não serve. Esboçá-las é fingir que foram ultrapassadas, mas foram meras fantasias.

Ando cansado das fantasias que me fazem entrar e sair em portas que eu imagino serem portas de verdade, com caminhos de verdade, em destinos que cansarão de verdades. Eu cansei de ilusões. Eu cansei das ilusões que vem de todos os cantos, de mim, de dentro, de fora, dos outros, cansei, cansei. Cansei de esperar a palavra certa, ela vir, mas logo em seguida vir o inesperado indesejável e tomá-la para si como imposto. Cansei do indesejado, cansei de esperar, cansei de aquietar meu coração com as emoções que não virão e não dirão porque ficaram retidas no pedágio da cobiça alheia. Cansei de sonhar, sonhar os sonhos mais completos e no fim, serem apenas devaneios de 2 minutos.

Os abraços são cada vez mais fortes, procuram cada vez mais o encontro dos corpos, mas eles são tão esquisitos, parecem desesperados. Um desespero de despedida, eu sinto, é um desespero de despedida. Algo está fugindo de mim e algo está correndo por aí, como louca, fugindo de um cão com raiva ou de um rinoceronte contaminado com ebola, se é que rinocerontes podem ser contaminados com ebola. O que está em jogo é o correr do absurdo, e esse absurdo só é porque os abraços se tornam mais fortes e desesperados como quem quer agarrar algo que se sente esvair. E eu cansei de me esvair. Vivo me esvaindo, em dor, em lágrima, em sangue metáfora, em espera, em palavra, em silêncio, em ... bem, na verdade não consigo ficar em silêncio, eu fico emudecido. É como se eu pudesse falar, mas não saísse porque ainda estou aberto esvaindo em sangue metáfora de não dizer, ainda estou com o canal aberto, ainda ouço alguém falar, ou ainda espero que alguém que se virou de costas enquanto conversava, interrompido por algo qualquer, se vire e continue a falar, para que então eu me pronuncie. Eu tenho um sentimento aqui dentro que está emudecido, ele já foi declarado, cada vez que foi declarado, não foi entendido, não foi porque não foi, ou foi ignorado, ou desacreditado, ou pouco importa, e que me esvai em sangue metáfora. Eu acho cada dia mais que pouco importa, porque já deu tempo para todos os outros motivos que bolei na minha cabeça, um dia morro de hemorragia interna metaforica, ou constipação de dizer, ou infarto da corda vocal, ou cálculo cerebral de sentimentos.

Esse papo das ilusões, mesmo que eu mesmo as crie, elas são ilusões que os outros me ajudam a construir com suas versões dos fatos e prenúncios. Eu quero prenunciar que eu sou uma pessoa sem sentimentos. Eu quero prenunciar que eu sou uma pessoa esquecível, prenunciar também que eu tomarei muitos partidos e não levarei nenhuma vitória pra casa, porque as minhas vitórias não caminham comigo, ficam espalhadas por aí, ao lado de um alguém que as usufruirão melhor que eu mesmo usufruiria. Eu nasci canalha de mim mesmo, quer dor maior? Eu nasci para ganhar méritos e desperdiçá-los em praça, nos jardins dos estranhos, nas esquinas das prostitutas oportunistas, nas casas dos invejosos, nas ruas dos desesperados, eu nasci para desperdiçar meu tempo, seu tempo, o tempo de quem quiser ser desperdiçado, porque eu tenho o dom de desperdiçar tempos, mesmo que eles valham méritos que caminhem por aí que não ao meu lado. Que coisa difícil, meu mérito está em alguém que não é ,eu piro isso, piro a ponto de injetar em minha cabeça que preciso e tomo um Rivotril de 2mg e aguardo o entorpecimento. Meu mérito é algo roubado por arma linguística, por uma estética do melhor encontro, pelo viés da transgressão do transgressor. Minha escala de superação é muito limitada, é fazer algo aqui e amanha já ser superado. Era da internet ou facil entendimento? Não, idiota, idiota. Como falar de casos e não casos se você os fala tão bem que prostitutas oportunistas possam compreender melhor que você sobre o tema? Óbvio, as desesperadas por um sentido tomarão para si o que lhes desperta para a vida. Acorda pra cuspir, uma delas me conta, mas eu penso a mesma coisa quando tenho as questões em minha cabeça. O foda é dize-las e elas assimilarem de forma extraordinária a prática da coisa e me deixar apenas com meus méritos por aí, com nome de alguém, com boca de alguém, será que algum champagne já foi estourado em meu não-nome? Algum sexo feito em meu não-orgasmo? Algum sentido tido com meu não-abrigo?