O céu resolverá...?
Numa tarde de muito calor, daqueles que nem mesmo a sombra ajuda, Maria chega àquela cidade interiorana de pouco mais de cinco mil habitantes, isto já contado a zona rural.
Maria era uma mulher que já havia passado por muitos verões, invernos, outonos e primaveras. Sua aparência era um pouco estranha para os padrões estabelecidos de beleza. Sua pele muito clara, contrastava com seus cabelos muito negros, claro que nada que uma boa tinta não havia colorido. Era alta, magra e sisuda.
Ao passar pela praça principal, chamou a atenção de todos que alí estavam à sombra de frondoza mangueira. É claro que em cidade pequena ninguém repara em um estranho. Dirigiu-se ao único mercadinho e comprou um pacote de bolacha e uma garrafa de água.Dirigiu-se ao caixa e foi logo dizendo:
- Meu nome é Maria, lavo, passo, cozinho e limpo casa como ninguém. Estou à procura do doutor Márcio de Albuquerque, vou trabalhar para ele.
Dada a explicação os olhares acalmaram-se e ela foi informada do endereço. Porém ainda pairava no ar uma certa curiosidade das pessoas que se encontravam no local.
No dia seguinte a cidade viu Maria ir ao mercado, a farmácia, varrer a calçada, regar o jardim do doutor, enfim trabalhava como ninguém.
De vez em quando, ela sumia, diziam que visitava um parente distante. Quando voltava estava mais triste.
Nesse mutismo e nessa tristeza Maria ia passando os dias, os meses, vivendo sempre só e triste.
Certa manhã o povo da cidade não viu a mulher fazer o de sempre, aliás nem a viram. Embora achassem estranho, havia outras vidas para cuidar, é claro, as dos outros.
Lá pelas dez horas correu a notícia de que Maria havia morrido de mal súbito. Todos acorreram a casa do doutor para ver o que havia acontecido.
O doutor chamou, entre a multidão que se expremia na porta, duas mulheres, dona Coceição e dona Marta. As duas já tinham experiência em cuidar e prepara pessoa para a morada final, além é claro das mesmas deverem muitos favores ao médico.
As duas dirigiram-se ao quarto onde jazia o corpo inerte. Começaram os preparativos, escolhidas as roupas para vestirem na morta, iniciaram os preparativos.
De repente um grito alucinante foi ouvido, o médicoapressou-se para ver o que estava acontecendo. Dona Marta e sua amiga estavam caladas e brancas como cera. Ao invés de uma vagina, havia um pênis, Maria não era Maria, e agora?
O médico explicou as mulheres que já tinha conhecimento disso, pediu sigilo às dizendo-lhes que na realidade Maria chamava-se Antonio da Figueira ,mas sempre viveu como Maria. Agora seria enterrado como sempre viveu: Maria. Pronto, estava resolvido. Se o céu não aceitasse, problema dele, na terra aconteceria o velório de Maria e lá em cima quem quiser que resolva.. A terra estava mandando um ser humano que muito havia feito, Antonio ou Maria não era mais problema nosso.