Antes só do que mal acompanhado
Denis entrou no escritório e deu de cara com a última pessoa do mundo com quem gostaria de falar.
_ Oi Denis. _disse Salazar logo que Denis entrou.
Salazar estava sentado na cadeira atrás da mesa, portanto, a cadeira de Denis e estava com os pés sobre a mesa, reclinado de forma irônica.
Denis era um grande homem de negócios, um mega empresário conhecido no meio pelo apelido de “Midas” numa alusão ao rei da mitologia grega que transformava tudo quanto tocava em ouro. Denis tinha um tino para fazer negócio que o colocava a frente dos demais concorrentes, nos últimos dez anos ele havia erguido do nada um verdadeiro império, estava sempre fechando os melhores contratos, obtendo os maiores lucros e aumentando o seu patrimônio.
_ Salazar!_ disse Denis sobressaltado; não esperava encontrar o outro tão sedo e muito menos em seu próprio escritório. _ Como entrou aqui?
O empresário andava constantemente cercado por seguranças particulares que vigiavam a grande mansão que ele havia comprado num condomínio de extremo luxo no bairro mais nobre da cidade. Esses mesmos seguranças também forneciam proteção vinte e quatro horas por dia para Denis quer ele estivesse na empresa, quer em outro lugar e o empresário havia dado uma descrição minuciosa de Salazar para que a equipe não deixasse aquele homem entrar na empresa ou sequer se aproximar dele.
_ Ora! Entrei do mesmo jeito de sempre; pela porta.
Um momento ínfimo de silêncio entre os dois, seus olhos se encarando frente a frente até que Salazar prosseguiu:
_ Até parece que você tem me evitado. Está difícil me aproximar de você; se eu não tivesse meus métodos não estaria aqui hoje.
_ O que você quer?
_ Só estou acompanhando meus investimentos _ Salazar sorriu e fez um gesto com os dedos indicador e polegar da mão direita, balançando-os _ entendeu? Investimentos? Fiz uma piada.
Denis não sorriu; estava gelado como uma pedra de mármore.
_ Ora, sente-se. _disse Salazar retirando os pés de cima da mesa e se levantando_ Afinal o escritório é seu.
Ele rodeou a mesa enquanto ajeitava o paletó e sentou na cadeira em frente. Denis finalmente caminhou até a sua mesa e tomou acento na cadeira atrás dela; estavam finalmente frente a frente e muito próximos.
Salazar recomeçou:
_ Sabe. Eu estive pensando no dia em que nos conhecemos e em tudo o que aconteceu desde então.
O empresário parecia não ter voz para conversar e o outro percebeu a inquietude que tomava conta do “amigo”.
_ O que está havendo com você Denis? Está desconfortável com minha visita? Não se preocupe, ainda não é definitiva, mas sabe como é, tenho que manter meus negócios em dia.
_ O que você quer?_ disse Denis finalmente forçando um pouco a voz da garganta para fora._ Vá direto ao ponto, não tenho tempo para conversar com você.
O empresário tentou passar segurança e foi bem sucedido, mas Salazar estava acostumado a conversas mais ríspidas, atitudes violentas e todo tipo de outras ações temerárias.
_ Finalmente! _ bradou_ Um pouco de coragem; o que é isso Denis? Acaso você acha que está livre de mim? É isso?
Denis titubeou, mas em seguida atacou novamente com o dedo em riste apontando para o outro:
_ Não lhe devo nada, saia da minha vida, não quero mais que me procure.
_ Ora, mas nós temos negócios.
_ Uma “ova” que temos! Paguei minha dívida e espero nunca mais ter que fazer nada para você.
Salazar mordeu os lábio e inclinou a cabeça levemente, ele analisava cuidadosamente a atitude o outro, os olhos encarando Denis que quase podia ver a ira por trás deles.
_É sempre assim, quando estão precisando de ajuda não medem esforços, aceitam negociar e entram em todo tipo de tramóias e estratagemas, mas depois que tudo se estabiliza aí a coisa muda de figura. Tenho novidades para você meu amigo; Nós ainda temos negócios pendentes e só termina quando eu disser.
Já fazia um ano que não se viam e dez desde que Denis pediu a ajudada de Salazar.
Denis se levantou irritado e bateu com os punhos cerrados contra a mesa sólida:
_ Mas eu matei um homem pra você!
O sorriso percorreu os lábio de Salazar levemente.
_ Sente-se.
_ Sente-se uma “ova”; saia do meu escritório e não volte mais aqui!
_ Sente-se Denis.
_ Estou ordenando. Suma da minha vida! Vá pro inferno!
Salazar também se levantou, a voz alterada, a face branca estava parcialmente avermelhada, uma veia pulsando na testa e os olhos vidrados.
_ Eu mandei você sentar Denis! O que é isso!? Acha que pode me encarar? Você acha que eu sou um de seus seguranças particulares ou guarda-costas engomadinhos. Acha que está falando com um de seus empregados debilóides, ou com seus clientes vaidosos a quem você compra com elogios e dinheiro ou talvez com uma de suas mulheres, concubinas. Não meu amigo; não e assim que funciona. Agora cala... essa... boca... e senta!
Salazar sorriu em seguida, a face tornou-se amigável novamente, sentou e só recomeçou a falar quando Denis também tomou acento, o que demorou alguns segundos.
_ Agora, onde estávamos? Ah sim; eu dizia que estive pensando em quando nos conhecemos. Você era um Zé ninguém, não tinha nada, nem dinheiro, nem mulheres, era apenas um contador fracassado, malsucedido, sem clientes, nem empregados, nem nada desse império que agora tem.
Denis olhava impassível ao outro enquanto ele falava:
_ Mas você era a pessoa perfeita para uma parceria comigo, Você era e é um homem ganancioso, ambicioso, intempestivo e sem escrúpulos; meu tipo de homem. As possibilidades de ganho eram ilimitadas e pelo que vejo você evoluiu bastante.
Numa parede ao lado da mesa onde eles estavam reunidos havia uma estante repleta de livros e com alguns pequenos objetos decorativos, dentre os quais se destacavam uma estatueta e uma lâmpada de azeite.
Os olhos de Salazar passaram pelos objetos e voltaram a repousar sobre Denis. Ele continuava falando pausadamente:
_ Eu acreditei em você, fiz os contatos certos, acionei as pessoas que você devia conhecer, até suas garotas de programa fui eu que selecionei, ou já se esqueceu desse favorzinho singelo que lhe fiz?
_ Claro que não._respondeu contrariado.
_ Pois é; você deveria me agradecer por tirá-lo daquela situação, mas ao invés disso, você me evita, contrata seguranças para não deixar que eu o encontre, gasta rios de dinheiro com sistemas de vigilância mesmo sabendo que nada disso vai me impedir de te encontrar; tornou-se paranóico. Eu acompanho você Denis, o tempo todo, meus olhos nunca saem de você, todos os dias. Entenda bem, eu sou sua companhia mais próxima, estou sempre perto, observando e interagindo. Muitos de seus clientes sou eu quem manda que procurem por você; homens e mulheres ricos e atolados em problemas; você aproveitou bem e sugou o máximo que pode não foi?
_ Muito do que conquistei foi com meu próprio esforço. _ Rebateu o empresário.
_ Assim você me decepciona, mas eu creio que no fundo você sabe que fui eu quem realizou seus desejos ocultos; agora olhe só para você; cada noite com uma mulher diferente, mansões, carros esportivos de luxo, e, tudo o que você teve que fazer foi apagar um homem para mim, seja franco, foi um bom negócio para nós dois.
_ Por que você está relembrando isso?
_ É muito simples; eu fiz você se aproximar daquele homem, apresentei vocês dois, induzi a esposa dele a se achegar até você, sob meus conselhos você a seduziu, ela se apaixonou, você o matou, a roubou e eu a enlouqueci. E de repente você se viu com uma tremenda quantia de dinheiro nas mãos, uma bolada milionária e as coisas começaram a acontecer não foi isso?
_ Foi. Mas eu não queria ter matado aquele homem. Pensei bem a esse respeito e não há um só dia em que eu não me sinta culpado.
_ Não minta para mim, queria sim, você faria qualquer sacrifício para alcançar esse status que tem agora, até fazer um pacto; _ Salazar riu _ mas não se preocupe ele era uma pessoa como você.
_ Como assim? _ Havia algo pairando no ar, uma sensação estranha nas palavras de Salazar.
_ Eu o conheci antes de você me encontrar, e agora é que vou entrar no motivo de minha visita hoje, Aquele homem também não tinha nada quando o conheci, eu fiz por ele o mesmo que fiz por você, mas quando te conheci, vi que a vez dele já tinha passado, toda a riqueza e poder que eu o havia presenteado, passei para você. Foi ele quem me tirou da lâmpada e foi a ele que eu realizei os três desejos iniciais, mas ele foi esperto desejou dinheiro, poder e desejou que eu não pudesse matá-lo então você o matou por mim e como recompensa ficou com tudo que dei a ele. Preto no branco.
O sangue gelou nas veias de Denis.
_ Então ele o libertou da lâmpada, sabia o que você era desde o início? E por que está me contando isso?
_ Ora meu bom amigo; é claro que ele sabia o que eu sou, assim como você sabe; jogo limpo com quem eu ajudo. Agora Estou contando tudo isso porque encontrei outra pessoa e sua vez já passou.
Denis se ajeitou na cadeira, mas na verdade aquilo foi uma estratégia para levar a mão até um pequeno botão na base da mesa, logo abaixo da tampa, e acionar a segurança; em alguns instantes o escritório estaria repleto de guarda-costas.
_ Então o que vai acontecer? _ perguntou Denis.
_ Farei por ele o que fiz por você.
_ Mas eu não tenho esposa e conheço seu plano.
_ O plano muda a cada vítima. Você tem várias mulheres, nenhuma esposa é verdade, mas várias mulheres e muitas outras pessoas ao seu redor. Ele é uma delas, já está no seus círculos de convivência e vai matar você em breve.
A porta do escritório se abriu e três seguranças entraram com as armas em riste.
_ Atirem nele! _ Gritou Denis levantando-se mais uma vez e correndo para o canto da parede.
Os guarda-costas procuravam a pessoa, mas só Denis estava na sala; Salazar continuava sentado olhando para tudo aquilo com um semblante irônico.
_ Atirar em quem? _ Perguntavam os seguranças.
_Nele! Atirem nele aí sentado na cadeira! _ bradava.
Salazar se levantou, olhou para a lâmpada na estante ao lado, ajeitou a roupa e saiu pela porta, passando entre os homens enquanto Denis gritava loucamente para que eles atirassem.
Denis amaldiçoou o dia em que pediu a ajuda de Salazar.
Na porta Salazar se voltou antes de deixar o escritório e disse:
_ Lembre-se Denis uma de suas companhias vai te matar.