DANÇANDO A BEIRA DA ESTRADA

Naqueles idos de 1977, o Rio Grande do sul possuía uma das maiores agências de propaganda da América latina e eu havia sido contratado depois da venda de meu estúdio em Blumenau. Havia vendido e estudava o que fazer, quando surgiu a proposta irrecusável. O salário era compensador e incluía uma comissão sobre as contas de meus clientes de Santa Catarina. A matriz da agência era em Porto Alegre, mas possuía filiais em diversos pontos do país, incluído o recente escritório de Blumenau, comandado pelo Guilherme, responsável pela minha contratação. Isto acarretava constantes viagens entre a matriz e as filiais da região sul. Eu era diretor de estúdio, mas preferia eu próprio produzir a maioria das fotografias principalmente de anúncios dos meus clientes. Numa destas viagens, entre outros compromissos haveria uma seqüência de fotografias em estúdio para um catálogo de toalhas de banho. Na reunião de pauta na agência, Guilherme me apresentou sua nova secretária. Uma bela garota que naturalmente faria sucesso como modelo. Uma loura de tirar o fôlego. Comentei que oportunamente gostaria de fazer um teste de fotogenia com ela.

– A propósito, falou, você vai embora amanhã? – Sim, comentei, amanhã é sexta e pretendo viajar a noite.

– Por quê? Indaguei.

– A Carol vai para Porto e você poderia lhe dar uma carona.

– Claro! Geralmente eu preferia viajar com carro alugado e gostava muito dos esportivos SP2. Não tinham muita potência, mas eram bastante confortáveis. A empresa mantinha convênios com hotéis, restaurantes e alugava muitos carros, de forma que sempre me davam carros novos, às vezes com apenas 100 km rodados. A sexta feira foi um dia estafante, pois produzir este tipo de fotografia dava bastante trabalho. Detalhes minuciosos, como evitar um fio solto ou uma ruga no tecido, exigia tempo e truques os mais diversos para garantir a integridade da peça. Paramos quase as 19 h, encerrei a conta do hotel, jantamos e depois fui buscar a minha passageira. Caroline ou Carol, a secretária do Guilherme morava no bairro da velha a uns 2 km do centro. Já eram quase 22,00 h e resolvi por o pé na estrada. Ela estava simplesmente deslumbrante, com um vestido azul claro que lhe favorecia os contornos e deixavam antever, belas e bem torneadas pernas. Um pedaço de mulher, sem dúvida. Comentei que gostaria de fotografá-la e combinamos que me telefonaria segunda feira para combinarmos os detalhes. Sempre carregava algumas fitas k7 com músicas, principalmente orquestradas. Gostava de viajar ouvindo música e o toca-fitas ligado mantinha o clima a bordo. Ela fazia muitas perguntas, sobre a profissão, sobre modelos e se poderia realmente seguir uma carreira. Ponderei que dependeria de seu talento e que me parecia com qualidades para tanto. Um teste de fotogenia era sempre necessário e decisivo. Seguíamos a viagem em animado papo embora eu não fosse muito de conversa quando estava dirigindo. Não sei que horas eram, mas, estávamos próximos a Criciúma, quando os acordes de La cumparcita soaram, claros e convidativos.

– Você dança tango?

– Sim, gosto de tangos e la cumparcita é um clássico.

– Vamos dançar? O que você acha? A pergunta me tomou de surpresa e a oportunidade de tomá-la nos braços e dançar logicamente deixou excitado. O tango é uma dança cheia de sensualidade e excitação. Reduzi a marcha, procurando um espaço no acostamento, estacionei e começamos a dançar. Ela me surpreendeu ao dançar com leveza e desenvoltura, o que para uma garota de origem germânica era incomum tratando-se de um tango. Os carros passavam e naturalmente buzinavam. Alguns até reduziam a marcha diante da inusitada cena. A essas alturas, já estávamos envolvidos em carícias e beijos que anunciavam que a viagem iria sem dúvida sofrer um radical atraso.Em Criciúma havia um motel com piscina térmica no quarto, uma novidade que ela não conhecia, mas que me confidenciou querer conhecer. Naturalmente fiz a vontade da moça e assim rumamos para o motel. Foi a partir dali, uma noite inesquecível e passamos o resto da madrugada envoltos por uma intensa onda de prazer que durou até que nossas forças exigissem uma pausa.

Acordamos por volta de meio dia e recuperamos as energias com uma deliciosa dose de camarão, regado a bom vinho. Só chegamos a Porto Alegre a noite, depois naturalmente de um segundo tempo inesquecível. Os testes fotográficos revelaram uma fotogenia acima da média. A garota era simplesmente linda e possuía aquele dom natural de seduzir o observador com expressões faciais envolventes. Liguei para o Guilherme informando que ele perdera a secretária e que eu acabara de conquistar uma top model para o meu catálogo. Na ocasião, a Fenit em São Paulo estava prestes a ser inaugurada. Uma feira de moda da qual participavam várias indústrias de Santa Catarina e Blumenau contava com empresas expressivas no setor. A feira seria inaugurada naquela semana, no domingo. Terça feira a tardinha recebi uma ligação do Alfred, gerente de marketing de um de nossos principais clientes. Uma das maiores malharias da América Latina. Queriam uma série de painéis fotográficos para decorar o stand da cia. Imediatamente chamei para uma reunião o pessoal de produção e pus todo mundo pra correr. O tempo para a produção era quase impraticável, 60 painéis para uma feira que iria começar dali a 4 dias. A produção de campo conseguiu uma residência de um diretor de um grande clube de futebol, com um imenso ambiente decorado com motivos medievais e uma piscina clássica, espaçosa e decorada com detalhes em pedra natural.. Foi uma das maiores correrias de que participei e consegui que a Kodak trabalhasse quinta a noite para produzir as ampliações. Na sexta, montamos os painéis e viajei para Blumenau na madrugada de sexta para sábado com uma Caravan lotada de painéis. Sábado pela manhã, uma camioneta esperava no pátio da fábrica para levar o material ao aeroporto. Segundo Alfred, a feira no domingo estava sendo inaugurada e eles estavam prendendo os painéis. Terminada a feira, viajei a Blumenau, para algumas reuniões de rotina e desta vez a Carol viajava a meu lado. Pretendia apresenta-la na cia. pois os painéis haviam sido um sucesso. Fomos recebidos pelo diretor Presidente da empresa e tive a surpresa de ver que um painel onde a Carol aparecia na escada da piscina com uma tanga minúscula estava pendurado na parede a suas costas. Enquanto conversávamos, sorrateiramente um dos diretores, roubou o painel e saiu porta a fora. O diretor presidente reclamou que o cara não deixava o painel parar ali. Pedi para usar o telefone e liguei para o meu produtor em Porto alegre.

- Faça uma cópia do painel da Carol na piscina e mande urgente para cá. Ao que o presidente agradeceu entusiasmado e elogiou muito as fotos da Carol.

No dia seguinte viajávamos de volta para Porto Alegre em outro SP2 alugado e quando nos aproximávamos de criciúma novamente. Ela achou a fita com os tangos e falou, - Vamos dançar de novo? E depois vamos para aquele motel com a piscina no quarto. Afinal, ainda é sedo. Você topa? Claro! Não lembrava de nossa pista de dança anterior, mas achei um local bastante espaçoso. Lá estávamos novamente dançando tango a beira da estrada e a envolvia em movimentos sensuais. Para minha surpresa, um carro aproximou-se e parou depois manobrou e estacionou junto ao meu. Era um casal de argentinos que obviamente achou a idéia inusitada, mas, aderiu e começou a dançar conosco. Ao final o argentino falou, - Ustedes dançan mui bien el tango, pero quiero ver se dançan tan bien una milonga. Ele tinha uma fita e rolou a milonga. Fomos aplaudidos pelo casal e ao final fomos todos jantar em um restaurante perto dali. Uma confraternização com los hermanos que comentavam a nossa ousadia em simplesmente dançar em uma das estradas mais movimentadas, principalmente no verão. A carol estava eufórica com as possibilidades da nova profissão e garantia que a secretária do Guilherme estava definitivamente aposentada. Resolvi então tirar uma folga e liguei para o estúdio informando que só retornaria domingo a noite. Rumamos para

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 13/04/2010
Código do texto: T2194165
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