o observador

O OBSERVADOR

CONTO DE:

Wagner Criso

- I nício de noite cinzenta quente é depressivamente sufocante, do mês de outubro de um ano ligeiro qualquer.

A claridade que entra pela janela semi-aberta, não ilumina por completo o quarto de solteiro solitário.

A flâmula do time do coração ferido, permanece imóvel e fria.

Preto e branco, duas cores que se misturam, se completam e combinam.

O “Galo” das Alterosas”, o sinonimo da paixão avassaladora.

Mas o Observador não se emociona mais. Nada mais o importa.

Enormes e doloridas feridas abertas obstruiem a garganta faminta.

O gosto amargo do cigarro necessário arde como nunca ardeu.

O coração visionário bate descompassado, acelerado e doído.

Mas o Observador não se rende. Nem jamais se renderá ao inimigo oculto e traiçoeiro.

O corpo semi-coberto, é sacolejado constantemente pela febre alta covarde.

A mão trêmula segura mais um cigarro vicioso aceso.

Uma brasa amarela, fétida e azeda que faz doer.

Frases belas não mais consegue criar.

O Observador permanece deitado, de barriga vazia e pensamentos distantes.

Segura com a outra mão trêmula uma caneta esferográfica visionária, verdadeira, corajosa e destemida.

Sobre a barriga que ronca faminta, um caderno de folhas brancas. Pautadas e virgens.

Observa sem perceber a fumaça encardida e fétida, exalada pelo cigarro covarde.

Fumaça que parece bailar sensual, subindo rapido até alcançar o nada e se desintregar por completo.

O suor gelado e febril escorre pela face desamparada e rude. Enrijecida pela imensa e inesplicável diferença de tratamento.

Mas a vontade de prosseguir preenche o coração solitário de esperança tamanha.

O Observador acredita confiante no fim da supremacia do inimigo oculto e traiçoeiro.

Não se rende nem jamais se renderá ao adversário perverso.

Mesmo desgraçadamente solitário, enfermo e decadente, se sente como uma explosão de luz.

E o indecifrável Observador permanece deitado, suando rios de suor gelado e escrevendo com a mão magrela e trêmula.

O que se vê na verdade é o em que não se pode acreditar.

É a diferença entre o bem e o mau. Entre o benigno e o maligno. Entre a atenção e o desprezo.

Mas o silêncio é o soberano. O tempo é o encarregado de se fazer a justiça pleiteada. E a razão visionária é a espada ensanguentada da vitória certa.

A luz incandescente sinistra, revela em penumbra a sombra da mão magrela e trêmula do Observador.

Mão que empunha firme a caneta esferográfica companheira., que mesmo trêmula agride com firmeza a base branca de celulose do caderno pautado.

O gosto amargo da nicotina necessária, ainda pode se sentir na saliva fétida.

Ainda dilacera as enormes feridas vilãs que obstruem a garganta faminta.

O Observador tenta em ultimo movimento deter a caneta bailarina. Mas ela já não o obedece mais. E mesmo contra a vontade obstinada do Observador em tentar detê-la, continua incansávelmente, contrariamente e teimosamente eternizando palavras que formam frases completas.

Rabiscando sem rumo, cortando ferozmente a base branca e pautada de celulose que lhe sustenta.

Uma após a outra, as frases vão nascendo. De acordo com as diferentes sementes que foram plantadas no solo rochoso do coração do Observador.

Nem a febre alta castigante, nem o gosto amargo do cigarro covarde que contamina a saliva amarga, nem a solidão destrutiva e enlouquecedora,

São páreos para para a determinada caneta esferográfica.

A certeza de ser o criador das letras, palavras e frases que se eternizam o Observador também não tem.

E o Observador não sente o próprio corpo persente. Não consegue se livrar do fardo pesado, que como em um cavalo lhe foi amarrado sobre os ombros cansados e feridos.

Mas o Observador espera confiante por uma boa notícia. Acredita que mesmo solitário não está sozinho. E que a felicidade, mesmo que morta, é uma porta que pode voltar a se abrir.

A caneta esferográfica é como uma espada afiada, inquebrável e fatal.

É como uma arma-de-fogo de grosso calibre carregada, apontada em direção...