As Primeiras Aventuras de Maica Peta

Capítulo 1 – Barriga de aluguel

— “Maica Peta” — Esse será o nome dele, Josana! — Exclamou Alfredo Ducelma, o pai excitado.

— Mas, que diabos de nome é esse…? — Gritou Josana Jozadds.

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Vivia uma família quase normal na cidade não oficial de Tilambuco, uma pequena aldeia no Mato Grosso do Sul com 45 habitantes, poucas ruas, todas não pavimentadas, um hospício, um hospital, uma padaria, um cabeleireiro, duas barracas de cachorro-quente e uma lojinha de artigos sexuais.

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Josana não queria ter engravidado. E não engravidou… Era homem, mas, Alfredo não sabia, era parcialmente cego. A troco de tanta insistência fingiu ter sido contemplada pela semente do amor, e simulou uma barriga falsa com jornais “A manhã”, “O Estado Lastimável”, “Correio Tilambuquense” amassados, todos debaixo de seu inconfundível macacão rosa, aos nove meses da falsa gravidez jogou-se no chão com muita força. Babou, espumou pela boca, rodopiou ao chão, tacou fogo na roupa, gritava e gemia como uma porca no cio. Gritava com muita força, simulava contrações do parto, de forma um pouco exagerada… Alfredo dormia na rede e nada percebeu, mesmo aos gritou que deviam chamar sua atenção para reforçar a farsa de Josana. O vizinho, seu Tilápia, pegou-a pelos braços com força, jogou-a no trator e correu para o hospício.

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Aquela mulher não era ignorante, havia se juntado ao rico proprietário Alfredo há pouco tempo, este, por sua vez, estava à beira da morte, com câncer de próstata, não fez de nenhum modo o exame do toque “anti-dignidade”, morreria homem, ainda mais com a insegurança que tinha. Sabendo que sua morte se aproximava tratou de fazer um testamento e nele deixava seus bens para a pequena igreja local. Deixaria para a prefeitura, mas, em função das denúncias contra o prefeito, decidiu deixar à igreja ou a um filho se até sua morte conseguisse ter um, contou a todos, e chegou aos ouvidos de Josana, uma migrante do Acre que acabara de chegar à cidade em busca de pedras preciosas. Esta praticava em Rio Branco estelionato e em fuga partiu para Tilambuco, mudando também de ramo. Sabendo do testamento tratou de aproximar-se do velho Alfredo, 97 anos de puro mal gosto, quase cego, mal conseguia ficar em pé, mas, ainda acreditava na possibilidade de engravidar uma mulher, assim, aceitou hospedar Josana, 27 anos, em sua casa, e assim tiveram um caso.

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Duas enfermeiras com um bigode maior que o de Josana a pegaram pelo braço com força, enquanto seu Tilápia preenchia alguns documentos, pagou a “consulta” de Josana com tomates e pepinos colhidos no dia. Dava adeus acenando com o braço para Josana e lhe gritava desejando felicidades, dizendo que estava ela em boas mãos. — Mãos peludas! — Gritou Josana enquanto era amarrada a uma maca e empurrada até o fim do corredor, após ser vestida com uma espécie de jaleco branco com bolsos com as nádegas à mostra.

Josana notou algo muito estranho, não imaginava estar num hospício até encontrar sujeitos com duas cabeças babando no assoalho, com facilidade soltou-se das cordas mal amarradas e foi ao encontro do sujeito que aparentava ser o doutor, pode conferir em seu crachá, apesar do mesmo estar sem camisa: “Doutor Tura de Mafaghafu”, com óculos imensos e um bigode que mais parecia uma salsicha preta, fitou-a com espanto e lhe indagou a respeito da barriga deformada.

— Foi a cerveja. — Respondeu Josana.

— Sei como é, aconteceu com meu velho, mas, já descansa na terra do pé sujo.

— Na verdade estava fingindo gravidez, usei alguns jornais debaixo do macacão…

— Sério? De que dia é o jornal?

— É de ontem…

— Não me diga que é o Correio Tilambuquense?

— É sim.

— Passa pra cá, quero ver as notícias.

Josana entregou os jornais amassados, e Doutor Tura ajeitando os óculos organizou os jornais página a página e os lia entretido.

— Prefeito maldito! Desviou a verba novamente!

Josana resolveu abandonar o doutor, sabia que não obteria muito êxito, começava a planejar a fuga, e sabia que no hospício não poderia roubar um bebê, precisava bolar um plano para sair daquele lugar, as enfermeiras-seguranças era maior que touros mansos, começou a circular pelos corredores quando deparou-se com uma das tais enfermeiras.

— É hora do remédio…

— Que remédio?

— As pastilhas!

— Que diabos de pastilha?

— Cala a boca e toma logo isso!

O hospício ficava entre a rota do tráfico do Mato Grosso do Sul, e em troca do silêncio, o ecstasy, as “pastilhas do amor” eram deixadas propositalmente à porta do consultório do Doutor todas as sextas-feira, servia para deixar os pacientes sob controle.

Josana pôs à boca os comprimidos, a enfermeira já ciente do velho truque de esconder as pastilhas sob a língua, abriu a boca de Josana com um alicate e tratou de averiguar, convencendo-se que ela realmente o havia engolido. Saiu apontando para Josana encostada na parede — Estou de olho em você, piranha —Bradou a segurança enquanto sua vítima se virava para o bebedouro e cuspia as pastilhas no recipiente molhado, como não desceu ao pequeno ralo, escondeu-as no bolso. Havia utilizado um truque diferente, como não tinha alguns molares escondeu as pastilhas no buraco da gengiva e fincou-as com a língua.

Capítulo 2 – O filho não concebido

Josana caminhava de fininho em direção à sala diretora quando notou um pequeno garoto, só, dormindo sobre algumas palhas, numa calha de alimentar cavalos, dentro de uma sala aparentemente grande, aparentava ser normal e ter pouco mais de alguns meses, aproximou-se da enfermeira de baixa estatura que guardava o local e indagou-a sobre a criança.

— Que lindinho, não? Qual o problema dele?

— É louco!

— Como pode ser louco com tampouca idade?

— Está sedado, se o visse em ação duvidaria da não-existência de Satanás.

Josana não acreditara na enfermeira, e tratou de bolar um plano para fugir dali com o garoto em direção à casa de Alfredo. Saiu da sala, deu voltas em torno dela e quando a enfermeira, aparentando estar apertada foi ao banheiro, a aventureira maligna adentrou a sala, retirou o bebê e com um isqueiro deixado pela enfermeira ao fogão, tacou fogo nas palhas e uma gritaria começou enquanto Josana fugia.

—Vamos morrer queimados! Fogo! Fogo!

O caos tomou conta do lugar e o alarme de incêndio foi acionado! A enfermeira gritava tentando acalmar os ânimos dos loucos. —É apenas fogo de palha.

Doutor Tura reuniu as enfermeiras-segurança ao dar-se conta do sumiço do garoto e de Josana.

— Ela não pode estar muito longe, tragam os pedaços dela de volta, e tragam o garoto, se ele acordar é provável que o Apocalipse ocorra ainda hoje.