Abraços... (II Parte)

O vento volta, mais gelado ainda. Não sei bem como, mas de alguma forma aquela visita me havia feito mal... Eu piorara em minha depressão.

E o pedido de desculpas dele ecoava em minha mente... Eu não sabia bem quem eu amava, mas eu sabia que não era aquele que estava a minha frente, mas sim um outro, qualquer outro, ou talvez aquele que eu gostaria que existisse. Meu pequeno sonho...

E eu também não sabia se eu realmente havia apagado toda a mágoa, ou se tinha mágoa de mim mesma... "Por que não deu certo? Como eu pude ser tão tola? Como eu pude me iludir tanto?... Por que ele tinha que voltar logo hoje? Por que ele demorou tanto para voltar?..." Eu queria chorar, desabafar, e queria sorrir depois que ele voltasse a ser aquela ilusão, tudo aquilo que eu nunca cheguei a ter. Eu queria abraçá-lo, queria ser abraçada e consolada por aquele que me fez sofrer tanto, que me fez chorar tanto, que me fez quase enlouquecer, e amar além do que eu pensei que suportaria... Eu queria receber um carinho simples daquele homem que me negou isso quando eu mais precisei dele...

Mas ao mesmo tempo eu era indiferente a qualquer um de meus gritos solitários. Não adiantaria insistir naquilo. E eu também era indiferente à ele, ao que ele se tornou. Mas eu amava o que um dia - se é que existiu esse dia - nós tínhamos sido.

Ele falava comigo, mas eu mal prestava atenção. Eu queria saber o que EU faria depois que ele fosse embora. Se eu iria chorar, se iria segurá-lo por mais algum tempo, se iria respirar fundo, ou ficar aliviada... Eu queria que algo acontecesse.

Mas nada acontecia. E ele ainda me perguntou sobre coisas que haviam me deixado tão triste, e coisas recentes:

- Eu percebi - ele diz isso com um tom curioso - que tu acabou com teu namorado... Algo aconteceu? Quer conversar?... - "e ele ainda me pergunta isso! Mas como ele pode? Será que não percebe que eu me tornei tudo isso por culpa dele?..." por um momento eu fico irritada, mas breve de mais para expressar:

-Nada de mais... Acho que eu não tenho muito que falar sobre isso...

-É que de repente vocês pararam de se falar... Foi tão estranho... Por acaso não foi o mesmo caso que... o nosso?

-Qual caso? - eu realmente não tinha entendido o que ele quis dizer.

-Qual dos dois "desapareceu", ou... "sumiu do mapa"?

-Ah... Fui eu... Mas eu fiz o certo, acho.

-Algum motivo em especial? Ele fez o mesmo que... - e eu senti que ele havia engolido seco, talvez por não querer admitir, mas ele continuou - ... que eu?

-Não... - eu minto. - Ele foi muito superficial o tempo todo, e eu não queria mais isso... Eu não sei bem como explicar... - e isso eu sabia que era verdade.

-Nem precisa. - Ele consola. "Como se isso fosse adiantar alguma coisa".

E eu dou voltas, fujo do assunto, e as horas passam. Os assuntos cotidianos voltam, o sorriso, as brincadeiras... Mas no fundo o que eu mais queria era chorar, era lamentar profundamente por tudo o que eu deixei acontecer, e o que eu não deixei. Por tudo o que eu deixei que se fosse, e tudo o que eu não pude evitar. E ainda pelo que eu podia fazer e não fiz... Mas poderia ter dado certo? ... Eu só queria um abraço dele... De alguma forma eu precisava desabafar tudo o que eu ensaiei dizer... "Então por que não sai?"

Mas eu não precisei perguntar nada.

Ele já tinha me respondido tudo.

Não com palavras, frases diretas... Mas com gestos. Ele não precisava dizer nada, nem eu precisava ouvir... Eu já sabia. Ele percebeu por um momento que eu não estava bem, que eu queria ir embora, que eu estava ansiosa... E ficamos quietos por um tempo. Eu sempre desviava de seus olhos, pois eu sabia que se eu os olhasse, poderia explodir... E então eu vi que só fugi desse momento por todos esses anos...

"Mas ele não precisa dizer nada, nem eu... A gente já se conhece tão bem que não precisamos de nada disso... E também porque já se passou muito tempo para fazer qualquer coisa, e tudo o que eu quis que acontecesse agora está acabado. Eu noto isso quando olho para ele...”.

Eu vejo o vento soprando... As árvores se balançando com ele... Eu estava tentando fugir desses pensamentos, não querendo aceitar, mas eu sabia as respostas... E eu não conseguia perguntá-las, nem para ouvir uma consolação, uma confirmação, ou talvez uma conformação...

E ainda assim ele diz:

-Às vezes, quando estou sozinho... Paro para ler o que tu escrevia enquanto estávamos juntos... E o que tu escreveu quando nos separamos... Era mesmo verdade tudo aquilo?

Bem, o que eu poderia dizer? Isso era o que EU tinha que perguntar... O que eu PRECISAVA perguntar... E não tive coragem.

-Aham. - e procuro nem olhar para ele. Porém eu sentia o seu olhar sobre mim. - era verdade sim, mas era eu quem deveria te perguntar isso...

-Como assim?- e franze a testa. Eu fico um tanto irritada... "Mas ele ainda pergunta?"

-Tudo o que nós passamos. E por que tu veio só agora com isso... Logo agora.

Mas ele não responde, e eu me desespero... Achei que ele soubesse as resposta, mas agora eu vi que ele não as tinha, e como eu poderia entender?

-Fui covarde... Já te disse tudo isso uma vez. - ele responde, um tanto impaciente.

-Mas não assim...

-Assim como?

-Assim como estamos agora. Olho no olho, cara a cara...

-Assim não...

Eu queria fugir dali, mas precisava continuar:

-Eu tinha tanto pra te perguntar... E agora tudo se perdeu. Eu perdi todas as perguntas... Mas o vazio continua. Talvez tu vá querer fugir de novo dessa conversa, como tantas vezes tu fez, como eu sei que tu tem vontade de fazer agora. Bem, a decisão é tua.

-Não dessa vez.

"Ainda bem, pelo menos ele não disse que queria ir embora...”.

-Eu já disse que não tenho mágoa alguma de ti. Mas de alguma forma tu resolve voltar e isso mexe comigo. O que eu posso fazer? Eu demorei tanto para enterrar isso e agora é só cavar um pouquinho que tudo volta?

Mas ele não me responde. Eu sabia que ele não tinha nada para me dizer. Mas continuei assim mesmo:

-O jeito como eu me senti tu nunca vai saber... E nem quero que tu saiba. Mas de repente eu te vejo, e não sinto nada, mas me sinto inútil aqui. Eu me sinto indiferente, mas me sinto mal com isso. Tu não tem culpa pelo que eu sinto agora, mas pelo que tu fez eu me sentir antes, sim. E o que eu senti não tem como mudar. E talvez nem o de agora. - E eu disse isso com um pesar profundo, mesmo não sabendo se era verdade.

-Eu sei disso tudo. - Ele responde, finalmente. - Mas eu não tinha o que fazer.

-E nem agora...

"Mas por quê?", eu me perguntava. "Por que a gente não se abraça? Por que eu não consigo nem chorar, embora eu esteja com tanta tristeza? Por que eu não posso voltar no tempo?"...

Eu só queria que ele me abraçasse! Eu me sentia tão mal, tão afundada nesses assuntos não resolvidos, tão só... E agora tão desprotegida. E ele ali ao meu lado, implacável. E eu feito pedra, como uma estátua... Fria por fora, mas me sentia morrendo por dentro...

"Por que eu tenho que carregar esse peso?...”.

(continua...)