Abraços... (Parte I)

Fazia-se três anos que não nos víamos. Ele havia mudado bastante a primeira vista, só não consegui identificar o que, exatamente. Mas eu sentia que algo iria em breve me mostrar o contrário.

E foi assim que aconteceu; não nos vimos nem uma vez nesse tempo que estivemos distantes um do outro, e de repente ele resolve voltar... Não do jeito que eu tanto esperei em outros tempos, mas como simples amigos, para nos vermos sob um pretexto qualquer.

Ora, pois eu pensei que nada aconteceria, apesar de estar acordada desde as cinco horas da manhã esperando por esse encontro, apesar de mal dormir de noite...

Fazia frio, e estava nublado... "E poderia ser de outro jeito?" Não... Acho que não.

Eu pensei que ele fosse apenas entregar os livros e ir embora, mas ele ficou. Conversamos por um bom tempo, e resolvemos sair para caminhar pelos parques ao redor. Nem acreditei que era ele quem estava ao meu lado, conversando à toa, como os bons amigos que nunca fomos.

E ventava forte, meu cabelo esvoaçava, assim como o dele, e o frio me impedia de raciocinar... Estava tudo tão nostálgico... O dia, nublado; o tempo, frio... E nós? Como estranhos que se conheciam há tempos...

Não precisei de muito tempo para perceber que não haviamos mudado... Sim, continuávamos iguais. As mesmas manias, jeitos, sorrisos... Até as palavras que usávamos eram iguais, em um mesmo tempo. Conversávamos tanto, tantas risadas... Mas então o assunto se vai, e tudo se cala para ouvir a voz do vento...

De repente aquela música em minha abeça... A NOSSA música, que há tanto não tocava mais nas rádios, e que não tocava mais em meu coração... "Por que tocaria agora?" ... Eu não ouvi a resposta.

-Vamos nos sentar ali? - ele convida. Eu aceito com um sorriso e andamos até lá.

Silêncio... "Por que logo hoje?" As palavras fugiam do meu alcance.

-Quanto tempo não te via... - foi tudo o que pude dizer de início, e ele concorda com a cabeça enquanto olha para o lugar, meio distante:

-E aqui está tudo igual... Incrível, não mudou quase nada o nosso lugar... - e respira fundo, enquanto ambos olham para o chão

-Concordo... Mas às vezes penso que não costuma ser como era antes... Não sei quem foi que mudou, eu, ou isso - digo enquanto aponto para o parque. Ele sorri e me diz que podem ser os dois, ou que provavelmente eu. Concordo sem vontade de prosseguir com aquela conversa. O nervosismo havia voltado, a ansiedade, a nostalgia, a melancolia... "Por que ele resolveu voltar justo agora que eu estou tão frágil, tão perdida? Será que ele não podia escolher outro dia qualquer, outro mês, quem sabe outro ano? Qualquer um que eu estivesse mais confiante, dona de mim mesma, mais segura e superior..." Mas eu não precisei procurar muito para achar a resposta.

E quase como um sussurro, ele me diz?

-Sinto muito se eu te fiz algum mal antes... - e espera por uma resposta... "Mas o que eu posso dizer? Nem sorrir, nem chorar, nem ficar braba, eu nada sinto por ele..." Respondi, meio sem saber o quê, com um sorriso torto e vazio. As palavras fugiram, o vento se fora, tudo aguardando respeitosamente pela minha resposta... E eu nem se quer o odiava! Não sentia nem amor, nem odio, rancor ou mágoa.

-O que eu posso te dizer...? Acho que passou muito tempo pra essa conversa. A raiva e o resto se foi... - era tudo o que consegui pronunciar, e tão baixo que parecia ser dito para mim.

-Eu entendo...- e ele dizia a verdade, eu pude ver em seus olhos - mas... - e enquanto eu respirava fundo ele olhou direto nos meus olhos e completou - Na verdade eu vim para ter certeza que não tinhas guardado nenhuma mágoa de mim...

-E achou tua resposta? - eu pergunto, mas indagando praticamente para mim mesma... Nem mesmo eu sabia.

-Acho que sim...

(continua...)