Quarteto

* Trouxe-me flores. Disto espero jamais esquecer.

+ Certas coisas não se esquecem, pelo efeito ímpar.

§ Era tudo o que eu queria, dizer como na música: “E eu dizia o seu nome, não me abandone jamais”

^ Nada disse porém, calei tudo, e no início esse ato pareceu-me inofensivo.

* E foi a coisa mais marcante que já me ocorreu. Ninguém jamais havia feito isso antes comigo.

+ Foi como se eu estivesse num sonho.

§ E ao final, dei por mim que aquilo não era ilusão. Era real, eu estava de fato naquele local.

^ Guardei aquele segredo comigo, como quem põe roupas caras, novas, numa mala que será para sempre extraviada.

* Foi uma sensação sem igual. E assim, simples, com este gesto, empenhei meu coração, e flutuei.

+ E esse sentimento jamais se repetiu, até agora, momento em que relato estas coisas.

§ Poderia ter deixado tudo acabar bem ali. Como posso ter sido tão idiota? Será que jamais aprenderei? Gostaria de apagar tudo da memória.

^ Vivi até aqui sem lembrar nada disso. Agora, que você voltou, que está aqui, na minha frente, tudo retornou, e com uma força tamanha que não dá pra controlar, desculpe-me.

* Recordo como tudo aconteceu.

+ Isto, estranhamente, causa-me enorme inquietação. Sei lá, medo talvez...

§ Uma coisa, porém, é bom que eu jamais esqueça: aquela sensação no estômago... Há algo que necessito fazer:

^ Sim, vamos parar por aqui.

* Difícil foi deixar tudo para trás.

+ Queria parar essas lembranças...

§ Recomeçar! Sim, ouvi dizer que em outra cidade estão precisando de alguém para trabalhar. Mudar de clima, perspectiva... Talvez seja o ideal!

^ Parar e recomeçar um novo ato. Por que não? A vida é um eterno recomeçar... Vem comigo?

* Sim, isto foi o que decidi. E você?

+ Por favor, não me peça para continuar...

§ Decido então: mudança!

^ Sim?

* Então, nada tem a me dizer?

+ Sim? Não? Talvez, que também é uma resposta válida.

§ Pouco importa? Faça o que quiser fazer. Aliás, é o que sempre se faz...

^ Esta é sua decisão? Respeito... Olhe, falei das flores. Delas é que jamais esquecerei. Eram girassóis. Também de voltas, dessas que damos, quando não se consegue ou não se quer dizer o óbvio.

“Mais fácil aprender japonês em braile

Do que você decidir se dá ou não”

Trecho de SE, Djavan.

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Revisado em 15.04.2015