TEMPORADA NO INFERNO

Não fui convidado para a festa, mas como sou petulante, pedi para entrar. Voluntariamente.

O anfitrião era o próprio diabo, que me recebeu com sorrisos na entrada.

- Seja bem-vindo! Ele me disse a sorrir.

- Aqui serás feliz!

- Possuo muitos planos para você.

Mas eu estava entrando no inferno sem perceber. Não sabia que era o diabo que estava comandando aquela festa.

Ele me apresentou o recinto no qual eu passaria um bom tempo de minha vida. Recinto esse aparentemente inocente, cândido.

Mas foi eu sentar na cadeira e apoiar os braços na mesa, que me foram reservadas pelo próprio capeta, e as comportas se abriram.

E num turbilhão extremamente barulhento, começaram a surgir anjos decaídos de todos os lados, demônios grandes e pequenos, capetas, capetinhas e capetões, diabos de todas as cores, quase todos com as mais variadas nuances do mais fétido enxofre.

O barulho do turbilhão era algo assim indescritível, pois angustiava, aterrorizava. Toda a legião de demônios queria falar comigo ao mesmo tempo.

Chamavam-me de um lado uma diaba que queria solução para um problema particular.

Do outro, um capetão vociferava em tom gutural que naquele inferno havia direitos iguais e que ele estava exigindo o seu quinhão nesses direitos.

Soavam gongos infernais o tempo todo. Todos ao mesmo tempo, uns 8 ou 9.

Havia os capangas do próprio diabo que supervisionavam nosso atendimento a toda aquela bagunça infernal.

Eu fui ficando angustiado com toda aquela confusão, todo aquele tempo de sofrimento, em meio às chamas em alta temperatura, quando percebi que estava bem no meio do inferno!

Arrepiei-me e tive reiterados calafrios.

Perguntei ao chefe dos diabos:

- Ei, quanto tempo nós vamos ficar aqui?

- Quanto tempo? Respondeu ele com uma gargalhada. Aqui todos ficam por toda a eternidade! Rarararararara!!!!!

E ria-se muito o chefe dos diabos, ria sem parar. Rarararararara!!!!!!

Não pode ser, pensei comigo.

Deve haver algum jeito de escapar daqui.

Afinal, a eternidade é muito tempo.

Não tenho uma disposição tão grande para tão grande tarefa.

Então, perguntei a um colega de inferno como eu poderia sair dali.

Ele respondeu:

- Faça alguma coisa boa. Diga alguma coisa cheia de amor que o diabo te mandará embora daqui rapidinho.

Então ouvi o som agudo de um gongo. O gongo soava cada vez mais forte cada vez mais forte. De repende, olhei ao meu lado e era o meu telefone a tocar na repartição.

Olhei para o relógio, 16h59.

Finalmente, hora de ir embora!

Que sonho doido!

Fiquei pensando muito em meu sonho e achei o inferno muito semelhante a um dia agitado de trabalho hoje nas metrópoles no século XXI.

Talvez a única diferença esteja no tempo de permanência em cada um desses dois mundos que em tudo se assemelham.

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 03/02/2010
Reeditado em 03/02/2010
Código do texto: T2066234
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