O homem de gelo

Manhã gelada

Já amanhecia, o sol apontava matizado pela brancura ofuscante do gelo, a mente divagava acerca da experiência nova. Era uma luz muito intensa que se faz sentir no corpo nos olhos e na pele mesmo sem o calor ausente. Por um capricho da natureza a luz refletia na montanha de gelo e conduzida pelos cristais era uma luz fria como o vento. As sombras eram uma previsão de algo morno algo como a espessa seqüência de casacos cobrindo seu corpo. Aquele lugar mágico estava sitiado por um imperceptível ar de serenidade e leveza como que mágica sem até antes o toque da corrupção humana, era assim a milênios, era um mundo com um ritmo próprio independente do aprisionamento que é a mente humana onde sem tardar é catalogado significados e valores destrutivos a real e pura imagem. Não ousava falar; sabia que acabaria proferindo incongruências, não tinha a quem dizer nada, tudo o que ousasse seria insano, ora falar com o gelo, o ar ou o panorama? Guardava tudo em pensamento até que os olhos esquecessem e as pernas o transportasse à outro mundo particular ao holismo tão prepotente que conhece todos os domínios em falsa essência.Não pode existir uma lei geral,até o sol perdeu seu poder de aquecer convergido em pura luz.A memória é cheia de surpresas, após passos em contemplação em divagações longínquas, no lugar onde o sol se oculta, percebe haver esquecido um ponto, mais precisamente ou menos se for levado em conta a nitidez; um vulto em meio a brancura. Vira-se lentamente interrompendo o passo aproveitando a energia do ultimo movimento agora conduzido em direção oposta. Estaca surpreso em reconhecer figura humana brotada da neve inóspita. Era um corpo gasto uma figura serena petrificada com seu olhar mortiço, cinzas de um calor já apagado, fixava com ar outrora contemplativo, uma poça cristalina, congelada, já coberta pela neve, “não estava devidamente agasalhado, por isso morrera”. Diz consigo após verificar também na falta de suprimentos o desejo suicida de um monge em resignada determinação da não mover-se em meditação profunda e inútil. Porque não o fizera quando jovem então? Tal velhice e tal morte é o reflexo da juventude parada em si mesma. Na busca de se sobressair à efêmera vida, todos sabem, não se pode ser imortal , um fato como todos mas que tende a acreditar-se superior: "infame reduza-se à sua condição, pois é mera conseqüência, renda-se fatidicamente e viva dois segundos sem sentir saudades do que nunca foi e nunca será”. A fúria surge mesmo em meio ao cansaço anestesiada pelo frio. Em pura manifestação de cólera sua perna desfere um golpe na cabeça pesada que vibrando o tronco derruba um despojo de pequenos cristais osmóticos brotados da pele seca; frutos de uma imposta primavera enfurecida e humana, não conseguiu porem tombar o oponente em desvantagem mortal. Em perseverança forçada com o acúmulo das forças que não dispunha mais, se joga cruzando os braços, e assim com o esforço de todo o corpo consegue derrubar a imagem decrépita. Levanta-se com esforço e antes de seguir adiante, cospe no rosto impassível , sem ao menos se entregar ao estupor de um gesto mais intenso que uma falsa reflexão a priori. Se a verdade é sempre uma farsa provisória, mentiremos antes ou depois, nunca na realização única e possível de potencialidades, o ato é verdadeiro e sempre puro em sua completude impassível, completo, nada escapa à ação, já o pensamento é falho e os significados vazios. Maximilius relembra tudo como se houvesse ocorrido a muito tempo, hora passara-se apenas uma estação, quando levanta-se da acolchoada poltrona, fita a pintura pega com descuido a garrafa vazia , aproxima o gargalo da boca, sopra, e sente o aroma quente do suave vapor de uma noite ébria tão inútil quanto a vigília de agora, atormentada pelo passado. Nada o liga à vida; morrera com ela. Sem o prazer de um sepultamento vagava, dando significados à seus atos consumados, antes de ser enterrado.

Por favor, comente,

Realmente preciso saber o nível de mediocridade.

jonnez
Enviado por jonnez em 11/01/2010
Código do texto: T2023726
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