Ela, a empresa e os humanos

De cabelos vermelhos, pele morena e olhos grandes, ela se aproximava com cautela do calor das minhas vistas. Eu apoiava meu corpo numa dessas vigas finas que alimentam a estrutura dos arranha-céus. Ela passou a dois metros de minha sombra, virou a cabeça e fitou-me por dois, três segundos. Seu rosto era delicado. Sua boca adonava lábios carnudos. E então o paraíso se desfez. Ela retomou o trajeto de casa refutando qualquer chance de diálogo. Noutro dia ela estaria novamente bela, afinando as palavras educadas que dirigia a todos naquela empresa. Menos a mim. Mas noutro dia eu não estaria ali para vê-la. Em 24 horas muitas coisas mudam. Pessoas são demitidas. Pessoas são admitidas. Pessoas choram, lamentam... Pessoas sorriem, enaltecem felicidade. Meu mundo não pertencia àquela mulher. Os nossos conceitos não convergiam para nenhum ponto. Tudo que me preenchia era animalesco. Eu a desejava, com todos os meus instintos. Como todos os homens daquela empresa.

Parei no tempo;

Acabei com o desejo, com a paixão e com o amor. Voltei para minha rotina leviana. Sem mulheres, sem sexo, sem música, sem livros, sem cartas, sem prosas, sem nada. Limitei-me a respirar o oxigênio dos humanos. Chorei ao me despir para a morte, sem nuca ter vivido.

Luan Iglesias
Enviado por Luan Iglesias em 20/12/2009
Código do texto: T1988239
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