Par perfeito

Estava pronta para dar o próximo passo. E isso não era fruto de impensados desesperos, mas a conjectura de horas e horas, nas horas mortas das noites insones.

Ele precisava apenas decidir-se, fazer o pedido, desejar torná-la a mulher mais feliz do mundo.

Já havia pensado em tudo, do vestido (maravilhoso de chiffon branco) às lembrancinhas (pastilhas de amêndoas envolvidas em delicada renda branca atadas com discretos fitilhos cor de ouro velho), da lua de mel, das langeries maravilhosas, das malas de couro novas e de griffe.

Papai e mamãe teriam que concordar em gastar um pouco mais, afinal não era todo dia que se casava uma filha como ela! Brigaria se necessário..pois quando era necessário - e sempre era - ela brigava.

Como não sonhar com a nave iluminada, coberta de rosas brancas, ataviada de velas perfumadas e frufrus de tule? Impossível.

Via-se claramente, como num filme, rodeada de amigas, recebendo beijos dos parentes, sendo aplaudida pelos curiosos que cercavam a igreja.

Ele precisava apenas decidir-se, fazer o pedido, desejar torná-la a mulher mais feliz do mundo.

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O telefone tocou tirando-a do devaneio. Era seu par perfeito, desmarcando o compromisso da balada, dizendo que ia acampar com os amigos e que, não, não havia lugar para ela, as barracas já estavam ocupadas.

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Ele precisava apenas decidir-se, fazer o pedido, desejar torná-la a mulher mais feliz do mundo.

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Ligado o celular esperou todo o final de semana, depois toda a semana, até que a dignidade se foi pelo ralo e ela ligou para seu par perfeito, convidando-o para a balada.

Quem sabe hoje? Ele precisava apenas decidir-se, fazer o pedido, desejar torná-la a mulher mais feliz do mundo.