Sangue de Barata
Teve um pesadelo terrível. Sonhou que criaturas gigantes vindas de toda parte corriam a tentar abatê-la, destruí-la, matar toda a sua família, seus amigos...
Acordou finalmente.
Dormira sobre o livro de anatomia. O rapaz sentado à sua frente ressonava. De repente, ele abriu os olhos e a viu, ali na sua frente, examinando cuidadosamente a figura detalhada de um rim.
Espantou-se e soltou um brado: "maldição!"
Correu e ergueu um peso de papel, batendo-o violentamente sobre a mesa, onde ela descansava um segundo atrás.
Ela correu e escondeu-se.
Sob a estante.
"Desgraçada" - falou o rapaz.
Do fundo escuro da estante, a barata jurou-lhe vingança...
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Ela acordou um dia na rua, e percebeu que lhe faltavam algumas patas. Olhou para baixo e viu que lhe restavam quatro membros: dois deles possuiam partes que lhe permitiam segurar e arremessar objetos. Os outros dois membros ela usou para colocar-se de pé. Ainda cambaleando, tocou a nova cabeça: havia cabelos castanhos e ondulados, que lhe caíam pelas costas.
Olhou para baixo, no seu tórax: Havia ali dois globos túmidos e claros. Ela percebeu então, que era agora um ser humano, uma mulher.
Ainda era de madrugada. Ela rumou para a casa do estudante de medicina.
Ela bateu à porta, maravilhada com os novos membros.
O rapaz demorou, mas enfim abriu a porta, sonolento. Levou um minuto para processar a informação: o que aquela linda mulher fazia à soleira de sua porta, àquela hora da madrugada?
Mandou-a entrar.
De pé, perto da mesa, ela aproximou-se do rosto dele e disse-lhe, séria: "Eu só vim retribuir o que você tem feito."
O rapaz sorriu: não sabia do que ela estava falando, mas achava aquela mulher linda. Tentou tocá-la.
Ela pegou o compêndio de anatomia na mesa e nocauteou-o, atingindo-o na têmpora direita.
Então, sem piedade, pegou o peso de papel e acertou em cheio o crânio dele.
Estava morto, e a justiça dessa vez tinha sido feita.
Mas ainda havia muitos a exterminar, até que sua raça vivesse em paz.
Pegou um sobretudo no armário, vestiu-o e saiu pela porta da frente sorrindo.
[FIM]