ANTOLOGIA 
                         CONTO/POESIA/ILUSTRAÇÃO

            
 CONCURSO DE TALENTOS FANTASTICOS

                                         

                 CONTO SELECIONADO PARA A ANTOLOGIA 
                                
TALENTOS FANTASTICOS
 

 Ficou combinado que estaria no primeiro local.              

4ª Parte

      

                O BEIJO DA MORTE

     Ali estava eu dentro do gerador cinquenta metros acima do solo, o chão parecia dançar quando o vento empurrava aquelas gigantescas pás, eu já levava a segurança mais a sério, arrumei as ferramentas, verifiquei que tudo estava em ordem, mas aconteceu quando eu murmurei:

- Estou pronto para partir!

      Senti então a torre abanar e a ser arrancada, senti que ela voava, rodopiava, apenas consegui agarrar-me, “mijei-me” todo. Perdi noção do tempo, quando de repente como se o tempo tivesse parado eu estava noutro lugar, parecida com a aldeia onde o Ângelo morreu, mas as pessoas eram diferentes, pareciam ser do século medieval, via pessoas enforcadas em árvores, os abutres e corvos comendo-os, pessoas a serem decapitadas, queimadas, cheiro nauseabundo, eu caminhava entre cadáveres e alguém empurrava-me, vi-me a entrar dentro de um castelo que mais parecia um matadouro municipal onde o sangue e as vísceras corriam para a valeta e os cães deliciavam-se com aqueles restos mortais. Foi então que chegou a minha vez, fui arrastado pelos ares por dois monstros alados tão feios que nenhum espelho resistiria a tais figuras de repente vi-me prostrado em frente a um trono onde sentado estava um vulto de vestes azuis e cor de fogo, a seu lado dois guardas que não eram nada mais do que dois esqueletos disfarçados em pele de diabos, mandaram-me ajoelhar, não o fiz, senti umas garras em meus ombros que me queimavam a pele, senti aquele formigueiro que tantas vezes já tinha sentido, aquele ar gélido que me deixava paralisado, as lágrimas corriam-me pelas faces e formavam um riacho que levava todo aquele sangue e purificava o ar, e como sempre era observado pela tal mulher que nunca conseguia ver os contornos de seu rosto, e vi quem estava sentado no trono…

     Ninguém estava dentro daquelas vestes, eram vazias como se de alguém esperassem. Paralisado mal conseguia respirar, também estava convencido que já estava morto e que aquilo seria o meu destino. Não precisavam falar pois ouvia-os no meu pensamento, vozes tresloucadas que grunhiam feitos porcos selvagens, talvez próprio de demónios que esperavam a minha sentença e soube-a no momento em que a mulher desceu na minha direcção. Foi então que vi quem era. Era a mesma loira que me foi buscar com aquele sorriso encantador. Dirigiu-se a mim e tentou beijar-me, naquele momento senti-me forte, perdi todo o medo, e no entanto nada sentia, parecia que tinha perdido o meu “eu”, a minha alma, e pela primeira vez ouvi vozes nos meus ouvidos.

- Aquele trono é teu! Meu rei!

     E todos os diabos me veneravam. Eu ainda sentia uns “flashes” na minha memória, o meu coração dizia-me para não entrar naquelas vestes vazias, mas as forças abandonavam-me, sentia que pouco já restava de mim, quando ela debruçou-se… fechei os olhos quando de repente senti um beijo e um brusco puxão. Dei por mim a ser abraçado pela minha esposa, pelos meus filhos que ajoelhados choravam, o ambiente era triste e alegre, havia velas acesas. Um cheiro a enxofre misturado com incenso confundiam-me o meu pensamento, acabei por perder os sentidos.

     Dois dias depois acordei daquele pesadelo e soube que fui beijado pela morte e da morte fui salvo pela força do amor, da fé e da esperança.

Joakim Santos
Portugal / Loures
17 Setembro 2009


Conto Publicado na Editora  ,
lançamento e entrega de prémios no dia 31 de Outubro 2009 no Porto