HISTÓRIAS DA MINHA VIDA - 1
O "SANTO" ME PEGOU
Recentemente me perguntaram quando foi que eu descobri que tinha tomado gosto pela umbanda.
Eu, sinceramente, confesso que nunca paro para ficar pensando no que me levou a fazer isto, ou aquilo. Mesmo porque sou aquariano, e aquariano vai fazendo. Vai deixando as coisas acontecerem!
Porém, a dúvida ficou no ar até mesmo para mim, ai, comecei a puxar pela memória, indo direto ao "início mais próximo", a "Casa do pai Ademir do Carmo" - TEMPLO DE UMBANDA CABOCLO TUPY DA ALDEIA E PAI THIAGO DA SENZALA, Guarulhos/SP, aonde tudo começou pra valer.
Depois dessa reflexão pulei para a FTU - FACULDADE DE TEOLOGIA UMBANDISTA, aonde a coisa está realmente se definindo. E assim, rememorei alguns episódios, tais como: A aparição do “Batman do Alphaville" - uma visão mediúnica que tive num sábado pela manhã, quando a minha suite foi "invadida" por espíritos de tipos variados, e com a clara intenção de me aniquilar. Surgiu então, um "SER" todo de "PRETO", que no meu devaneio, achei tratar-se do personagem "Batmam".
Esse foi, digamos, o primeiro contato "físico", visual, que tive com um "SER ENCANTADO".
O segundo contato foi com a “Loira das Sete Encruzilhadas”, na fronteira, Brasil/Bolívia, Cidade de Guajará Mirim. E foi assim, que fui me projetando para as entranhas da minha adolescência e lembrando de situações no mínimo interessantes. E Foi através dessas lembranças que descobri que sou filho da “NAÇÃO” - Candomblé. Quando nasci na fazenda Jussara, pelas mãos da “Mãe Vitalina”, estava vindo ao mundo, neto de candomblezeiro e afilhado de outro, o filho biológico da parteira.
Conta a minha mãe, que o seu pai, João Eleutério, possuia um "barração" na sua fazenda “Vinhático”, na localidade denominada, Kaatongo (um Quilombo localizado próximo ao Município de Itajuípe/Ba). No "barracão de Candomblé", e na condição de líder espiritual, o meu avô, atendia a todos da redondeza que precisavam de tratamento espiritual ou material; desde mordida de cobra, espinhela caída, mal olhado, males de amor, afastamento de assombração e até de feiura. Para esse mau especificamente, ministrava um banho muito especial: folha de pequi, malícia com espinho, guiné, sabugueiro e palha do ninho de anum. fervia-se tudo numa panela e depois banhava-se.
O meu padrinho Didi, filho do “Seu” Jacó e da “Mãe Vitalina”, possuía também na sua fazenda, uma Roça de Candomblé. O seu Templo ficava a caminho das Pimenteiras, logo depois da fazenda do “Seu” Cícero. Eu não guardo lembranças de nenhum dos dois, pois, o Vô Eleutério morreu quando eu ainda era criancinha e meu padrinho Didi, quando eu tinha de três para quatro anos. Lembro-me vagamente da morte do meu padrinho, que foi numa sexta-feira à noite e se deu no Peji.
Já na Faculdade, principalmente nos ritos da OICD - Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino -, as lembranças deles têm sido constante. Suas lembranças se fazem presente, ao ponto de eu ver imagens do meu padrinho como se tivesse convivido com ele e como se ainda estivesse encarnado. Vejo um rapazinho branco, arrodiado de mulheres, tipo “rendeiras”, num barracão de fazenda, todos de branco, sentados e bordando lindas roupas.
Com dez anos de idade vim para a cidade de Itajuípe para dar continuação aos estudos. Na fazenda, aprendi com a minha mãe o “ABC” e a “Cartilha”.
Quando cheguei na cidade no início de 1964, pouco tempo depois à cidade foi invadida por um pessoal estranho, chamado de “exército”. Eram todos feios e mal encarados; vestiam-se como bonecos e portavam espingardas esquisitas; seus carros também eram diferentes e tinham uma “coisa” no teto que gritava e piscava uma luz vermelha.
Foi lá em Itajuípe que cursei o grupo escolar, o ginásio e o colegial, e em 1972, mudei com a minha família para São Paulo.