MINHA VIDA( PARTE IV)
......CONTINUAÇÃO DA PARTE III
Depois de formado, fui prestar serviços na Rodovia Fernão Dias e lá foi a minha verdadeira escola da vida. A partir dali comecei a conhecer a natureza humana. Fui introduzido no mundo e submundo; aprendi a “roubar”, a me relacionar com bandidos e prostitutas; a mentir, fingir e interpretar. Mas graças a Deus não perdi a minha pureza e a minha índole se conservou intacta.
Vou abrir um parêntese para contar duas passagens que este parágrafo me remete nesse momento.
Quando ainda recruta, estava de serviço na balança do KM 551 da Fernão Dias, e por volta das 13 horas de um determinado dia, parou um caminhão de laticínio (Queijo Bom), o motorista buzinou e eu fui até ele saber do que se tratava, quando estava parado na porta do caminhão, passou por mim um fusquinha azul e parou um pouco além, inexperiênte, não dei bolas! O caminhoneiro disse-me que tinha trazido uma encomenda para um determinado policial, e perguntou se eu poderia pegar e entregar? Respondi que sim, então, ele desceu do caminhão e me passou um baita “pacotão” embrulhado em papel rosa (nunca vou esquecer isso!!!), agradeceu e foi embora. Voltei para dentro da balança (posto de pesagem) e só tive tempo de colocar o pacote sobre um banco de madeira lá existente, e quando me virei, o fusquinha estava parado bem na porta do posto de pesagens, e em pé dois caras mal encarados, cabeludos e barbudos, sendo que o mais novo foi logo dizendo: “Eu sou o Ten. Fagundes, o que é isso que você pegou no caminhão? Eu inocentemente disse, não sei! O motorista parou, me chamou e me pediu para entregar para o policial fulano de tal. O ten. Então, mandou o outro individuo pegar o pacote e abrir. Quando o pacote foi abertos, eram seis queijos, então, o tenente me deu voz de prisão. “ Eu sou do Serviço Reservado e o Senhor está preso”. Mas o que foi que eu fiz? Indaguei. “O Senhor está preso por “Toco”” e imediatamente mandou o policial me desarmar. Isso feito, argumentei dentro da minha total inocência, pois, na ocasião ainda era “cabaço” (jargão de quem era honesto) e conversa vai e conversa vem, o policial (Proietti, esse era o seu nome), vendo a minha cara de espanto e quase morrendo de medo, sugeriu ao tenente que me perdoasse e que doasse o queijo a uma instituição de caridade. O tenente pensou um pouco e encerrou o caso, “comendo a minha alma”, e por fim dizendo: “se cubra por vou ficar no seu pé”. Quem comeu o queijo eu não sei ...
Quando digo que no meio você tem que aprender várias coisas, é verdade, e uma dessas coisas, por sinal muito importante, é a mentira, a desfaçatez. Naquele meio se você não for um bom artista, se a sua interpretação não for perfeita, você não durará muito tempo, pois é um verdadeiro ninho de cobras, onde uma quer comer o filhote da outra.
SEGUNDO CASO...
Certa vez, tinha almoçado um “marmitex”, e era domingo a tarde, “paradão”, e me deu um sono danado. Como estávamos em cinco policiais no posto de serviço, fechei a porta do “quartinho” anexo ao posto, forrei jornais no chão e deitei-me. Passaram-se alguns minutos e eis que ouvi um barulho, quando abri os olhos dei de cara com um par de botas perto da minha cara, ao correr as vistas, cheguei a cara do individuo que estava de pé perto de mim e quase morri de medo, pois, era ninguém mais que o meu comandante de pelotão, o Ten. Wagner, como, naquela situação não tinha argumento, comecei a gritar de dor, então, ele perguntou o que eu tinha, respondi-lhe que havia comido o marmitex fornecido pela construtora e que havia me feito mal. Ele, olhando bem na minha cara percebeu que era mentira e simplesmente foi embora. Dois dias depois recebi um documento que denominamos de “parte”. Nesse documento ele narrava o acontecimento ao Capitão Comandante da Companhia e pedia a minha prisão. Como todos têm direito à defesa o documento veio parar nas minhas mãos para que eu justificasse a falta. Então, justifiquei. Informei ao meu Capitão, que deveras os fatos narrados aconteceram, porém, de forma deferente da visão do tenente, e que se alguém naquele episodio deveria ser punido, era o tenente por omissão de socorro. Anexei a minha defesa à parte do tenente e encaminhei. Poucos dias depois, fui chamado ao comando da Companhia em Taubaté; o Capitão me tratou muito bem, arrodiou, tipo cerca “Judith” e por fim, chegou ao ponto central da conversa. Disse-me: “Souzinha, isso aqui é verdade? Eu lhe respondi, Sr. Capitão, eu escrevi e assinei, a minha parte é verdadeira. O senhor pode interrogar os meus colegas que constam ai como testemunhas que o tenente não me socorreu. Ele disse: “Pelo amor de Deus, tenho que prender o tenente por omissão de socorro”. O senhor é quem sabe, respondi. Conversamos e conversamos, e no final entramos num acordo e a queixa foi arquivada, com a minha anuência, é claro. Dai pra frente o tenente ficou no meu pé, mas isso já é outra história, pois, arrumamos a sua transferência da Policia Rodoviária para a Cavalaria.
RAYSAN