Casada e virgem
Estavam casados há doze dias, três horas, vinte minutos e treze segundos. Ela contava o tempo pelos segundos, tal era a sua ansiedade. O esposo até àquele momento ainda não tinha cumprido com a sua tarefa de homem, no casamento. Amargurada, pensava que a causa da “frouxidão” do marido fosse ela.
Devia ser por que estava acima do peso. Talvez ele não a amasse mais. Alguma coisa de estranho estava acontecendo. Algumas de suas amigas confidenciavam-lhe que seus maridos eram fogosos por demais, não davam sossego de jeito nenhum.
Já Marcos era respeitoso, atencioso, o xodó da sogra. Não tinha boca para nada, vergonhoso não se alterava e nem reclamava, era servil e prestativo, um cavalheiro de verdade. Por várias vezes sonhava acordada esperando o dia da lua-de-mel. Quando ele iria com o mesmo carinho e delicadeza explorar seu corpo e seus desejos mais íntimos.
Agora estava muito confusa e decepcionada, não com ele, mas consigo mesma. Não queria olhar-se no espelho, e nem sair do banho nua. Estava tomando para si todo o peso daquela situação. E não podia ser diferente, o marido estava acima de qualquer suspeita, pois já tinha tido outras namoradas que ainda eram caidinhas e apaixonadas pelo ex. E ela casada há doze dias, virgem, grande ironia.
Começou a lembrar de cada detalhe, na cama de barriga para cima, olhando para o teto do quarto, com tão bom gosto decorado pelo esposo. Imaginou como tinha sido bom o início do namoro, o quanto ele era carinhoso, os passeios, tinham tudo para serem felizes.
Lembrou-se de algo que havia passado despercebido até então, ele evitava beijá-la, apesar de ser super carinhoso, delicado, atencioso, mas não a beijava com tanto ímpeto. Bem, tem gente que não gosta mesmo de beijar, uns mais, outros menos, isso não era tão importante a ponto de ser a causa de ainda não terem feito amor como se manda o bom figurino dos recém casados.
Mas ela lembrou-se também que algumas pessoas evitavam olhá-la nos olhos. Será que sabiam de algo que ela não. Será que seria a última a saber? Mexeu-se na cama e indagou-se em voz alta: - Oh! Meu Deus! O que será que me espera ainda nessa vida? E, terminando de falar, numa espécie de desabafo e lamúria, como que por resposta, passou à frente do seu rosto uma joaninha, voando, a qual inesperadamente caiu, no lençol, inerte.
Suas dúvidas acabaram-se ali. Levantou-se, imediatamente, trocou de roupa e foi ter com um médico amigo seu, especialista em problemas com mau hálito.