Despertando sentimentos

A tarde era bem fria. Nicholas estava sentado, encolhido. Sua mãe à cozinha preparava a comida. Ele tinha ficado o dia todo fora. Estava com fome. O cheiro fazia seu estômago roncar. A televisão ligada em um canal qualquer anunciava produtos que não o interessava. Estava longe, pensando em Mary. Lembrou de seus cabelos compridos e pretos. Seu rosto suave e com um sorriso sempre pronto a entregar a quem a fitasse. Era uma moça de fino trato, gentil e linda. Conhecera-a no trabalho, depois descobriu que ela estudava na mesma faculdade que ele. Intrigante é que já se iam três anos estudando ali e ela também, e nunca tinham se visto. Pelo menos ele não. Talvez porque estavam em cursos diferentes. Joana, sua mãe, terminara o jantar e o chamou:

- Nicholas venha a comida está na mesa.

Mesmo com fome, demorou a sair do seu canto no sofá quentinho. Já à mesa sua mãe notou que ele estava diferente e perguntou:

- Meu filho o que está havendo, você parece tão distante, algum problema?

- Dona Joana, dona Joana, estou apaixonado por uma moça que nem me conhece e nem me nota. Ela é linda mãe! Respondeu Nicholas.

Joana era uma mulher com seus quarenta anos de idade, conservada, viúva, cabelos também compridos e negros, esguia, nariz fino, pele clara, pouquíssimas rugas. Tinha o filho como a uma jóia, protegendo, cuidando e contando com ele para atenuar sua solidão, tanto que, só agora, percebera que seu filho estava crescido, já com seus vinte e dois anos, filho único, e tudo o que fazia e vivia era para ele. Incomodada indagou:

- Como assim meu filho? Como assim apaixonado, por quem você nem conhece?

- Eu não disse que não a conheço, disse que ela não me conhece mamãe.

- Como você sabe então que a ama?

- Porque penso nela o tempo todo e quando a vejo meu coração dispara.

Calou-se, Joana estava com ciúmes do filho. Pensou em como eram companheiros, em o quanto ele precisava dela. Somente ela sabia fazer a comida no tempero que ele gostava, as roupas que ela lavava ficavam tão macias, o quarto dele que ela sempre arrumava. Assistir televisão os dois juntos. Seu filhinho Nicholas.

Ali, naquele momento, ficou constatado, que em uma determinada casa, as duas pessoas que nela vivam, tinham sentimentos contrários de amor e ódio, na mesma intensidade, pela mesma pessoa: Mary.