Grito
Imaginem isso em alto e bom som...
Vinguei-me de você.
Derramei toda a minha mágoa num cálice, e bebi num só gole.
Engoli tudo, com a violência do esporro.
Gritei todas as minha dores num suspiro embriagado.
Fui prostituta e mãe em dez segundos.
Pari e matei numa escala de zero a cem.
Você.
Sempre a causa.
Sempre o vinho, sempre o sangue, sempre a melhor trepada.
Sempre o afago e o escarro, declamando poesia necro-lírica.
Cansei.
E, daqui da plataforma de trem, na beirada, penso em música pop.
Coitado do condutor! Um trauma e tanto...
Pro resto da vida? Qual? quando?
Penso e me rio da desgraça.
Dos rios que arrastam as esperanças.
Te rasguei com o meu verbo sacrossanto.
Sacrossanto na ignorância da sua orelha jogada no lixo, junto com os restos do almoço.
Vinguei-me da minha fome, da minha vontade, do meu desejo não saciado.
Vinguei-me na sua dor.
Vinguei-me nos trilhos.
Na hora em que me atirei.
Roberta Nunes
13/04/2005