NOBODY'S HOME

“Entregue-se nos braços da noite

permita-se tragado ser para escuridão

aceite-se como um ser perdido

E atenda aos apelos do lado mais obscuro de seu coração”.

Quando se é jovem e parece que se tem uma vida inteira pela frente pensa-se que se pode fazer qualquer coisa, que o amanhã não existe e talvez nunca chegue... Mas quando ele vem traz sempre, em suas mãos, uma sentença.

A noite já não lhe era mais tão excitante, a leve brisa, o latido dos cachorros da vizinhança, a lua, o perigo, tudo que antes a atraíra tão vorazmente agora não conseguia mais sublimar sua melancolia. Estava só. Irremediavelmente só. E a solidão sempre fora o fantasma que atormentara e aquecera as grandes almas, instigando-as a buscar mais em si mesmas. O mundo tem suas próprias regras, oferece dádivas dúbias para corromper-lhe e depois roubar sua alma, é um velho agiota implacável com quem esquece suas dívidas. Por quantas vezes vozes amigas não lhe advertiram, mas quando se está entorpecido pela droga da noite, depois que se pode sentir ela correndo em suas veias junto com seu sangue, há pouco que se possa fazer, a busca pela falsa e vã liberdade, o efêmero prazer de entregar-se e sentir-se entregue, experimentar cada gota do intenso desejo de ser algo além.

Veio aproximando-se aos poucos, passos lentos, olhar perdido nos rastros que sua mãe deixara quando fora embora, e ela levara bem mais do que supunha em seu egoísmo e desvario, fora com ela também a última centelha de inocência e esperança que ainda no peito de nossa heroína havia.

A vida cobra sem esperar você crescer.

Nenhum golpe poderia lhe ter sido mais duro, nenhuma porrada lhe doeria mais ou deixaria hematoma maior do que o que fez dentro dela o abandono.Agora seria forçada a amadurecer ou enlouqueceria, e onde conseguir forças para suportar...?

Senta-se na calçada em frente a sua antiga casa que jamais fora lar, põe a cabeça sobre as mãos apoiadas nos cotovelos e chora, chora, chora...

Caterine Araújo
Enviado por Caterine Araújo em 21/08/2009
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