A invasão dos ratos chineses - IV
A Zimer era uma empresa de transportes de valores e, por isso, suas dependências eram absolutamente seguras, inclusive quanto ao acesso de ratos, como vim a perceber. Eu era responsável pela logística, quer dizer, meu trabalho era pensar nos processos mais seguros para armazenar e rápidos para transportar cargas ou objetos de alto valor. Gostava do que fazia. Embora trabalhasse com muita gente, reportava-me a uma única pessoa, Jerusi Zimermann, uma alemã que exercia o cargo de diretora-geral da empresa. Eu a respeitava muito pela sua inteligência, o seu excelente poder de liderança e pelo bom senso com que sempre tomava as suas decisões. Antes de se dedicar à iniciativa privada, Jerusi tinha chegado à patente de capitão na aeronáutica e sabia muito bem o que fazer quando o assunto era proteger alguma coisa. Quando militar, especializara-se em segurança de aeroportos e, recentemente, tinha prestado serviços até para a polícia federal sobre o assunto – ela era boa mesmo!
Como todas as coisas pareciam muito caóticas, Jerusi dispensara os funcionários ainda na segunda-feira. Não estou certo, mas acho que não o fez em atenção ao efeito rati-econômico. Mesmo dispensados, eu e alguns colegas não arredamos o pé. Preferimos ficar por ali para acompanhar os acontecimentos e discutir o assunto do dia, incluindo as melhores maneiras de matar ratos.
– Como podem bichos tão gordos e grandes aparecerem do nada? – Bogatio questionou, em certo tempo.
Todos trocaram olhares, mas ninguém arriscou um palpite.
– Não se trata de uma única região invadida, quer dizer, não é um fenômeno isolado, mas acontece em vários lugares ao mesmo tempo. Também não parece ser um problema ambiental. Portanto daria para dizer que é algo pensado, que existe alguma intenção por trás disso. – Palpitei depois de algum tempo.
– Bem, acho que deveríamos nos reunir mais vezes e tentar algo de fato efetivo nesse caso. – Disse Jerusi.
– Efetivo como... matar ratos? – Karin perguntou.
E Mr. Andrews, com seus trejeitos característicos, respondeu:
– Efetivo, a príncípio, como descobrir de onde eles vêm.
Concordamos, enfim, em fazer algo. Qual a origem dos ratos? Qual o destino? Essas foram algumas das questões que pautaram o nosso colóquio, até que a noite chegou. E quando a fome começou a apertar, lembramos que dificilmente encontraríamos um restaurante ou supermercado aberto.
– Ei, isso não é problema. – Disse Moni Gonzáles, que imediatamente ligou para Elise, do Parangos Coffe, onde eventualmente bebíamos e comíamos nas noites de sextas-feiras. Fomos todos para lá.