Mais uma morte
Hoje presenciei uma morte, novamente.
Fico pensando que há alguns momentos aquele corpo inerte repirava, andava e falava como eu.
Em pouco tempo, seu corpo vai voltar para a terra, e só vai viver na lembrança daqueles que deixa para trás.
É triste, mas é um fato da vida, e alguém tem sempre que enfrentar isso. Desta vez, o alguém sou eu.
Um professor me disse certa vez, que pode ser difícil no começo, mas com o devido tempo, as pessoas acabam se acostumando com qualquer coisa.
Existe uma certa verdade nisso. Depois de ver tanta violência estampada nos jornais todos os dias, comecei a assimilar com naturalidade as mais impensáveis atrocidades cometidas pelas pessoas, seres humanos como eu.
Penso que, a essa altura, conseguiria enfrentar qualquer coisa que o destino me reservasse.
Até a morte de uma criança inocente?
Sim, o corpo era de uma pequena garotinha.
Perfeita, tinha tudo para ser uma linda mulher.
Como teria sido sua vida? Seria famosa? Rica? Teria sentido ódio por alguém? Teria conhecido o verdadeiro amor?
São perguntas que vão permanecer sem resposta.
Todas as promessas e sonhos interrompidos por um violento capricho do destino.
Há algo mais que se possa fazer por ela agora?
Talvez desejar que o lugar, para onde está indo, seja mais justo que este que está deixando.
Não percebi, mas com ela, morria um pedaço de mim.
A parte humana que ainda chorava por alguém.
Pois não consegui derramar uma lágrima por ela.
Nem por ela.
Ela que era minha filha.