Mais uma morte

Hoje presenciei uma morte, novamente.

Fico pensando que há alguns momentos aquele corpo inerte repirava, andava e falava como eu.

Em pouco tempo, seu corpo vai voltar para a terra, e só vai viver na lembrança daqueles que deixa para trás.

É triste, mas é um fato da vida, e alguém tem sempre que enfrentar isso. Desta vez, o alguém sou eu.

Um professor me disse certa vez, que pode ser difícil no começo, mas com o devido tempo, as pessoas acabam se acostumando com qualquer coisa.

Existe uma certa verdade nisso. Depois de ver tanta violência estampada nos jornais todos os dias, comecei a assimilar com naturalidade as mais impensáveis atrocidades cometidas pelas pessoas, seres humanos como eu.

Penso que, a essa altura, conseguiria enfrentar qualquer coisa que o destino me reservasse.

Até a morte de uma criança inocente?

Sim, o corpo era de uma pequena garotinha.

Perfeita, tinha tudo para ser uma linda mulher.

Como teria sido sua vida? Seria famosa? Rica? Teria sentido ódio por alguém? Teria conhecido o verdadeiro amor?

São perguntas que vão permanecer sem resposta.

Todas as promessas e sonhos interrompidos por um violento capricho do destino.

Há algo mais que se possa fazer por ela agora?

Talvez desejar que o lugar, para onde está indo, seja mais justo que este que está deixando.

Não percebi, mas com ela, morria um pedaço de mim.

A parte humana que ainda chorava por alguém.

Pois não consegui derramar uma lágrima por ela.

Nem por ela.

Ela que era minha filha.

Miguel do Lucari
Enviado por Miguel do Lucari em 11/08/2009
Reeditado em 14/08/2009
Código do texto: T1749327
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