Dualidade

Era como se existissem duas pessoas em um mesmo corpo, em uma única alma. Uma amava, compreendia, perdoava. A outra era egoísta, possessiva, atormentada.

Uma queria sempre sorrir, conseguia extrair da vida, tudo o que havia de melhor, ainda que o ruim, se fizesse notável em muitos momentos, ela só absorvia os bons. Ela via beleza em tudo, no céu, na estrelas, nos olhos de quem mirava os seus. A outra, ao contrário, nada absorvia, não queria; se escondia do mundo, fugia do seu "eu", fingia nada saber.

Uma amava serenamente; como a noite ama as estrelas e as estrelas amam a noite, estas ainda mais, porque sem o escuro, não poderiam cintilar; amava como elas. Amava, como o orvalho ama a folha que a ampara na madrugada fria. Queria ser feliz; buscava a qualquer custo a felicidade interior. A outra amava com paixão, com fogo, com medo; como um vulcão em erupção; como um vendaval, inconsequente e devastador.

Uma estava aberta ao amor, à vida; semeava sorrisos por onde passava. iluminava com seus olhos reluzentes de alegria em estar presente. A outra se fechava em segredos, em mistérios absurdos, em crises existenciais; havia sempre algo incomodando-a.

Nos olhos havia constantemente o ponto de interrogação, de quem procura respostas. Todavia, nunca conseguia ouvi-las; porque ensurdeceu-se e sentenciou-se a viver daquele jeito, sem esperança, sem fé, sem paz. Seguiram assim, caminhos opostos, dentro do próprio ser. Uma viveu; a outra padeceu.

Li em versos
Enviado por Li em versos em 11/08/2009
Reeditado em 04/09/2009
Código do texto: T1748607
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