PLANETA MOR

Sim, há um planeta! Meus olhos nus conseguem saboreá-lo. E luz? Uma poção de luz emana de seus hemisférios e me atrai como um ímã incandescente.

Consegui levantar-me agora; só me resta tocá-lo. No entanto, vejo minhas mãos tão próximas que me atemoriza a possibilidade; ele está tão perto, mas quem acreditará? Não sei. Também já não sei por que tantas coisas me consomem...

Seu cheiro acalentador me faria velejar sobre um mar calmo e sóbrio por tempo incerto; chegar, eu quero chegar. Sentir a terra ávida por vida, ingerir o néctar, o pólen, a seiva... Viajar incólume talvez eu não consiga.

Vou travar batalhas contra ventanias e tempestades, mas em um dia próspero e ditoso tocarei meus lábios no arroio infindável. Privo o olhar sob minha janela e observo um planeta, onde astros o amam e estrelas reivindicam sua bênção. Eu vejo um planeta.

Sobre tudo isso me envolta o ceticismo. A alegria perscrutada a fundo em meu idílio passa-se ao segundo plano involuntário. Minhas pernas são viris e meu coração pulsa de paixão? O regalo dos meus olhos adorna minha abrupta insensatez? Quem sabe. Neste instante meu lar fica adjacente ao presságio da melancolia. Tenho pressa, pois se vivifica a chama de meu inviolável destino. Porém, como algumas lembranças em minha memória perdem lugar, cortejadas por outras tantas, passo à esterilidade diante a dissipação do meu furor.

Olhem, olhem! Há um planeta. Mas a quem servirá o seu brilho? A resposta que colocar será inconteste e tal pergunta motiva-me-à repugnância.

Meu monumento de desejo. Seu clamor é onírico e dardeja submissão. As chuvas fazem com que os degraus fiquem íngremes e intransponíveis. Mas existe algo que regozijo: há um planeta que velará por mim; há um sol que me dirá a verdade e uma lua única que me exacerbará de altivos galanteios. Tomarei como armas sua austeridade e minha insignificância perante a sua magnitude.

Senhora, retomei a coragem. Agora consigo ver adiante de palmeiras, nuvens e da claridade que tornam impassíveis os olhos. Sim, isso mesmo, ele ainda está lá. Dando de comer ao espírito e fatigando aos depreciadores; sinto que é fidedigna sua luz e que vitaliza o ânimo. Há um planeta entre todos esses cujo ébrio motriz percorre o peito laivo. Há um planeta, senhora, há um planeta...