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A ULTIMA VISITA


       Pouco antes do Natal, não lembro exatamente o dia, recebi uma ligação telefônica. A ligação deixou-me altamente surpreso e muito feliz, porque reconhecera a voz do outro lado. Era a voz de um velho amigo,companheiro de pescarias e futebol. Estabelecemos o seguinte diálogo:
      - Alô, alô!...o Magrão esta aí? perguntou-me.
      - Fala, Fiúza, amigo velho!, respondi.
      - Reconheceste a minha voz, malandro? Retrucou.
      - Claro, amigão, tua voz sempre me maltrata os ouvidos!, respondi em tom brincalhão.
      E assim conversamos um bom tempo, pois fazia mais de cinco anos que não tínhamos contato nenhum e eu nem sabia que ele estava vivo.  Antes de desligar, perguntou-me se o receberia no escritório e se a Beth, (minha esposa) estava, pois queria nos ver e saber sobre uns caniços de madeira que me havia dado para pescar miraguaia, nos molhes de Rio Grande, anos atrás.
           Eu estava feliz por rever aquela figura irreverente, alegre, um verdadeiro amigo, pois vivia aprontando verdadeiras molecagens, com todos aqueles que conviviam com ele. Uma delas, de que participei, foi quando, ao voltarmos da ponta dos molhes,sentados em uma vagoneta(carrinho a vela), abraçou-se a um burriquete(peixe do mar) que estava no meio dos trilhos e colocou em cima dela, trazendo consigo, sem que ninguém percebesse. Esse fato foi muito comentado por longo tempo porque, na semana seguinte, ao voltarmos a pescar, encontrando o dono do peixe, Fiúza, rindo, contou-lhe e comentou como tinha preparado o pescado. Foi um riso geral!
          Enquanto lembrava esta história, entre tantas outras, tocou a campainha, era ele!, com aquele jeito alegre, um pouco mais magro e calvo, mas era ele.Deu-me um abraço, correndo para abraçar a Beth, beijou-lhe a testa carinhosamente e foi abraçar o Toni, meu filho mais velho . Ficou algum tempo conversando conosco e descobrindo que seus caniços haviam virado “pau-de-corda” e não existiam mais. Irreverente como sempre foi, abraçou-nos novamente, despediu-se sorrindo e gritando até breve, foi embora. Comentei com Elizabeth:
       - Não mudou nada, continua o mesmo louco!
       - Só ficou careca! Ela completou.
      Isso tudo aconteceu na quinta-feira. No sábado, fui a seu velório, pois tivera um infarto fulminante pela manhã. Meu grande amigo e parceiro ,Fiuza, de tantos sábados de nossas vidas tinha vindo visitar-me para despedir-se. 

        Até algum tempo atrás me perguntava:  Será que foi apenas coincidência a visita dele, um dia antes de passar para o outro plano? Hoje sei a resposta.
Gildo G Oliveira
Enviado por Gildo G Oliveira em 14/07/2009
Reeditado em 14/07/2009
Código do texto: T1698450
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