Comercial de comércio

Ao acordar naquela manhã, senti que algo muito especial iria acontecer, mas se soubesse da grandeza, se imaginasse o tamanho, jamais teria saído de casa.

Meus pés estavam sobrevoando, não tocavam o chão. O café tinha gosto de acre e os pães estavam sem fermento. Adocei-o com sal, esprestei-o de mostarda. Peguei as chaves e saí.

Ao abrir a primeira loja, como era meu costume chegar cedo, ninguém ao redor. Nem funcionários ou clientes. Um vento cinza em minha face. Folhas secas sendo levadas juntamente com um último fôlego de coragem.

Estremeci, não por não ter ninguém nas ruas, mas sim por causa da expectativa de acabar encontrando alguém.

Percebi, com este senso inato para perceber, que faltavam mercadorias nas prateleiras, e, ao abrir o caixa, o pior, faltava dinheiro. Suando e tremendo, liguei imediatamente para as outras lojas. Ninguém atendia.

Tranquei as portas e fui correndo até aquela que seria a próxima loja a ser aberta. Mesmo estado. Prateleiras vazias, estoque, vazio, caixas, sem um tostão.

Assim se seguiu em cada uma das lojas da rede em que eu trabalho. Ao todo, foram 11. Sem saber o que fazer, e em desespero total, liguei para a polícia, corpo de bombeiros, previdência social, defesa civil, polícia rodoviária, ministério do trabalho e até pro Lula eu tentei. Mas, em toas as tentativas o mesmo resultado. Ocupado.

Ao retornar pelo mesmo caminho, reparei que algo diferente estava acontecendo, além de escurecer e de todo o resto já ocorrido. As portas de todas as lojas estavam entreabertas. Não só as da empresa que trabalho, mas também as vizinhas. Talvez haja alguém, foi meu primeiro pensamento. Frustrado, logo assim que entrei em uma delas. Senti um cheiro forte de tempero nordestino, mas nada de pessoas. Ninguém. Deve ser um sonho, daqueles bem ruins.

Nada. Ninguém. Agora sinto dores. Está mais escuro. Ventando.

Prima
Enviado por Prima em 30/06/2009
Código do texto: T1675605
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.