A VERDADE VIRADA

Então vamos brincar de casinha!

Você faz bolinhos de terra,

E eu, mingau de graminha...

E do jardim, através da janela,

Duendes e fadas madrinhas,

Eles é que não acreditavam

No teatro que se apresentava...

Porque a tragédia era realidade.

Mas a leveza disfarçava,

Dava um fundo musical,

De cunho até social,

Tornando em mentira a verdade.

A leveza dominava a cena

Ficando na frente da verdade,

Que por ser mais alta que ela,

Deixava ver a parte de cima do cabelo dela.

E a dona verdade (que do avesso era a mentira)

Que não era a mãe da chapeuzinho vermelho,

Mas avó do lobo mau,

Tia da desilusão, prima da morte,

e amiga da solidão,

Fez, só para assustar o mêdo,

Arreganhar os dentes para o amor...

Nesse conto da Carochinha

Assim visto do avesso,

O final feliz era o triunfar do mal.

Pois a verdade do avesso virada,

Que morria de pena do mal,

Pelo medo que ele tinha da cruz,

Preferiu matar o amor,

(dizendo que era sedução)

Que era o único que não tinha mêdo,

E aceitou a crucificação.