Eu estava nesta obra ,quando ouvi o relato a seguir:

 
 
Não vende a casa mano!... 
 
         Existem histórias ,que na maioria das vezes deixam-nos com : “a pulga atrás da orelha” ,como diz um velho ditado. Esta por exemplo, se , apenas se ,eu não tivesse tido a convivência com os personagens, certamente não teria acreditado em uma só palavra sobre o que me foi narrado naquela manhã, bonita de sol ,em plena praia do Laranjal. Ao revisar o andamento de minhas obras - que ficam em frente a estrada Adolfo Fetter- ouvi uma voz chamando-me pelo nome.   Era a voz de um senhor grisalho que gesticulava e gritava para que eu me aproxima-se de si ,pois pelo visto,queria  me apresentar alguém, que se encontrava dentro do carro, estacionado um pouco adiante da entrada da porteira.       Eu, normalmente procuro analisar sempre o momento e cuido todos os detalhes que me cercam, para depois me aproximar de pessoas estranhas,mas desta vez não o fiz . Sua fisionomia me pareceu peculiar e ao chegar perto, pude confirmar: era um dos Irmãos Coragem . Velho conhecido de minha juventude, no bairro onde morei por muitos anos e Instantaneamente veio a minha cabeça a imagem de sua saudosa mãe, que sempre me atendia no balcão, da pequena padaria que a família possuía  e, que durante muito tempo eu ia  buscar  o pão quentinho, para o café da manhã.    Quero deixar registrado, que estou mudando seu nome,para poder preservar a sua privacidade.
         Carlos Coragem , que sorria, enquanto apontava em direção ao carro com uma mão e com a outra apertava a minha , foi logo dizendo:
     - Meu amigo,tem alguém que gostaria muito de te dar um abraço e por isso pediu-me para te chamar.
           Nesse momento saiu do carro uma senhora sorridente e me perguntou :
 
       - Gildo !... Tu não lembras de mim ,...lembras ?
       - E claro que me lembro ,e estou muito feliz em te rever guria ! 
         - Quero que saibas que eu e meu esposo não perdemos nenhum dos teus programas
         - Obrigado – respondi ,enquanto recebia um caloroso abraço .
         A partir daí começamos a conversar e relembrar os bons tempos do bairro. Diva havia casado com Carlos, há pouco tempo. Ficara viúva por muitos anos do primeiro marido, que também era meu amigo e companheiro de futebol no bairro.  Relembramos os bons tempos vividos na Rafael , a principal artéria de nosso bairro.  Até que o Carlos começou a contar a sua história :  A qual espero repassar a vocês com a maior fidelidade e com palavras de um fácil  entendimento para que fique bem claro, que eu acredito piamente em toda a sua narrativa ,visto a sua emoção em narrá-la. Carlos,com o olhar atento de Diva ,iniciou assim :
        - Caro amigo,tu sabes que minha mãe e meu pai eram oriundos de Portugal e, que nós somos vários irmãos . Sabes também,que por muito tempo, meu irmão, eu e nossa mãe tomamos a frente da pequena padaria em nosso bairro.O mano,por ser mais velho,sempre administrou os bens da família . Além disso procurou -como faziam nossos pais - adquirir bens imóveis, para garantir através do aluguel destes ,uma boa receita à família . Com a morte da nossa mãe ,dele e de uma de nossas irmãs ,fui designado pelo restante da família a providenciar o inventário de todos os bens, para que fizéssemos a partilha. Ao iniciar o meu levantamento pude perceber que os imóveis eram muitos e que na grande maioria estavam alugados, vazios, ou em estado de péssima conservação.
        Contratei um advogado e começamos a recuperação dos prédios . Como manda a lei, procurei oferecer a possibilidade de compra aos inquilinos, ou entrega do mesmo para sua comercialização. O importante meu amigo, é que a partir do momento em que comecei o inventario também começaram os meus pesadelos . Pesadelos sim ,se assim posso chamar os sonhos constantes com meu irmão. Não foi uma nem  duas vezes que isso ocorreu e sim muitas noites e muitas tardes ,pois até quando tirava minha sesta diária ,lá estava ele como se estivesse querendo me dizer algo.    
      Acordava-me suado e com a respiração ofegante por ter corrido atrás dele no sonho,tentando descobrir o que queria me dizer ou mostrar. A Diva, cansou de me acordar aos empurrões,pois eu falava dormindo: sempre chamando pelo meu irmão. O que mais me intrigava é que sempre era o mesmo sonho,as mesmas  imagens e o mesmo monólogo . Várias vezes fiquei intrigado,pois era só com o mano que eu sonhava,nem com a mãe e muito menos com a mana. Por que ?  Era uma das tantas perguntas que me intrigavam . Um belo dia ,não agüentando mais os pesadelos, resolvi perguntar a outras pessoas, se elas teriam uma explicação para essa perturbação . Uma delas foi tão convincente que resolvi ir no lugar onde me recomendara: um centro espírita . Qual foi a surpresa que se apresentou à mim: a pessoa que me recebeu parecia conhecer-me de longa data, tanto que logo foi dizendo ,sem que eu tivesse falado uma só palavra : Teu irmão não quer que a casa da Maria seja  retirada dela , porque ela era sua companheira em vida. Dito isso retirou-se à outra repartição do prédio. Sai de lá e voltei para casa o mais rápido que pude, pois estava ansioso para contar a Diva ,o que havia acontecido e a minha experiência. Chamei o advogado e meus outros irmãos e anunciei a decisão : A casa, a partir daquele dia, seria colocada no nome da Maria, conforme a vontade de seu companheiro e nosso irmão. Assim ficou resolvido o problema dos meus sonhos . Maria ficou com a casa ;...Meu irmão encontrou a paz ; ...E eu nunca mais tive pesadelos . Hoje, posso te dizer que gostaria de sonhar com todos eles, mas como sei que estão bem, eu também estou . Nós,...eu e a Diva ,somos felizes e agradecemos à Deus, por tudo que tem nos proporcionado . Acredito Nele e na espiritualidade pois graças ao meu irmão,pude abrir meus olhos ,saindo do ceticismo em que vivia .
      Esta é a história de alguém, que, com a voz tremula e as lágrimas escorrendo pelo rosto, veio me abraçar e contar, numa bela manhã de domingo.

Acreditem se quiserem meus amigos recantistas, pois eu não tenho dúvida alguma e sou feliz por isso ! 
Gildo G Oliveira
Enviado por Gildo G Oliveira em 11/06/2009
Código do texto: T1644013
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