NOITE FATÍDICA

Caminhava lentamente pela escuridão,sob as ruas engolidas pelo vazio.Poderia tirar minha roupa e dançar sobre o som do silêncio , motivado por um despudor iminete de que não seria descoberto.Quem perderia seu a observar um lunático? A estas horas da noite certamente todos dormem.Mas a noite é uma criança , e como todo clichê faz sentido , se não o fosse já estaria em desuso.Continuei a andar, não mais rumo a meu esconderijo,a minha prisão confortável e com chuveiro quente para acalentar minha alma cansada.Não quero descansar, não quero voltar para casa.Já não com passos largos, segui para o desconhecido.

Enquanto transitava pela rua,desviando e entrando em ruas que surgiam no horizonte , sentia meus passos pela calçada molhada.Para que calçada questione-me, o mundo me pertence, faço o que quiser, não preciso me privar;trilhando sobre a estrada molhada naquela madrugada chuvosa fui surpreendido por uma tempestade terrível, imediatamente abri o guarda-chuva que dispunha sempre na bolsa e me protegi, caindo apenas alguns respingos de água nas minhas costas, enquanto seguia tive a impressãopor várias vezes estar sendo seguido , talvez um sexto-sentido, não podia acreditar que minha liberdade estaria comprometida, em casa não tinha autonomia, quando estamos a fazer algo contraventor, somos censurados pelo olhar que poda e reativa nossa reputação. Olhei para trás e nada avistei além de feixes de luz , como palcos produzidos pela luz dos postes , sem platéias.Já não fazia mais sentido aquela peregrinação, parecia algo incauto, um devaneio senil, mas agora não vou voltar para casa,pensei.

Dispus-me a deitar no chão, fiz deste uma caminha tomada por poças de água, estendi as mãos e apanhei alguns jornais para me proteger da chuva, não sabia aonde havia colocado o guarda-chuva, uma noite fatídica debruçado pela intrusão alucinógena da consciência, um surto de realidade, uma necessidade de me distanciar de mim, do que me tornei e não consigo aceitar.O que poderia explicar tal movimento?Sem carteira, indigente, em posse apenas de minha memória que apontava um declínio intrapessoal, uma libertação oclusiva atinando o surrealismo existencial.Quero ir a lugar nenhum, onde minhas fantasias sejam acariciadas pela utopia memorável, pelo desejo ardente de não se concretizar, sonhos não são para se realizar, são tropeços da vaidade egolátrica, suspiro mental da impossibilidade, não quero ir a lugar nenhum, quero ficar aqui, deitado , com os olhos apertados, não quero acordar, me deixe, saia.Excentricidade é coisa narcísica, ego deprimido.Passaram-se algumas horas, acordei atordoado com a quintura do sol dardejante em meu rosto antes molhado, enxugado pelas lavas da estrela brilhante , levantei- me, com as roupas úmidas.Onde estava?Quem eram aquelas pessoas?Caminhei, andava em descompasso, tropeçando pelo desespero da incompletude, não olhavam para mim, parecia não estar alí .

-Quem fez isso com minhas roupas?Questionava sem explicações.

Não reconhecia aquele lugar, me parecia ter ficado alí por algumas horas , tenho certeza.

Andava, a noite descortinou-se e eu caminhava , agora não sabia mais quem era, andando, caminhando naquela noite, seguindo os rastros de minha sobra acordei, como um insight, estava perdido.Após horas de caminhar estafante, virei para trás , dominado pela convicção como um adolescente rebelde, percebi que a sombra que me conduzia não era mais a minha, não era mais nada, seguia a sombra da subsistência.

Edivaldo de Oliveira Barbosa
Enviado por Edivaldo de Oliveira Barbosa em 11/06/2009
Reeditado em 11/06/2009
Código do texto: T1642896
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