O TIC TAC

TIC TAC. João acorda, estende os braços espreguiçando-se após oito horas dormidas, sob recomendação médica, disciplinado, seguia pontualmente as coordenadas dos ponteiros do relógio. Sua vida era demarcada pelo ritmo das horas, nada de relógio biológico, melatonina. Aguardava ansiosamente as batidas do relógio advertindo a hora de dormir, com os olhos calejados de relutar contra o cansaço e preguiça após uma jornada cronometrada de trabalho. Andava tão rapidamente que o vento que gerava seus movimentos mal conseguia alcançá-lo. Uma rotina perfeita, invejável, tinha absoluto controle sobre suas ações, pegava o taxi, era capaz de apontar cada detalhe de seu itinerário, percebia a ausência de um mero cartaz publicitário ou troca de alvenaria de quem ousasse inovar.

Tic TAC. Tic... João aguardou o TAC, suspirou fundo como demonstrando os ponteiros regularem o seu ritmo cardíaco, começou a suar frio, esperançoso de um mero ruído no ponteiro que já não demonstrava mais suas funções vitais, João ajoelha-se e segue sua

ânsia mental desejosa de que continuasse a funcionar para seqüenciar sua vida. Balançava, pressionava como um desfibrilador esperava reanimá-lo. Imediatamente corre a sacada de sua casa, com forte agouro como uma ópera dramática suicida se atira desprendendo-se da agonia asfixiante e quando no chão, sacrificado pela contemporaneidade, submerso no sangue , ouve-se um ruído de seu pulso amassado pelo braço turvo e quebrado - TAC.

Edivaldo de Oliveira Barbosa
Enviado por Edivaldo de Oliveira Barbosa em 08/06/2009
Reeditado em 08/06/2009
Código do texto: T1637567
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