OVNIS
- Oi meu amor! Está cansada não é?
- Pois é menino...
Beijo.
- Estou louca pra tomar banho e comer alguma coisa pra a gente namorar um pouquinho.
Fiquei no sofá, bem junto à porta da sala que dava para a rua. Logo chegou um vizinho e começamos a conversar sobre o seriado do dia anterior que víramos na TV. Era 1971 e um dos sucessos da época era “Os Invasores”. Do ângulo em que me encontrava vislumbrava o céu estrelado ao fundo com meu interlocutor em primeiro plano emoldurado por uma das portinholas da porta da sala. Num dado momento no meio da prosa, um foguete cortou o céu. Continuei conversando enquanto esperava o estouro que viria a seguir, porém nada aconteceu. Calculei que a distancia do fogueteiro deveria ser de uns 500 metros, e que levaria uma fração de segundo para ouvir o estampido, mas nada. Desconfiei então da forma como se deu o fim da trajetória do pretenso foguete. Parecia mais que havia sumido do que explodido. Além disso, ele e sua calda tinham uma coloração branca demais ao invés do amarelo claro de praxe, além do silêncio absoluto com que desenvolvera o seu percurso. A idéia que poderia ter para substituir o que vira não se mostrou clara. Seria fantasiar demais admitir o que me pareceu na ocasião. Mesmo assim quando ela voltou, ainda de cabelo molhado, mas já tendo jantado, não resisti à provocação que me ocorreu instantaneamente.
- Acabei de ver um objeto voador não identificado há uns 15 minutos!
Tomando-me pela mão, ela abriu a porta e saímos. Ficamos recostados na Rural Willis da família olhando para o céu noturno. Deveria ser umas onze e meia da noite. Ela saíra do turno das 22:00h e era rotina ir encontrá-la no caminho. Continuamos olhando para o céu em silêncio. Estranhamos o número de estrelas cadentes àquela noite. Umas quatro com intervalos curtos. A cada ocorrência nos entreolhávamos silenciosos. Esquecemos o céu e depois de abordarmos outros assuntos... Fui para casa dormir.
No dia seguinte, nem bem acordara e já recebia o irmão dela, de quem era muito amigo, com um jornal às mãos cuja manchete era: “Disco voador assusta moradores”, e citava o bairro a onde ocorrera o fato. Era um bairro popular. A esmagadora maioria dos leitores não acreditaria naquela notícia até porque o “avistamento” foi feito por crianças que brincavam na periferia. No entanto aquele bairro ficava à direita do meu local de observação na noite anterior e o mais curioso é que o horário descrito no texto coincidia com o momento em que vira o estranho "foguete".
Não sei se deveria considerar esse evento como o mesmo evento, mas fiquei mais interessado no assunto.