O VISITANTE
      


Maria Emília L. M. Redi


O tempo estava carregado !!!
O vento soprava bravíssimo... Enquanto isto, trovões assustadores faziam tremer a casa e a alma.
Ela, como sempre, envolvida num marasmo crepuscular, perdida em seus misteriosos silêncios interiores, desceu a escada e, devagar, deslizou os passos em direção a porta principal do casarão.
A impetuosidade daquele ar em movimento fazia balançar a folha envidraçada do postigo enlouquecidamente, e ela, do outro lado, tentava, com todas as suas energias, fechá-la.
- Era uma queda de braços entre duas forças que se desconheciam...
Em meio a um relâmpago e outro, clareou-se a figura de um inusitado visitante que, vindo do jardim, apressava-se em subir a escadaria frontal da casa e, pisando suavemente naquele granito esverdeado, buscava um asilo protetor. 
Os seus olhos brilhavam como faíscas de um raio certeiro ao encontro dos olhos dela, atingindo-lhe as profundezas d´alma.
Por fim, ela conseguiu fechar o postigo, num descuido momentâneo do senhor dos ares. Mas, a curiosidade a levou espreitar o vulto iluminado lá fora.
Vez em quando, seguia-lhe os movimentos, ensimesmada...
 Aquele ser aparentemente frágil, encostadinho em sua porta, trazia no olhar uma súplica por abrigo e um pouco de comida.
Os minutos correram despercebidos.
Ela juntou coragem e, com determinação, abriu a porta.
O estranho visitante adentrou silenciosamente na sala. Rapidamente, ela o envolveu com uma toalha macia e felpuda e a fez deslizar por aquele corpinho encharcado.
Na lareira as brasas crepitavam...
Um suave calor espalhou-se pelo ambiente transformado-o em aconchegante regaço.
Ela, com os olhos banhados em lágrimas, via refletida toda a pena que sentia por si mesma, e, ao acariciar aquele serzinho, extravasava, num suspiro, sua tão bem guardada sensação de abandono ...
- Coitadinho de você, sem ninguém para amá-lo e ampará-lo! Tão só como eu! 
Carregando-o para a cozinha, deu-lhe uma tigela cheinha de leite morno.
Arranjou-lhe uma caixinha com areia, para as suas necessidades, e ofereceu-lhe uma grande almofada, macia e perfumada, onde o bichano, mais que depressa, aninhou-se como se fosse um verdadeiro paxá.
Ela fixou o olhar naquela cena demoradamente, como se estivesse resgatando toda uma vida vazia de sentimentos compartilhados...
- Sem carinho, amizade ou um espontâneo sorriso sequer !  Viu-se, então, nestes tão breves momentos, renascida, cheia de vida...
Esparramado gostosamente na almofada, aquele anjo especial, abrigado no corpinho de um lindo gato rajado, ronronava feliz, como se estivesse mergulhado em nuvens de puríssimo algodão, flutuando calmamente em um límpido e tranqüilo céu de anil!
A tempestade passou...O sol voltou a brilhar! E ela ... nunca mais foi a mesma !!!
IRINEU GOMES

Retorno gratificante
Daquele que faz o bem
Engrandece a sua alma
E muito ânimo lhe vem ...


*** Obrigada meus amigos , pelas palavras de carinho e incentivo, Deus os Abençoe!!! Abraço, Maria Emília Redi
Mel Redi
Enviado por Mel Redi em 13/05/2009
Reeditado em 14/05/2009
Código do texto: T1591564