Eu Sou Mais Nauseabundo do que Você

“Segura, gira, abre e hummmmmmmmmmmmm!” dizia a garota da propaganda de geléia de morango.

Estávamos eu e meu pai na sala assistindo televisão.

Toc-toc...

Eu me levanto e abro a porta.

A sensação de “o que é isso?” passa pela minha cabeça. Sinto frio. Percebo que minha bunda e meu saco estão formigando. Um homem com uma meia na cabeça me empurra para dentro e antes que eu grite aponta um cano prateado em minha direção.

Parece que isso é coisa de cinema, mas aconteceu tão rápido que foi impossível não passar um filme pela minha mente. Vejo coisas vagas da minha infância passando. Um dente quebrado. Um peixinho dourado morto. Meu vizinho me acariciando com o dedo indicador. A morte de minha mãe. Sodomia aos treze. E volto para os quinze, para o agora.

Eu estou com muito medo. Olho para meu pai e ele já não está no sofá. Ele é rápido e enquanto o “cara de meia” estava me empurrando e me ameaçando com a arma ele já estava com o trinta e oito que ficava dentro da estante em suas mãos.

Um segundo.

Dois segundos.

Três segundos.

O “cara de meia” vira seu pescoço em sessenta graus na direção do papai. Um disparo faz com que o “cara de meia” perca a cabeça. Pedacinhos de massa cinzenta com restos cranianos se espalham pela sala. Eu sou coberto por sangue que jorra de um chafariz humano. O corpo cai.

— Toma seu filho da puta! — Grita meu pai com cara de “que saco!”.

Meu pai abaixa a arma.

Meia hora depois estamos nós na cozinha picando o cadáver.

Três horas depois o indigente vira comida pro tio Lélo, o meu cachorro.

Uma semana depois e o cheiro de sangue ainda me atordoa pela casa.

Um ano depois meu pai se aposenta e finaliza a carreira de polícia.

Eu amo meu pai, vivo para servi-lo. Sou seu filho, seu servo, sua esposa. Ele me ama... eu sei que ele me ama.

Samuel Farias
Enviado por Samuel Farias em 19/04/2009
Código do texto: T1548138
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