A Peruca Assassina (besteirol em co-autoria com Zélia Freire)

Na falta do que fazer, Zélia Freire e eu escrevemos isso aí... Espero que você ache tão divertido quanto foi pra nós fazê-lo.

Nena:

Enfim, depois de muito trovejar, depois de muito calor, a chuva desabou.

Não gosto de chuva. Ela me deixa triste. Lembro de quando

Zélia:

aconteceu o casamento de meu sobrinho e eu fui fazer o cabelo e quando sai do salão desabou a chuva e o meu cabelo cheio de laquê desabou e já era em cima da hora e eu era a madrinha.

Nena:

Tentei telefonar para a minha irmã, a mãe dele, para avisar do atraso, liguei também pra o primo Adonai e até para os noivos, mas ninguém atendia.

Zélia:

O que fazer então? Alugar uma peruca. Só que não encontrei uma peruca loura e sim da cor preta. Quando coloquei em mim me senti ridícula, sempre usei os cabelos curtos e a peruca era longa de cabelos pretos.

Nena:

Aquela cabeleira longa, preta, meio índia... saí do salão me sentindo a própria Ceci! Não conseguia parar de me olhar e rir. Segui até a igreja cantarolando: índia, sangue tupi, tens o cheiro da flor...

Zélia:

Se o riso fosse só meu, tudo bem mas quando entrei na igreja quase que ela veio abaixo, nem o padre que era nosso conhecido se agüentou e tirou o lenço da batina e segurou o riso e eu me sentindo cada vez mais ridícula. Ainda por cima o meu vestido era longo e mais longo que o necessário, por duas vezes pisei na sua barra e se não fosse o padrinho teria despencado e me esparramado no chão. Pensa que acabou o meu suplício? A danada de peruca era folgada na minha cabeça e começou a entortar e eu tentando ajeitá-la e não conseguia.

Nena:

Comecei a achar que ela tinha vida própria. Sei lá! Parecia mesmo que ela ia me transformar assim numa espécie de medusa, sair ameaçando os convidados... A igreja toda já havia me esquecido e assistia em silêncio ao belíssimo casamento, mas com essa idéia na cabeça não consegui me segurar e soltei uma sonora gargalhada,

Zélia:

pra espanto dos pais dos noivos que estavam se desmanchando em lágrimas, mas quando olharam pra mim e observaram aquela peruca torta caíram na gargalhada também.

Nena:

Todo mundo voltou a rir. A noiva já estava irritada comigo, mas ria também. Enfim, desisti de atrapalhar a festa e fui arrumar um banheiro para tirar aquele polvo preto da minha cabeça antes que ele me engolisse inteira.

Zélia:

Mas aí quando voltei para o altar perto dos demais padrinhos foi que a coisa ficou feia, sai de cabelos pretos e voltei loura com a peruca na mão pois não tinha como enfiá-la dentro da carteira. E os meus cabelos? Nossa! Todo pra cima e duro de laquê

Nena:

e meio inclinado para o lado por causa da chuva e do peso da peruca louca. Agora sim, eu estava parecendo o próprio Frankenstein.

Zélia:

Enfim a cerimônia acabou, no que dei graças a Deus, pois passado o momento da graça, os noivos estavam me olhando atravessado e eu lá no meio deles toda sem graça.

Nena:

Escafedi-me rapidinho para casa. No caminho, a chuva ainda desaguava as mágoas de uma semana de estiagem e eu pedi ao táxi para parar. Desci umas duas quadras antes de casa. Tirei as sandálias, dei um nó no vestido

Zélia:

e quando comecei a caminhar alguém gritou:

- Ei! Tá perdida? Quer que chame a ambulância pra te levar pro manicômio...

Não resisti: olhei pro distinto e estirei o dedo pra ele.

Nena:

Depois pensei... ah! até que ele tem razão. Tô parecendo uma doida mesmo, com este cabelo todo torto, o vestido amarrado nas canelas, carregando a carteira fina, as sandálias delicadas e a peruca-polvo-assassina-dos-infernos...

Zélia:

Finalmente cheguei em casa e ainda por cima tive que agüentar o riso da Marivalda, que tapou a boca com a mão para a gargalhada não soar maior.

Nena:

Enfiei-me no chuveiro. Tomei um banho daqueles de lavar a maquiagem e o laquê, a lama e a vergonha. E fui atrás da sopinha da Marivalda para compensar a festança que eu perdi.

Zélia:

FIM