O Louco
Que mais da porque motivo tua vida fosse alterada: por que era o mais fraco da sua escola, porque alguém de outro planeta alumiou controlar tua mente, porque os espíritos tristes da noite se apoderam de teu corpo doente. Que mais dá. O caso é que estas fodido, fodido e para sempre viciado.
Vives na incertidão e não acertas a adivinhar porque demo te acontece não concretizar um sossego.
Podes morrer com grandes dores de cabeça e ninguém vai acreditar assim, acordar em ti: por que eles precisam uma terra onde apoiar as pernas, as unhas, as plantas dos pés que servem para fazer caminho errante e errar de pleno.
E pouco sabem eles, de retroceder eternamente na sombra de quem espera aquilo que já fugiu.
E seu berço é a saudade.
Assim que tu mesmo decides: ou segues a caminhar, soltas a trouxa, ou permaneces atado no beco onde habitam os nomes que sobram. Os filhos que a ninguém representam.
Estas palavras me disse meu pai depois de perder, com os anos, o interesse pela vida. Corria o ano da minha iniciação e da praça do cantinho, ao cemitério apenas uma baixada de sete minutos. Na noite de S. João faltavam cinco anos para ao mencer eu encontrar algo tão extraordinário como, meu tio a passear perto do carreiro que conduz ao nada.
- Então, estou morto?
E os olhos dele como muito finos, o frio aquele nas órbitas contido como um cheiro de água vertido no meu pavor; ao instante de sua pupila resseca me acalorar o coração que se resistia a um ultimo latido abrir, na realidade de aquele momento. Então me diz meu tio:
- Tenho a boca cheia de sangue... Meu sobrinho fui eu que morri?
E o rosto a me escapulir, branco, demasiado branco para sentir o rosto no frio. As mãos do tio, ao tempo, tão gordurosas, por elas continuam escorrendo, no dia atual, tripas sustidas dum ventre teso a rebentar com meus olhos fixos para sempre naquele preciso instante... E uma encravada faca: uma faca ao meio do estomago completamente desfigurada.
Gostava tanto de meu tio, ver aquele sorriso aparecer na casa materna os serões assobiando, os ventos levando consigo... Dele tanto gostava que... Fiquei paralisado.
E meu tio desapareceu ao pouco do meu doente cérebro insistir em se perguntar: então sou eu que estou morto?...
Na manha do 24 encontraram a meu tio no barranco do Coreto. Um corpo despedaçado pela incipiente fome das raposas matreiras, que não tem escrúpulos e um gosto grotesco.
Tia Anuncia o teve de reconhecer, e de novo no funeral derrubou-se por enésima vez, na falta de aceitar um fato: O companheiro morto, ela a viver por ambos... E de meus estranhos pensamentos continuamente a guardar memória da não existência... Ela gritando. E como o pensamento é forte, e como centos de vizinhos também assim imaginaram: Ela a gritar cada vez mais alto. Enquanto meu pensamento fortemente se agarra a essa madrugada não contente de contemplar um homem que se pergunta se é morto.
Um pouco depois eu a comunicar meu tio:
-... Sim! Tio você é esse morto.
Passaram mais outros cinco anos e as vizinhas afirmam que eu falo com os espíritos retidos, no meu edível cérebro, do outro lado da existência.
Minha irmã se atreve a dizer que inventei doido uma historia para ser mais belo.
Eu sou o louco: pelas noites viajo em sonhos, e a miúdo me acontece os sonhos se me cumprir como se a vida em mim se antecipasse.
O louco são para os amigos, que esconderam seu medo retirando-me a palavra.
Desço como ruas e rostos que são gente de rompante se afastam de mim.
- Bom dia, diz alguém, e eu sempre escuto continuo a voz de meu tio a me dizer: estou morto, meu sobrinho?... Os que saúdam não se preocupam com as minhas teimas, a seguir, bem sei esse menino preto vai rolar pelo chão enquanto tenta cambaleando vencer o degrau que sobe ao passeio.
O mais triste e confraternizar no cruze de quatro caminhos com almas que foram em geral, gente que se esquece na terra.
Porque eu fui que véu ao morto. O vi morto e aos poucos dias num pequeno lugarejo, serra adiante atravessando fentos, carros que tem tração as rodas traseiras e dianteiras comentavam minha visão, que eu deles tivera em sonhos.
Sereias, uma choupana ilhada apodrecendo a própria madeira, homens que descem rodeiam a única, maltrapilha cerca apodrecendo; saltam o valado decisivamente enleado em si mesmo. Alguém arromba a porta, alguém tenta acordado livrar da sua eterna soneca. A mulher corre a cozinha, ainda é capaz de abrir a gaveta, mas a faca não: a mão direita fica presa; e ao voltar o rosto um homem que a empurra fortemente, velozmente contra a gaveta. Uma outra mão sobre a boca, de seguir ao pescoço dela. Ela nas alças raivosa a se contorcer-se, possuída pensa o que não vê, pelo demo. E o demos só habita dentro de nós, ao igual que o reino de deus esta no nosso intimo, ao resto dos seres ligado.
Detiveram a mulher e ao seu companheiro. 24 horas antes no meu quarto um pesadelo: suava na cama, duas e trinta, suava por segundo duas e trinta vezes.
24 horas antes eu tina visto uma aldeia ao longe muito adensada de mato, a choupana muito velha, seringas no corredor, a frente no adro duas garrafas meio cheias... No dia a seguir ela, ele estavam presos.
- Já podes descansar, teu tio foi vingado... Agora terá uma linda parcela a céu aberto... Deve ter partido já... Agora te toca descansar a ti com ele...
Nunca voltei a sonhar, não tive visões tão certas. Aguardo delas um resto a voltar. E no entanto...Dizem que os amigos sempre falam a um do certo, nas ocasiões que o coração intercede por eles. Não sei se o amigo Rui, falava ou não com grande ou pequeno desejo, se seu coração interpunha à ração o emotivo da experiência, ou se talvez a ele se lhe ocorrera que os homens humildes só atendem a palavras néscias, parábolas de igreja. O caso é que meu amigo falou pausadamente, interiorizando primeiro sensações incompressíveis no meu pesadoo anelo, mastigando logo as palavras, depois fazendo-as surgir como borboleta que explode do capulho ainda retendo seu aromático odor, que no ar ainda ferve.
Não sei bem como falou de forma tão correta, mas ele me disse ao ouvido:
- Teu tio não morreu ainda no interior do teu peito.