Coisas Engraçadas
Meu amigo arranjou uma nova namorada.
E essa tal namorada é a garota mais burra que eu já conheci.
Quer dizer, ela deve conhecer o nome de umas cinquenta marcas de roupa, mas nunca leu um unico livro na vida. E se leu foi algum de auto-ajuda do Augusto Cury, o que não conta como livro.
Sim, tenho preconceitos contra livros de auto-ajuda.
Ela é do tipo de garota que tem adjetivos para separar um barco de um navio. E é loira, daquelas que você sabe que o cabelo é pintado, porque algumas mechas estão mostarda enquanto outras estão numa tonalidade pálido-anêmica. Nada contra garotas com tintura, eu pessoalmente adoro gurias com cabelos azuis, mas esse conjunto em parceria de roupas de marca me traz a mente uma caricatura muito sarcastica.
O mais irônico é que ele se diz seletivo.
Mas acho que o mundo está ficando burro.
É só ver que temos o maior fluxo de informações da história da humanidade, e mesmo assim, não há qualquer informação util na cabeça das pessoas. A maioria nem se lembra em quem votou, mas nunca se esquece do nome que está escrito na etiqueta sobre a bunda que está pregada na calça que veste. E olhe que isto está nas costas, e o resto está na cara.
Claro, dizendo assim parece uma grande inveja, e você deve imaginar que é porque eu não estou com ninguém. E você está certo nesse ponto, não há ninguém na minha vida, mas eu ainda tenho respeito por mim mesmo. Isso você acertou, mas se você conhecesse esta garota ou qualquer outra de sua tribo, você iria pensar como eu.
Embora a maioria prefira encontrar a Silvana gostosona do Xerox, eu ainda prefiro ter conversas durante a noite toda com a Jéssica do clube de literatura. Porque com a gostosona o dialogo acabaria do “oi, como foi seu dia?”, se você pensar bem sexo dura pouco, e o dia é longo, e a menos que você seja um coelho ou um gado de uma fazenda reprodutora, você não irá passar o dia todo fazendo sexo. Por isso a conversar é tão importante. A companhia agradável compensa qualquer fator de beleza.
Esse meu amigo chega para mim e diz:
- Cara, aquela guria é demais.
E eu digo, bom para você meu amigo.
E riu comigo mesmo.
Na semana antes de namorar com ela, esse amigo meu, ficava criticando os defeitos e a inteligencia desta pessoa. Mas agora que eles estão juntos e ela permite maiores intimidades – intimidades essas que meu amigo pode executar com a boca e com as mãos – ela se torna, num passe de mágica – e hormônios – numa garota incrível.
Por isso eu amo a humanidade. Ela é fonte infindável de hipocrisia e doce comédia.
O tragi-drama moderno é hilário, não acha?
De tout façon, estou andando na rua um certo dia, e vejo esse meu amigo e sua nova namorada, eles estão na frente de um shopping – nome o qual já é despresível por sí só. Prefiro achats ou centro comercial – e eles estão vislumbrando uma vitrine, parados de mãos dadas na calçada do lugar. Eles não me vêem. E eu vejo ele comentar:
- Nossa, preciso comprar isso! – diz meu amigo.
Alguns meses antes deste namorico, esse meu amigo diz:
- Cara, que nojo dessas pessoas que compram coisas que não precisam.
E lá está ele, postado frente à vitrine, dizendo que precisa comprar uma camisa da Gucci.
Eu me riu e continuo meu caminho.
Se você quer rir com as paredes – porque os risos delas nunca são amarelos – é só se lembrar de seus amigos, há digamos, dez anos atrás, e lembrar das ideologias dele desempregado, e ver as suas ideologias dele agora que são membros do consumismo. São gargalhadas na certa. Quer dizer, se você for do tipo cínico como eu sou.
As pessoas que criticam o comunismo e a anarquia é porque eles nunca iriam aceitar que não poderiam acumular bens. Acumular. Somar. Ter mais. Qualquer desses verbos é de cunho ideológico para o novo intelectual. E dizem que o comunismo é ruim porque em Cuba e na China o sistema é comunista. Eu só pergunto a essas pessoas aonde há comunidade, uma unidade comum, nesses países, onde a população come quirela com leite – conotivamente falando – e seus líderes comem cáviar – e não que caviar não seja uma merda; barrigada de peixe quase literalmente falando. As pessoas querem ter, e qualquer outra coisa que as impeça de consumir será criticado e banido, da mesma forma que o Manifesto Comunista foi banido na ditadura militar. E se um dia os comunistas “comeram criancinhas”, seria por fome porque seus líderes não lhe derão qualquer alimento.
Mas chega disso, não quero desabafar meus dramas politico-sociais aqui. Mesmo que seja legal comentar que 90% da riqueza produzida no mundo está na mão de 10% de sua população total.
A humanidade é um circo que apresenta somente único quadro chato e repetitivo: hipocrisia. Essa você encontrará de todas as formas. E além de hipócritas, são deliciosamente irônicas.
No outro dia, meu amigo vem me cumprimentar rapidamente. Percebo que há algo de diferente nele. E quando percebo o que é quase caio na gargalhada: ele está usando cabelos penteados a là mode. E a gola de sua camisa está levantada. Como um legitimo playboy.
Só de sacanagem eu digo:
- Você cortou o cabelo?
E ele olha como se não entendesse e diz:
- Não, porque?
- Por nada – eu digo.
Daí então se passam dois meses e esse amigo não aparece mais nos barzinhos de rock n’ roll da cidade. Nenhum deles. Doente, imagino eu no momento. Então que num outro dia, estou subindo para a zona underground da cidade, com minha camiseta velha do Velvet Underground, e vejo pessoas em bares chiques da cidade desviando o olhar de mim e dos meus tennis sujos. Ou seria do meu cabelo despenteado?
Esse meu amigo está subindo a rua, a mesma rua que estou subindo, ele está apenas um pouco adiante, e eu lhe chamo com um grito:
- Hey!
Ele pára quando olha para trás.
Me aproximo e digo:
- Até que enfim você voltou, vamos indo?
Ele parece não entender o convite para ir ao pequeno pub.
- Ah, é que eu tenho outros planos.
- Onde você vai? – pergunto a ele.
- Ali, num lugar.
- Vou até lá com você.
E no meio do caminho ele diz:
- Bom, eu fico aqui.
Estamos parados na frente de um bar sertanejo, e lá na frente vejo sua nova namorada acenando para ele.
E teóricamente esse é o fim da história.
Foi aqui que ele nunca mais voltou a falar com o pessoal. Começou a frequentar outros lugares. Ficamos uma cara sem saber de notícias dele, até que certo dia alguém disse:
- Lembra do Valter?
- Ahm, lembro, que que tem?
- Casou.