Meias Listradas
Eram quatro horas de uma movimentada, agoniante e ensolarada tarde. O mormaço alfinetava a vida das pessoas e o sol quente movia rapidamente passos humanos pelas ruas de uma pequena cidade. A cena, porém, é um pouco mais distante: uma pista na saída daquela cidade permanecia calma. O vento balançava o capim que nascia estreito e verde perto do acostamento. Poucas casas havia ali por perto. Contava-se duas ou três, no máximo, a algumas centenas de metros de distância. De muito longe, ouvia-se o barulho de algumas crianças brincando, perdido no eco do vento. Ao lado da pista, a cerca de 10 metros, em meio a algum mato crescido e com forte cheiro, havia um esgoto. Local abandonado e esquecido.
Depois de algum silêncio, com o vento quieto e alguns grilos, uma picape velha parou. O som dos pneus de borracha massacrando a terra invadiu a serenidade daquele mato baixo. O motor desligou-se como uma tosse grave. Era uma D-10 cinza e suja. Ouviu-se o barulho do tilintar de uma porta enferrujada sendo aberta. Passos de botas com sola de borracha foram atritando no pouco cascalho no acostamento. Um barulho seco de zíper abrindo, e logo um fluxo de pouca água foi ouvido caindo no chão. Um homem urinava ali. Olhando para um lado e para o outro da pista, em vigia para saber se vinha carros ou alguém, rapidamente notou de relance uma pele branca escondida no verde do mato. O homem fechou o zíper da calça e foi se movendo entre o mato, dobrando o capim, com altos e cuidadosos passos, e uma expressão de desentendimento e curiosidade misturada com espanto. O que ele sentiu nos próximos segundos em que desvelava aquela coisa branca camuflada foi uma sensação paralisante que o deixou por alguns minutos atônito e sem reação.
Cerca de meia hora depois a polícia estava lá. Havia ali uma jovem na lama, de mais ou menos 16 anos, de cabelos cor de trigo, pele branca, média estatura. Estava nua, com moscas ao redor da sua boca, ouvidos, olhos e vagina, com um pouco de sangue coagulado ao redor da cabeça. Os olhos estavam entreabertos, as pupilas esbranquiçadas já não brilhavam com tanta vivacidade. Seus dedos estavam pálidos, assim como seus lábios. Estavam secos e rugosos os olhos. Havia muito sangue coagulado ao redor da sua cabeça. Notava-se pelo cabelo com manchas volumosas de vermelho-escuro. A garota permanecia ali, com pernas um pouco entortadas para dentro, uma mão na barriga e outra ao lado do corpo, mostrando a palma.
A sua pele estava já adquirindo um tom púrpura. Vestia apenas meias listradas de cores roxo e vermelho. Jazia naquele esgoto, deitada na lama pútrida, com moscas entrando em todos os seus orifícios, e com um rígido sorriso pela metade na boca entreaberta. Uma garota de meias listradas e morta.