***Amarelas Não! Vermelhas e Brancas Sim!!!***
Não somos diferentes de nenhum outro casal que, por sonhar com a continuidade da espécie, no amor que nos une, teve o privilégio de gerar os frutos desse amor . Eu e Elizabeth nos conhecemos no ano de 1966, quando completava meus 17 anos e ela, seus doze .
Por desígnios de Deus, ali no Cine Avenida, nós trocamos o primeiro olhar , o primeiro afago , sendo o início de uma vida cuja parceria e amor já duram mais de quarenta anos. Vivemos sempre em harmonia. Apesar das dificuldade iniciais por sermos jovens e pobres, tudo sempre foi feito acreditando em Deus e aceitando seus desígnios em nossas vidas. A história que contarei aqui foi protagonizada por nós e por uma mulher cuja admiração e respeito chega ao patamar da santidade:Conceição Teixeira, uma super-mãe, uma vidente incontestável e fantástica . Somente quem não conhece a Conceição não sabe do seu trabalho, sua dedicação aos filhos adotados e a todos que na dor a procuram. Sua sapiência vai além da nossa vã filosofia ( como diria o grande Shakespeare ) e chega às raias do fantástico. Quando é procurada, surpreende até aos mais céticos e mais ferrenhos opositores do espiritismo, com sua vidência e suas afirmações sobre fatos e pessoas que fizeram ou fazem parte da vida destes, sem jamais ter-lhes conhecido ou sequer ouvido um simples comentário acerca delas. Assim aconteceu com minha esposa e comigo,quando amargávamos a dor terrível da trágica passagem de nosso filho, Michel,para um outro plano,ao ter levado um choque cujas conseqüências o levaram à morte . Conceição foi uma tábua de salvação em meio ao mar dos nossos tormentos . Foram tantas as afirmações e respostas, que não tínhamos como duvidar: estávamos diante de alguém privilegiada por Deus e com um dom acima da nossa compreensão. Estivemos várias vezes com ela e em todas saímos extasiados com as suas afirmações sobre as manifestações de nosso querido filho, dizendo coisas que apenas nós conhecíamos, por serem muito intimas. Em uma dessas visitas, ela nos fez um relato tão fantástico, que resolvi contar-lhes como história,para que possam analisar e tirar suas próprias conclusões. Por ser de tal beleza e veracidade , chega a arrepiar meus cabelos enquanto lhes faço a narrativa. Elizabeth, naquela terça-feira, veio carinhosamente e disse-me quase ao pé do ouvido:
- Querido,tu por acaso não vais hoje lá na mãe Cô, levar os biscoitos para as crianças ?
- Estou saindo para lá, assim que descarregar o material de trabalho , respondi sorrindo.
- Eu quero ir contigo ,pois tive um lindo sonho com o Michel, e ela quer falar comigo a respeito.
- Tudo bem ,então já podemos ir , retruquei.
Liguei o carro,deixando o motor aquecer e fui conferir os sacos de biscoitos e bolachas que havia comprado dos meus amigos Ruivo (Biscoitos Zezé). Tinha que separá-los, pois seriam divididos entre a Casa Santo Antônio, a Casa da Criança S.F. de Paula e a Conceição. Depois de conferido, chamei a Elizabeth que já esperava e saímos em direção ao centro da cidade pois nossa residência fica na praia do Laranjal . Passamos primeiro na Casa Santo Antônio, distribuímos os sacos e fomos direto à vila Castilhos ,local da moradia de nossa mãe Cô. Quando as crianças nos viram ,foi uma balbúrdia só. Gritos de alegria e manifestações de ajuda, para descarregar o carro não faltaram. Até o Abraão veio timidamente cumprimentar-me com o seu jeito peculiar de fazê-lo. Enfim, parecia que seria uma linda e prazerosa festa. Conceição surgiu na porta, ao fundo do corredor, e com um belo sorriso veio a nosso encontro ,dizendo a seguir :
- Minha querida Betinha,estava justamente pensando em você e naquela coisa amada que é a minha nega sapeca; Lizi, que está morando em Rio Grande. Entrem que a casa é de vocês e eu tenho algumas coisas para dizer-lhes a respeito do Michel . Pegando Elizabeth pelo braço,levou-a em direção ao salão da prece. Enquanto eu entregava os sacos à Sonia, sua fiel companheira, e me via cercado pela criançada, elas conversavam e riam em tom alto ,que podiam ser ouvidas lá na cozinha.
A curiosidade já fez várias vítimas ,mesmo assim eu fui matar a minha para saber o motivo de tal alegria.
- Por que riem as garotas com tanto gosto? Será por colocarem as fofocas em dia ? Perguntei brincando !
- Mais ou menos, querido.Na verdade é pelas poucas e boas que a sapeca da tua filha,que eu amo de paixão ,vivia me aprontando,quando ainda era casada com o Ico, respondeu Conceição.
- Ah bom, pensei que estavam falando de mim .
Nisso,Conceição silenciou e,com os olhos fixos, ficou inerte,como a ouvir alguém que lhe falava. Após intermináveis minutos,finalmente virou-se em direção a nós:
- Meus filhos ,...por favor ele está pedindo que vocês não levem a mal; o Michel diz que daquelas flores amarelas ele não gosta muito,que ele gosta mesmo das vermelhas e brancas que vocês sempre colocaram pra ele. Pede que não entendam mal, viu?...
Naquele exato momento, o céu despencou sobre nossa cabeça e incontinenti, nossas lágrimas misturaram-se, pois corremos a nos abraçar e choramos copiosamente. Conceição ficou quieta e,sem dizer nada ,nos enlaçou em seus braços. Deu-nos um beijo na testa e nos acompanhou até a porta do carro. Nossa emoção era tanta que apenas me lembro de ter me despedido com um aceno de mãos.
Parei o carro mais adiante e resolvi indagar a mim mesmo e a minha Elizabeth ,se tínhamos ouvido realmente aquelas palavras e a maneira como elas foram ditas. Perguntas vinham a minha cabeça, mas ficavam sem resposta . Conclusão, Michel realmente havia se manifestado através daquela maravilhosa Médium .Caso contrário,alguém teria contado a ela ,que desde o dia do seu desencarne eu colocava três botões de rosa vermelhas e três botões de rosa branca no pôster de Michel. Teriam também contado que,no lançamento do meu primeiro livro, havia recebido um verdadeiro mar de flores,dos meus amigos e clientes, e que no meio dessas flores havia um lindo arranjo de crisântemos amarelos,cuja beleza chamou a atenção de Elizabeth, que resolveu colocá-lo no lugar das rosas vermelhas e brancas, motivando a sua reclamação e manifestação. Em primeiro lugar,Conceição jamais esteve em nossa casa ,na praia do Laranjal, muito menos na firma da Osório. Temos também a convicção de que ninguém lhe contou sobre as flores, até porque, Lizi, não sabia das flores e passou um longo tempo abatida pelo trágico desencarne do irmão, não vindo por um bom tempo a Pelotas. Michel mostrou a sua personalidade e o seu jeito de ser irreverente mais uma vez, pois,mesmo estando do outro lado,achou uma maneira de dizer que a sua cor do coração era o vermelho e o branco ,e que não havia gostado da troca . Utilizando a médium, provou à mãe que era ele , por ser o único que sabia sobre as flores .
Pode isso?!!! Claro que pode!!! Eu vi e ouvi de uma mulher incrível, fantástica,abnegada pela sua causa e que tem demonstrado o seu valor com humildade e carinho por nós que temos o privilégio de conhecê-la e admirá-la: Mãe Cô.
Quanto a mim e minha esposa,jamais voltamos a trocar as flores, muito menos a sua côr, pois não queremos contrariá-lo em nenhuma hipótese, viu “Filho Querido ?
Fim (ou início)