A SORTE DO SAPO
Aquele sapo teve a grande sorte de encontrar em seu caminho de dores alguém daquela estirpe.
Aconteceu num dia em que estávamos, eu e a minha amiga de infãncia um pouco mais velha do que eu, a Angelina, brincando de "casinha" e encontramos, por acaso, um sapo dentro de um barreiro (um buraco de onde se tirara barro para serviços de alvenaria da casa onde ela morava, que era a casa dos seus avós maternos, eu imagino, já que a terra em volta era dos mesmos). O sapo estava muito doente. Alguém havia jogado água de sal em seu lombo e ele estava coberto de bichos (tapurus) que lhe foram despositados pelas moscas e que lhe roíam as carnes, apodrecidas pelo efeito do sal, pouco a pouco.
Ao ver aquilo, Angelina não contou estórias! pegou o sapo e o levou para casa, escondendo-o da sua mãe que poderia ter sido a própria autora daquela maldade, e cuidou do bicho até vê-lo são.
Esse foi o maior exemplo de bondade que eu presenciei até hoje. E foi praticado por uma menina considerada má por toda a vizinhança, por ser a mesma, segundo eles, muito levada e muito malcriada. É que algumas pessoas costumam julgar outras sem conhecer a verdade de cada um.
Angelina era uma menina inteligente e sensível. Além de um coração de anjo, o que já foi demonstrado acima, ela tinha uma capacidade de aprendizado e um capricho especial quando fazia qualquer coisa. Quando bricáva-mos de bonecas, por exemplo, era ela quem costurava as roupas das suas e das minhas. Fazia vestidos perfeitos. Bem costurados (à mão) e sempre acompanhando a moda. Lembro de um modelo de época que ela fez para uma das minhas bruxas de pano: um "mil-e-uma noites" - o godê (saia rodada sem costuras) com um babado pregado na mesma e enfeitado com um debrum enviezado e largo que acabava com um laço bem feito do lado esquerdo. Era lindo!
- Bons tempos, Angelina! Deus te dê tudo com que sempre sonhastes.
Rosa Ramos Regis
Natal/RN
2005
Aquele sapo teve a grande sorte de encontrar em seu caminho de dores alguém daquela estirpe.
Aconteceu num dia em que estávamos, eu e a minha amiga de infãncia um pouco mais velha do que eu, a Angelina, brincando de "casinha" e encontramos, por acaso, um sapo dentro de um barreiro (um buraco de onde se tirara barro para serviços de alvenaria da casa onde ela morava, que era a casa dos seus avós maternos, eu imagino, já que a terra em volta era dos mesmos). O sapo estava muito doente. Alguém havia jogado água de sal em seu lombo e ele estava coberto de bichos (tapurus) que lhe foram despositados pelas moscas e que lhe roíam as carnes, apodrecidas pelo efeito do sal, pouco a pouco.
Ao ver aquilo, Angelina não contou estórias! pegou o sapo e o levou para casa, escondendo-o da sua mãe que poderia ter sido a própria autora daquela maldade, e cuidou do bicho até vê-lo são.
Esse foi o maior exemplo de bondade que eu presenciei até hoje. E foi praticado por uma menina considerada má por toda a vizinhança, por ser a mesma, segundo eles, muito levada e muito malcriada. É que algumas pessoas costumam julgar outras sem conhecer a verdade de cada um.
Angelina era uma menina inteligente e sensível. Além de um coração de anjo, o que já foi demonstrado acima, ela tinha uma capacidade de aprendizado e um capricho especial quando fazia qualquer coisa. Quando bricáva-mos de bonecas, por exemplo, era ela quem costurava as roupas das suas e das minhas. Fazia vestidos perfeitos. Bem costurados (à mão) e sempre acompanhando a moda. Lembro de um modelo de época que ela fez para uma das minhas bruxas de pano: um "mil-e-uma noites" - o godê (saia rodada sem costuras) com um babado pregado na mesma e enfeitado com um debrum enviezado e largo que acabava com um laço bem feito do lado esquerdo. Era lindo!
- Bons tempos, Angelina! Deus te dê tudo com que sempre sonhastes.
Rosa Ramos Regis
Natal/RN
2005