Balé de Aleivosia - 4ª parte
Balé de Aleivosia – 4ª parte.
"O que não provoca a morte, faz com que fique mais forte."
- Está todo mundo bem? – A voz acompanhada de cinzas e uma fumaça amarga como respiração gasta, a boca sugando aquele ar de restos queimado, tóxicos invadindo a carne. As respostas soaram com tossidos e resmungos de todas as partes... Perguntas, perguntas, perguntas, desespero, uma contração, dois chutes do bebê... Respostas? Não, só indignação. A casa de Dimytrius era fogo e pó.
- Eu não tenho onde morar, não tenho pra onde ir. O que aquele filho da mãe pensa que é? Aquele merda, ele me paga! Eu vou mata-lo com as próprias mãos, desgraçado!
Lola Pietra o interrompeu tranqüila:- Cuidado com o que fala, ele pode te castigar por isso.
- Você vai para minha casa. – O médico Narciso era bom de coração,e tinha o rosto escamado de fuligem. – E se mais alguém quiser também pode ir. – O que era pra ele mais um quarto naquele casarão com piso de mármore que fora do seu pai?
Jeniffer admirou o fogo cintilar em algo no chão, silenciosa aproximou-se, pegou na mão interessada, uma parte das américas parecia estar nas mãos dela: - Olhem, olhem isso daqui. – Fizeram-se todos num único olhar sob a plaqueta que parecia ouro, um nome gravado de um lado... “agente particular Rafael Tenihor”... E do outro lado... “Avenida Claus Renault, Central principal, n° 78”... Quase um endereço.
- Eu vi. – Natália apontava como se fosse um OVNI. – Um daqueles homens que nos fizeram entrar naquela sala estava usando um destes. Provavelmente quem colocou a bomba lá dentro deixou isso cair sem querer. Pareciam solucionar equações de segundo grau através daquela plaqueta, passarinhos cantavam numa árvore alta que não explodira perto deles, indicando o amanhecer.
Olharam-se como produtos de uma vitrine, o leite chegava em algumas casas, trabalhadores de uniforme passavam e espantavam-se pelas chamas consumindo o que fora um lar.
- Guarde com você, porque tenho quase certeza de que nos encontraremos novamente. – Clamou Narciso. – E acho que é hora de irmos.
- Eu sabia que aquele convite era muito estranho, bom demais pra ser verdade... Com licença, eu tenho que fazer algo muito importante, adeus. – E Marki foi de encontro as labaredas que dominavam a casa de Dimytrius.
O jornalista tropeçou na raiz da árvore, agarrou desentendido o braço do chef de cozinha que andava calmamente. – Onde você vai? O que ta pensando em fazer?
Estacionou as pernas como alguém procurando de onde vinha aquela voz: - Oras, eu vou me matar cara, e não tente me impedir, tire estas mãos de mim... Eu já vi isso antes, ou será que você não vê filmes, seriados, sei lá, qualquer porcaria dessas que passa na TV. Isso se passa na vidas das pessoas, e se elas conseguem escapar, o que acontece com dez por cento do elenco, ficam com seqüelas no corpo e traumatizadas, piradinhas de vez... E não quero isso comigo, porque estou vendo que não vamos escapar, então de sofrer demais com essa loucura vou acabar com a coisa toda ao menos pra mim.
- Muito bem o Sr. Hollywood, sua imaginação é mesmo fantástica.- Lola aproximou-se como um general. – E você acha que cometendo suicídio realmente vai resolver algo? - Sua bolsinha ornada de lantejoula prata caiu no barro. – juntou brigando com aquele que parecia seu velho conhecido: - Nós temos que nos unir, aí você vai se matar pra que? Pra termos que justificar mais isso, e passarmos horas na delegacia? Seja forte, estamos juntos nessa... A coisa, que nem sabemos o que é de verdade começou... – Ela limpou uma lantejoula mais opaca com as unhas. - ... E você já quer desistir. Não seja covarde, vamos lá.
E saíram daquele calor pra irem embora e darem lugar ao corpo de bombeiros aglomerando multidão...
"Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados."
Tudo o que se sabe é que talvez tudo tenha começado de duas formas: ou uma força superior (chamada mais popularmente de Deus) criou tudo, no entanto, outros defendem que o planeta terra partiu de uma explosão, e vieram os dinossauros, e depois os primeiros ‘homo sapiens’, e esta espécie evolui, surgiram tantas outras, e deixaram de comer carne crua para pedirem mc’ donalds em balcões apertados e reclamarem sem motivos de uma gordura demasiada em locais específicos... Conheceram a força da natureza, das chuvas, vulcões, terremotos, que a vida é como Deus quer... O que torna tudo mais emocionante!
Deixaram suas cavernas para matarem árvores e construírem seus inóspitos chalés para o verão. Cortaram os cabelos, tingiram-no e reclamaram com o gerente do salão de beleza, vestiram-se com grifes caras e desconfortáveis... descobriram o status, o mundo real e abstrato, dominaram quase todas as coisas, e vida ainda é como Deus quer... O torna tudo mais emocionante! Sem data certa pra acabar, sem o que prever a um segundo...O que torna tudo mais emocionante. Um jogo de videogame, um filme de ação, uma aventurinha emocionante chamada vida!
Jeniffer provinha de uma família de stripper, mas amãe se aposentara bem e viajava no momento, com avó, mãe e tias ela adquirira todo o conhecimento preciso para ser a maior do ramo, alguns homens já haviam assistido toda a família e não cansavam-se, mas quando queriam cama ganhavam uma cara fechada, uma carteira de trabalho gasta e assinada em ouro estampava-se na testa delas. Sozinha em casa, não contara nada a mãe, era melhor que não soubesse, não duvidara de nenhuma palavra daquele homem, por isso era melhor que também não soubessem da mãe dela. Mas a estas alturas já era tarde, ele sabia de tanto, deveria saber da mãe dela viajando também... Incompetência da parte dele se não soubesse, seria um péssimo vilão se não soubesse. Ela viveu seu dia conturbado cantando e arrumando a casa sem parar de pensar nas pessoas e na circunstâncias em que as conhecera. Dimytrius era um homem interessante... Cheiro de queimado. Ah o arroz!
Lola consumia muito queijo, seu medico desde a primeira consulta depois que descobrira a gravidez a mandou comer tudo queijo, porque só queijo pode salvar um feto de tudo. E assim ela fazia. Seu marido ainda dormindo, o marido a qual ela abandonara completamente pois ele a espancava com freqüência, ainda viviam sob o mesmo teto, mas ela já não o queria mais, e ele concordava em ir embora, concordou sem tocar-lhe um dedo. Não era o marido que ela tanto sonhara, não tinha profissão, vivia de bicos, ela quem mantinha a casa com estabilidade com suas aulas de teatro e cachês em apresentações, mas agora grávida muitos papéis não lhe cabiam, e algumas coisas das aulas não conseguia fazer... Mas estava tudo bem, e tudo ficaria ótimo quando ele fosse embora definitivamente. Antes de ir dormir, foi comprar um pedaço de provolone no mini mercado da esquina, não havia conhecidos no estabeleciment, e comprou um quarto de provolone exatos 200 gramas, e algumas mulheres que conversavam trancaram sorrisos e as palavras até ela se fazer ausente.
Klara ficou nua, não disse nada a empregada, apenas que não atenderia ninguém até acordar, tomou banho rápido de chuveiro frio... o mosqueteiro da cama tinha um pequeno rasgado que ela fez não perceber, o filho estava na casa da avó. De corpo fresco e ordens á criadagem, ansiosa pelo futuro incerto a viúva cheia de sucesso adormeceu.
Marki decidiu que seria mais corajoso, a noiva estava viajando a trabalho, os pais falecido muito cedo, antes da puberdade do cozinheiro, e a criatividade por pratos deliciosos lhe assombrava em noites de insônia. Colocou comida aos gatos, jogou-se no sofá do escritório com o computador ligado, algumas pessoas conversando sozinhas no seu messenger.
Voltar para casa podia ser perigoso, então Mauro preferiu encarar o mau humor daquela velha ranhenta e de óculos fundos de garrafa e pagá-la por um quarto junto a um posto de gasolina, cheirando a creolina e com restos de batata frita. Dormir não conseguiria, nem pretendia, Sai pizza chegou e ele só comeu um pedaço, dos outros catou a cebola, não sabia exatamente por que, mas esperava que alguém batesse sua porta, alguém estranho, e enquanto isso não acontecia, deitado na colcha florida pensava e decidia qual a melhor maneira de matara aquele maldito homem. Um pombo aparecei na janela, havia um papelão tampando um buraco no vidro, o pombo o fitou como seu dono.
"Qualquer um pode zangar-se - isto é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa - não é fácil."
Natália fora a pior festa de sua vida. A mãe morta e o pai quase depois daquela noite. Seus saltos por pouco não faiscavam naquele chão lustroso, entrou em casa rápido arrumando as madeixas como se estivesse em um banheiro de boate, ganhou as escadas de vestido curto e cara borrada. Dimytrius não pediu licença, não se fez de rogado, estava faminto e dali viu uma sala de jantar distante, sonolenta, bem posta com café da manhã, um banquete divino com quatro metros de mesa farta e colorida. Narciso como o governante do lar, lhe deu algumas instruções, ele assentiu com a cabeça. Um empregado acompanhou o novo hóspede até seu quarto verde de tinta plástica, sua cama rústica de madeira maciça e o guarda roupa moradia de traças... Uma delicia, aconchego, mas nada como seu lar.
Tomou banho, usou das toalhas alvas do casario, e ouviu uma voz feminina passar em frente a porta do quarto, espiou e era Natália, a seguiu sorrateiro, ela entrou numa porta de extrema com a sua, ele foi até a mesma e iria abri-la quando a mesma se fez sozinha por dentro. –Pois não? – Seus olhos eram anormalmente surpresos, e agora limpos de maquiagem.
- É que desde que te vi naquela festa, eu queria fazer uma coisa... Aproximou-se, os lábios quentes e melosos a fim de tocar os dela... Narciso gritou pela filha lá embaixo. Correram de encontro a voz sem nenhuma expressão ao acaso.
Um comunicado, cada qual a sua maneira, uma voz desconhecida, insossa e apagada. “Esteja junto ao ponto de ônibus mais próximo de sua casa, as 19 horas. Faça isso, ou alguém, você sabe quem, ficará muito zangado.” O choque era tanto, as palavras sem itensidade alguma que nem pensavam em dizer algo em troca, nem obrigado, só um alô de telefonista mal paga.
Obedientes... Obedeceram.
Jeniffer ficou em dúvida, haviam dois pontos muito perto de sua casa, tentou medir, e eram quase idênticos, chegou a conclusão, de que o para a esquerda, era mais perto, e assim o fez como uma garota que vai para o colégio. Triste, sentindo a música do seu desanimado coração. Estava perdida, se ao menos tivesse viajado com a mãe... Poderia não estar passando por isso, poderia não ter queimado aquele arroz.
Quando pensou em pensar, um ônibus pérola de design moderno, arredondado, bonito, parou em frente a ela no ponto, não tinha placas, janelas espelhadas, sim, era aquele mesmo, e homens desceram, ela imóvel trancando a voz, o choro. A vendaram, e ela não reagiu, mas alguém disse a seu ouvido: - Aquele outro ponto fica cinco centímetros mais perto da sua casa.
Um bêbado pediu uma carona, não recebendo jogou sua inofensiva garrafa no veículo. Não sabiam, desconfiavam apenas, e estavam sentados confortavelmente em bancos largos, uns ao lados dos outros. Silêncio, mas todos estavam calmos, ficaram calados esperando, alguns até tentaram dormir, mas as respirações sem ritmo não deixavam. Sabiam que ao seu lado estava alguém, o que dava mais conforto, e foram de um comportamento exemplar, até andarem mais um pouco e sentarem novamente agora num ambiente frio, amarraram suas mãos e puderam contemplar como era difícil, instigadora a vida de um cego, refugiado e sobrevivente: tudo ao mesmo tempo. Mas suas vidas não valiam nada, e o desespero era um irmão siamês bem acomodado, mas controlado.
As respirações geladas, a tensão e queriam apenas ouvir mais uma voz, algo que os deixasse mais confortáveis do que aquela venda.
- Vocês estão aqui porque eu quer uma coisa de cada um. – era o mesmo homeme gordo e feio, mal amado e ridículo que os colocara naquela cilada, porque todos juntos não lhe davam um golpe de qualquer coisa ali mesmo da cadeira e não o matavam de uma vez? Oh destino mais infantil, sujo e traiçoeiro. Ele continuou cm a garganta deles pulsando, tendo raiva porque já sabiam que isso aconteceria... – Todos, com exceção de Natália tem profissões maravilhosas, e o que eu quero. – sua voz era uma tesoura rasgando seda, uma caixa de alfinetes caindo no chão de tão incomoda. – Quero que vocês façam a maior loucura, dentro de suas profissões cheguem no seu limite. Natália fará isso como uma adolescente mimada sabe fazer. A seu modo. É isso que quero, me surpreendam, façam a maior loucura do mundo dentro de suas ocupações e estarão salvos!
"Os pequenos atos que se executam são melhores que todos aqueles grandes que se planejam."
Fim da 4ª parte... Aguarde a 5ª instigante batalha.