Pra que diploma?

Prólogo:

Hoje existe uma supervalorização de diplomas, sobretudo do diploma irrelevante ou desligado do real desempenho de seu possuidor. Felizmente o Conselho Nacional de Educação já disse claramente que experiência é importante. Por essa razão valorizo, o quanto posso, quem igual a mim alia a conquista de um diploma ao empirismo, o qual se opõe ao racionalismo, mas leva ao conhecimento da verdade dura, sofrida e que se arraiga na mente do autodidata com a força que possui todos os axiomas.

Não são poucos os pais, mães ou responsáveis que põem seus filhos e demais dependentes para frequentarem cursos e mais cursos, mesmo com o sacrifício da alimentação, do vestuário e dos cuidados médicos, na ânsia de terem seus "protegidos" um "curriculum vitae" gordo e inútil, mormente quando não praticam, isso é o que de fato acontece, o pouco que aprenderam.

A coqueluche do momento é fazer um curso de Informática. Os pais vaidosos ufanam-se dos filhos que conquistam mais um diploma em uma área tão importante, necessário a um bom emprego e capaz de fazer do incipiente diplomado uma possível fonte de renda complementar da receita familiar.

Qual homérica decepção terá essa família quando o insipiente (Observe a diferença do insipiente com "c" escrito logo acima) e inábil jovem candidatar-se a um concurso e não souber ao menos as vantagens do "CTRL- T, CTRL- C e CTRL- V"! Não estou levando em consideração o sofrimento psicológico, pelo qual passará o concorrente, quando for perquirido sobre os conhecimentos básicos de segurança e comandos potencialmente perigosos utilizados na Informática.

O crucial mesmo será na hora em que o pretensioso "menino ou menina prodígio" for concitado (a) a desenvolver um texto sobre um tema contemporâneo e não souber absolutamente nada acerca do que lhe está sendo solicitado. Não esqueçam que Português ainda é o "bicho papão" nos concursos!

Ora, mesmo sabendo que a liberdade de malfazer (Viu? É assim mesmo que se escreve o malfazer) a ninguém se deve permitir, assim como a de fazer o bem sobeja a todos, pergunto: Por que não incentivar os conquistadores de diplomas a praticarem os ensinamentos que lhes foram ministrados nos cursinhos engodativos dos seus inventores sagazes?

Em 03 de janeiro de 2003, uma sexta-feira de calor desidratante, antes do almoço, resolvi tomar uma cerveja em um barzinho, ao lado de uma das minhas três residências (domicílio tenho apenas um) no Brasil. Estava à toa e não fazia nada de errado ao dar-me o prazer de ser gente comum vez por outra. Aliás, sempre que posso, faço isso sem pejo do ridículo. Nessa ocasião ouvi uma história deveras singular.

Certo governador nordestino fora inspecionar um dos inúmeros Municípios sob sua égide para ver a real necessidade da construção de uma estrada, tendo em vista o mais rápido escoamento dos hortigranjeiros produzidos na região. Consigo levou um engenheiro com cursos e diplomas invejáveis: mestrado e doutorado no exterior, estágios, simpósios e excesso de conhecimentos na difícil Engenharia Civil.

O Excelentíssimo Governador perguntou a um agricultor analfabeto do lugarejo a melhor forma de saber o local exato para a construção da estrada. O bom homem em sua linguagem simples, disse que bastava soltar um jumento carregado e ele faria o traçado perfeito e percurso mais curto até o centro da cidade, dessa forma eram transportados, há muitos anos, os produtos das colheitas.

Certamente a estrada deveria seguir a trilha do animal que, naturalmente, por instinto (Fator inato do comportamento dos animais, variável segundo a espécie, e que se caracteriza, em determinadas condições, por atividades elementares e automáticas), busca seguir o caminho menos dificultoso e mais racional. Isso seria coerente com a pretensão das autoridades no que diz respeito a economia de tempo, trabalho e dinheiro.

O eminente engenheiro acompanhava o diálogo com um ar de desdém.

De ataláia, esperava o momento certo para intervir. Precisava e queria justificar o seu salário, diárias, hospedagens e posição que ocupara na assessoria do governo, cargo recém-criado especialmente para ele, por força e benevolência do nepotismo. Ele, mais do que ninguém, sabia da importância dos seus diplomas conquistados a duras penas e com o sacrifício de inúmeras horas de lazer.

Com a certeza de que ridicularizaria o matuto o engenheiro interveio e arriscou uma pergunta olhando para o governador, na expectativa e/ou exigência de aplausos e elogios que julgava merecedor:

- Como seria feito o escoamento da produção se não existisse o animal? O pobre agricultor coçou a cabeça e cofiando a barba respondeu incontinênti (Não confundir com "incontinenti" - sem o circunflexo):

- Não haveria jeito... Senhores! Nesse caso seriam usados os conhecimentos do doutor engenheiro!

Agora é a vez deste que, às vezes, arvora-se como protótipo da bravura e da altivez. Perfeccionista obstinado, quando escrevo tento reduzir a linha inconsútil que medeia a ficção e a realidade. Protervo, sobretudo quando redijo sobre temas escabrosos ou opostos às conveniências éticas, diplomáticas e sociais... pergunto em sussurro combalido pela descrença nos diplomas conquistados sem o sustentáculo da competência útil e necessária:

Pra que diploma? Para suprir a falta de um jumento? O agricultor, homem simples, teria razão?

Não me queiram, os diletos leitores, interpretar mal por este texto que certamente será duramente criticado pelos colecionadores de diplomas. Visa o mesmo, sem a depreciação das qualidades dos diplomados, alertar a todos para o real valor de uma qualificação eficaz, lastrada no empirismo, com o propósito de sedimentar conhecimentos e aumentar a confiabilidade nos seus trabalhos, criações reais, devaneios ou empreendimentos.

O Jornal do Brasil no dia 3/4/1975 - Caderno "B" - publicou um texto que bem poderá servir de apoio ao meu débil intento. Transcrevo-o "ipsis verbis" (pelas mesmas palavras) na certeza de ser o mesmo um instrumento válido para a minha causa:

TRANSCRIÇÃO:

"Por que essa preocupação exagerada com a ortografia e a gramática? Elas não são tão importantes. Em vez disso: a criança deve ser encorajada a pensar criativamente. Encontrar novas formas de expressão é mais importante do que se apegar às disciplinas formais. Livre das algemas da gramática, a personalidade de uma criança irá desenvolver-se e florescer.

Forças criativas, até então insuspeitadas, serão liberadas. Certamente na época apropriada, o jovem adulto totalmente desabrochado procurará emprego. Mas, graças a sua inabilidade em até mesmo preencher corretamente um formulário de pedido de emprego, muitas portas estarão fechadas para ele. Ele talvez termine numa fábrica, fazendo um serviço repetitivo, cansativo e não especializado.

É certo: o jovem adulto se tornará um frustrado. Caso seja inteligente, saberá manejar criativamente a sua frustração. Nos seus poucos momentos de lazer, nos fins de semana... terá entusiasmo para escrever livros cheios de penetrantes reflexões sobre a sua condição.

Mas, diante da pobreza da sua ortografia e da sua gramática... a essência de seus textos poderá ficar obscura, incomunicável. isso, porém, é um problema menor... os erros gramaticais podem facilmente ser corrigidos por alguém educado dentro dos rigores do velho sistema!". (JORNAL DO BRASIL, 3/4/1975 - Caderno "B").

Tenho a absoluta certeza de que o texto acima transcrito servirá não apenas como apoio aos meus incentivos, mas principalmente para meditação e estudo da importância de se conhecer a Língua Portuguesa e uma exemplar qualificação, independente dos diplomas conquistados.

O amor são fogos (Achando estranha a concordância? Pois saiba que está corretíssima!) que, às vezes, contêm cenocidades incompreendidas. Possui a força de fazer-nos cativos de nossos sonhos e anseios mais volúveis, nefastos, obsessivos. Não é fácil escrever sobre sentimento tão nobre, capaz de unir pensamentos afins ou dicotômicos, mas como prólogo de um ensaio polêmico, poderá este texto responder a questão suscitada: Pra que diploma?

O supracitado início do parágrafo acima mostra uma verdade incontestável: A força que possui o amor! Não se trata de uma simples demonstração de Instrução vasta e variada, adquirida sobretudo pela leitura, mas sim do virar de uma moeda para se observar o seu outro lado na compreensão do real significado das vantagens do conhecimento empírico, da forma de escrever utilizando-se de palavras enriquecidas pelo vocabulário utilizado.

Claro que esse conhecimento poderá ser adquirido sem a conquista de diplomas. Entretanto, todos sabemos: quando se frequenta uma faculdade não se pensa em outra coisa que não seja a conquista do tão famoso canudo, o qual irá permanecer por um bom tempo em um quadro de parede ou entre sonhos adormecidos sem ocasião certa para o despertar.

Já faz mais de quatro décadas e ainda retenho na memória a figura do velho Samuel (já falecido) amigo de meu saudoso papai Muniz. Eles proseavam diariamente e nada mais faziam entre oito e onze horas da manhã - morávamos no Bairro da Bela Vista - Cidade de Campina Grande-PB. Jactava-se, sem ufanismo doentio, o velho e bondoso ancião, ao demonstrar "de cor e salteado" seus conhecimentos empíricos, quando citava os nomes das capitais dos Estados e Territórios (naquele tempo havia Territórios) de nosso imenso Brasil.

Ele tampouco deixava de enumerar as capitais do mundo e, como se não bastasse, citava detalhes sobre as importações e exportações, nomes dos políticos e situações socioeconômicas de todas as nações dos cinco continentes (Europa, Ásia, África, América e Oceânia). O velho Samuel era o meu líder e eu desejava ser igual àquele senhor que a todos encantava com suas histórias, suas piadas, seus conhecimentos adquiridos na escola da vida.

Sobre os conflitos mundiais ele sabia detalhes que eu estudante nunca vira escrito em livro algum! Esse era o velho Samuel que eu admirava pelos ensinamentos transmitidos aos jovens de minha idade, quando ele pouco sabia ler e escrever (demonstrava essa limitação na pronúncia errada das palavras).

Dizia o velho Samuel, com um sorriso inocente, após uma gosmenta cusparada: "... Não tenho diploma mais sei das coisas..."!

Qual o segredo daquele bom homem? Ele me confessou: Escutar a voz do Brasil, BBC de Londres, ler todos os dias algumas páginas da Bíblia e, todos os noticiosos, dizia ele, tinham suas reais importâncias.

Volto a perguntar: Pra que diploma? Pelo que me consta os diplomas só servem como prova de títulos. Conhecimentos não são adquiridos através deles! Estou certo? Sim. Estou certíssimo! Tenho alguns diplomas, mas o meu real e contínuo aprendizado (nunca parei de pelejar e aprender) baseia-se no empirismo porque é a base do saber.