Sem Perversão

I

— Ah, será que isso é verdade?

— Dizem que funciona mesmo — deu uma breve pausa. — Sabe a Joana?

— A da rua das flores?

— Essa mesma. Então, ela disse que o pão é uma delícia, e o resultado com o marido foi uma maravilha.

— Sério? Acho que vou comprar esse tal pão pra mim e pro Marcos também. Ultimamente ele só pensa no flamengo e esquece que tem uma boceta esperando por ele lá no quarto.

— Ah, não liga não os homens são assim mesmo, mas tenha fé que o pão vai funcionar.

— Ahhhhh — gritou alegre e saltitante —, estou confiante que sim amiga — e começou a rir de uma maneira estranha e assustadora onde o bafo fedido de suas gargalhadas saia pelo nariz.

As duas irmãs seguiram pela extensa Av. Tancredo Neves até chegarem em suas respectivas casas, uma do lado da outra.

A casa amarela de grades e janelas pretas, estilo capa de “The Velvet Underground & Nico” era de Dolores, a irmã mais velha. Morava com seu marido Jeorge e sua filha Judite. Aparentemente era uma família perfeita, mas como todo mundo sabe, nada é perfeito, ainda mais quando escondemos coisas um do outro ou mentimos.

Mentira nº. 1: [Dolores: — Eu casei virgem].

Mentira nº. 2: [Jeorge: — Eu nunca usei drogas].

Mentira nº. 3: [Judite: — Eu não freqüento bares gls!].

Mentira nº. 4: [Dolores: — Prometo que não conto seu segredo pra ninguém].

Mentira nº. 5: [Jeorge: — Eu não sou machista, sempre tento compreender minha esposa e filha].

Mentira nº. 6: [Judite: — Na verdade eu não estava beijando a Fernanda, eu só estava sentindo o cheiro do perfume dela].

Bom, na casa verde pistache ao lado morava Felipa, a irmã mais nova, e seu marido Marcos. Felipa era toda “Sim” e Marcos era todo “Não”.

[Marcos: — Quer se casar comigo?]

[Marcos: — Faz pipoca?]

[Marcos: — Vai comprar cigarro pra mim?]

[Marcos: — Me chupa?]

[Marcos: — Me libera o traseiro só desta vez?]

[Marcos: — Vai, me libera mais uma vez só?]

[Marcos: — Faz panqueca?]

[Marcos: — Me dá a bunda de novo vai, deixa de manha?]

[Marcos: — Hoje à noite você vai dar o cu pra mim de novo beleza?]

Para todas as perguntas tais como essas Felipa dizia “Sim”.

[Felipa: — Me chama de amorzinho?]

[Felipa: — Me faz uma massagem nas costa?]

[Felipa: — Lava a louça hoje amor?]

[Felipa: — Me ajuda a estender a roupa?]

[Felipa: — Me chupa?

[Felipa: — Vamos deixar o traseiro pra amanhã amor?

[Felipa: — Vamos fazer amor como fazíamos antigamente?

[Felipa: — Me dá mais um espaço na cama?

[Felipa: — Vamos ao psicólogo?

Para todas perguntas tais como essa, Marcos respondia “Não”.

II

Felipa estava ansiosa em sua casa a espera de que a vendedora de pães caseiros bate-se a sua porta. O seviço de casa já havia acabado, não havia nada para ela fazer, por isso estava estirada no sofá como um lagarto atropelado na beira da rodovia. A TV estava ligada e cozinhando seu cérebro como o sol cozinha o miolo de um lagarto morto.

— Você vai pegar os legumes e colocar todos em um refratário oval, tome cuidado para que os champignons não fiquem na borda — dizia a moça da TV no seu programa matinal diário, parecia que ela sabia o que estava fazendo, mas espera aí champignons não são legumes.

Felipa procurou o controle da TV desorientadamente, estava meio tonta literalmente. Sem esperar ela ouviu palmas no portão.

— A vendedora de pães! Eu havia me esquecido.

Ela se levantou do sofá rapidamente deixando a capa do móvel tão amarrotada quanto um cão sharpei gordo e velho.

Ela correu ansiosa para comprar seu pão, mas antes de abrir a porta, um obstáculo fatal para a conclusão do seu esperado objetivo. Maria corria como uma lebre em câmera lenta em direção a porta quando escorregou no tapete de pele de ovelha que sua tia lhe dera ano passado. A vingança da ovelha, quem mandou matarem ela por mero embelezamento. Bem feito para Felipa, se estatelou no chão feito um tapete velho, a pobre ovelha riria se pudesse. Felipa gemeu.

— Ahhhh!!!

Ninguém ouviu, do lado de fora da casa a vendedora de pães batia palmas. Felipa gemeu de novo e dessa vez uma liga cristalina de baba escorreu de seus lábios e tocou o chão.

Felipa sentia muita dor na perna direita. Ela tentou se levantar, mas não conseguiu, foi o mesmo que tentar caminhar sobre água, e acredite, Jesus não deu uma mãozinha para ela. Ela deitou-se sobre o tapete de pele e usou os braços para se arrastar em direção ao sofá. Ela gemia de novo, mas desta vez era de tanta força que fazia nos braços. Estava se sentindo uma Beatrix Kido quando teve uma câimbra no braço esquerdo e ficou ali parada até que sua irmã chegou para lhe pedir uma lata de óleo emprestada e se deparou com a situação.

III

— Meu Deus! O que aconteceu Felipa? — exclamou Dolores, espantada com a situação.

Dolores correu para ajudar a irmã. Eram exatamente 14h26min, e nesse exato momento no escritório de Marcos, uma situação desconfortável estava para acontecer.

Marcos estava cansado de problemas, eram toneladas de papéis para assinar todos os dias, um ápice de estresse rodeava a sua cabeça. Isso era comum, por vezes Marcos encontrava-se estressado por causa do trabalho, mas ele tinha o seu remedinho para isso.

Marcos levantou-se e deixou o escritório sozinho por um momento. Lápis, caneta, papel, grampo... Ele deixou tudo para trás levando apenas sua pasta negra para o banheiro. Ele trancou a porta do banheiro afrouxou a gravata, tirou o cinto e desabotoou as calças, um pouco mais rápido de como ele estava acostumado a desabotoar o vestido de sua esposa, se bem que isso não acontecia há algum tempo. Desabotoada a calça ele abaixou-a até o meio das pernas, mas a gravidade fez com que elas parassem no chão. Com o pintinho de fora, ele abriu a sua pasta e dela tirou uma revista pornográfica. O nome da revista era “Androgynous Party”, umas das mais famosas revistas gays da Inglaterra. Marcos começou a se masturbar se saciando com as fotos de meninos afeminados. Como ele queria penetrar naquelas bundas brancas de jovenzinhos europeus. Ele acariciava a cabeça de seu pau, imaginando que sua mão fosse a boca macia de um garoto de cintura fina. Ele folheou a revista toda e pegou outra na bolsa, desta vez uma só de travestis, continuou se masturbando. Olhou revistas e mais revistas, entre andrógenos e travestis, por ora ele se divertia vendo imagens de sadomasoquismo e até mesmo incesto entre irmãos do mesmo sexo.

Ele terminou sua punheta regular gozando sobre a foto de um travesti enfiando uma banana no cu.

— Ohhhh. — ele gemeu.

Arrancou a folha suja por esperma da revista e foi surpreendido por alguém que batia na porta do banheiro. Ele não jogaria aquela folha no cesto de lixo, a faxineira poderia vistoriar o conteúdo do cesto. Ele amassou o papel e o enfiou no bolso do paletó. Vestiu suas calças e arrumou a gravata. Pronto. Ele deu a descarga para disfarçar, gastando água limpa a toa, que inútil. Ele saiu do banheiro e sua secretaria estava sentada a sua espera. Ela o encarou e um silêncio desconfortável se instalou entre os dois. Ele deu uma engasgada e perguntou:

— O que foi Clarice?

— Sua mulher está no telefone e disse que é urgente. — disse a secretária, loura e magricela arrumando os seus óculos de armação francesa.

Marcos se aproximou de sua mesa para atender ao telefone, depositou a pasta sobre a escrivanhia com cuidado, era uma pasta preciosa, afinal de contas, todos os seus desejos sexuais mais secretos estavam ali. Ele tirou o paletó e o entregou para Clarice, para que ela pudesse guardá-lo. Em pé mesmo, Marcos atendeu ao telefone. Suas mão esquerda estava depositada sobre a pasta negra. Clarice estava de costas para o chefe indo guardar o seu paletó, quando de dentro do bolso algo caiu. Algo estranho, leve e fedido. Clarisse se abaixou pegou o papel e teve um susto quando viu um travesti com uma banana na bunda. Ela olhou para o seu chefinho se indagando pelo fato. Ela escondeu o papel e preferiu não mostrar, mas um grito de Marcos lhe chamara a atenção. Ela se voltou para seu chefe que com o susto que teve no telefone acabou derrubando sua pasta e revelando todos os seus fetiches sexuais para Clarisse. Eram exatamente 15h17min horas, e nesse momento tão constrangedor para Marcos, Felipa e Dolores estavam em casa ligando para escritório de Marcos e dando a notícia de que Felipa havia fraturado uma perna.

IV

Após Marcos ter desligado o telefone na cara de Dolores. Ela ligou para a ambulância, isso depois dela ter xingado o seu cunhado e a mãe dele. Felipa ajudou acrescentando péssimos adjetivos tanto para o marido quanto pra sogra.

Felipa foi para o hospital às 16h12min. Dolores a acompanhou.

No percurso até o hospital o treme-treme da ambulância inexplicavelmente fez com que Dolores lembra-se de alguma coisa. Não hávia nexo nenhum com o mexe-mexe-, digo o treme-treme, mas Dolores lembrou de algo que deixaria Felipa feliz.

— Ah! Tata... Lembrei de uma coisa.

Felipa gemendo disse:

— Que foi Lô?... Ai. — ela deu um gritinho graças a um quebra-molas.

— Eu comprei o último pão do amor.

— Pão do amor? Que isso?

— Como assim que isso? É o pão que serve pra esquentar a relação? Tu ta lerda em menina!

— Ahhh... ta. Eu nem sabia que era pão do amor o nome.

— Eu também não, foi a vendedora que me falou. E ela disse também que só de uma pessoa do casal comer já está valendo. O pão é dotado de uma magia que se passa através do beijo. Mas eu aconselho os nossos maridos comerem também que daí ela falou que o negócio pega fogo mesmo.

Felipa riu e disse:

— Bom parece que você vai dividir seu pão comigo então.

— Divido sim, mas você vai ficar me devendo, quero em dobro da próxima vez.

— Tudo bem, pode me cobrar qualquer favor que você quiser. To vendo que vou pegar o Marcos de jeito dessa vez, ele que não seja besta de me escapar.

— Sei, você com essa perna torta aí não vai conseguir nem fazer papai e mamãe. — Dolores riu feito uma hiena.

O enfermeiro que as acompanhava, apenas observava constrangido a conversa das duas, que quando se deram conta da presença masculina dentro do carro ficaram vermelhas como bunda de bebê assada.

O motorista olhou pelo retrovisor e riu delas. Elas ficaram quietas o resto do trajeto.

V

Eram 21h02min de uma terça-feira. Judite estava dentro do ônibus que a trazia de volta para casa. Ela trabalhava como vendedora de ingressos em um dos cinemas da cidade. Entrava as 14:00 e saia as 22:30, mas nesse dia em especial ela saiu mais cedo. Ela disse ao chefe que tinha que ir visitar sua mãe no hospital, mas na verdade ela foi se encontrar com uma garota que ela havia conhecido pela internet, pelo menos estes eram os planos dela. Ela foi até o local, mas quando viu que a garota pessoalmente decidiu que ia pra casa imediatamente. A garota era linda, mas tinha um visual nada comum, usava uma roupa ao estilo do figurino futurístico de Laranja Mecânica. Ela usava uma saia rodada vermelha com desenhos de pequenas tartaruguinhas, na parte de cima algo difícil de se definir, mas era verde e colado ao corpo, era cheio de bolinhas amarelas grudadas a ela, ambas as peças de roupa eram revestidas por um plástico, que deixava o modelito brilhante como água limpa. Sua roupa serviria como um bom espelho para uma garota de passagem. Ou garoto quem sabe. Bom o que importa é que a garota não era nada do que Judite havia esperado. Ela cortou o caminho e fingiu que não sabia de nada. Foi direto para o terminal de ônibus.

Judite chegou em casa as 22h13m, ás luzes da cozinha estavam acesas. Ela limpou os pés no tapete que estava encardido por falta de lavar, e abriu a porta. Entrou em casa e estranhou porque não ouvia barulho nenhum. “Será que não tem ninguém em casa?” ela pensou. Na cozinha, sobre a mesa havia um pedaço de pão, manteiga e leite. Judite de aproximou da mesa, deu uma olhada no pão e não hesitou em levar um pedaço á boca. Ela mastigou e saboreou de vagar. Como era bom, suculento, nunca tinha comido algo tão bom assim em toda sua vida. Ela fechou os olhos e continuou a mastigar. Começou a sentir calor pelo corpo todo, o pão lhe excitara. Ela ouviu um barulho estranho no corredor e logo foi ver o que era. Ela viu algo que deveria surpreendê-la, mas não fez. Uma imagem não comum estava diante de seus olhos. Ela perguntou:

— Tia, o que aconteceu com sua perna? — o toc-toc que a muleta fazia no chão cessou.

Felipa virou na direção da sobrinha, uma imagem que transparecia esplendor encheu os olhos de Judite. Sua tia estava nua, exibindo seus peitos fartos e caídos e sua genitália á depilar. A única coisa que cobria o seu corpo além dos pelos, era a faixa de gaze que enrolava a sua perna torcida.

— Oi querida. — disse suavemente Felipa. — Ajuda a tia ir pro quarto, essa muleta está me matando. — Felipa sorriu com seus lábios finos e vermelhos como sangue.

Judite ajudou a tia que largou a muleta e se apoiou na sobrinha.

Perto de sua tia Judite começou a sentir uma sensação confortável, ela parou por um instante com Felipa em seus braços. As duas se entreolharam como se brincassem de quem ficava mais tempo sem piscar, e involuntariamente se beijaram. Felipa, em toda sua vida nunca tinha experimentado um beijo tão doce, suave e delicado.

As duas foram para o quarto, onde encontraram Dolores, Jeorge e Marcos. Os três estavam nus, se acariciando, beijando e acima de tudo se amando. Judite ajudou a tia a se sentar na cadeira ao lado da cama, e logo começou a tirar a sua roupa também. Ela deixou o uniforme do serviço jogado em um canto, e começou a beijar sua tia. A princípio apenas na boca, mas logo beijava o corpo todo, como de estivesse coberto por calda de chocolate, tão quente que lhe fazia latejar os lábios da vagina. Dolores beijou seu marido e depois beijou Marcos e desceu da cama, sentou-se no próximo a sua irmã e sua filha, e as três começaram uma suruba gloriosa. Enquanto isso Marcos e Jeorge provavam de um amor puro e sincero. Jeorge nunca imaginou que sentiria tanto prazer de outras maneiras, muito menos Marcos. Pela primeira vez na vida os dois haviam trocado amor com pessoas do mesmo sexo, e pela primeira vez os dois descobriram que a maneira de amar não é importante desde que seja um amor sincero. Os dois fizeram papel de ativo e passivo.

Dias como esses se repetiram e continuaram até eles serem separados pelo acaso, ou destino. Eles se amavam todos da mesma maneira. A vida continuou e a relação deles não modificou em nada a não ser em suas maneiras de pensar e agir. Se tornaram pessoas, sem máscaras, puras e verdadeiras. Seria esse o efeito do pão do amor? Que pão misterioso seria esse?

VI

Mariah era uma vendedora de pães. Ela aprendeu essa arte com sua vó, mas o verdadeiro mistério do seu pão veio de antes. Mariah era uma descendente de feiticeira, e com sua magia, ela procurava espalhar o bem, o amor e a verdade pras pessoas.

Toda sexta-feira á meia-noite, Mariah preparava o pão do amor. A receita é simples: farinha, ovos, leite, fermento, açúcar e sal. Mas a magia está na maneira como é preparado, para funcionar o pão deve ser preparado com amor. A luz de velas ela passava a noite a fazer os pães.

Na sexta-feira em que foi feito o pão que posteriormente Dolores comprou estava frio. Mas isso não era problema para o pão do amor, quando se tem calor humano mais verdade tudo se torna mágico. Mariah misturou todos os ingredientes em uma bacia de madeira. Ela fazia uma grande quantidade de pão de uma só vez, a massa ficou maior do que Mariah e o peso devia ter o dobro que o seu. Depois de tudo muito misturado e amassado, chegou a hora do amor. Mariah pegou a massa com força e despejou sobre a mesa. Ela se posicionou de frente para a mesa, compassadamente desabotoou o seu vestido despindo-se dele. Ela subiu sobre a massa de pão fazendo com que ficasse entre as suas pernas. Ela começou a amassar a massa com o seu corpo. A princípio de vagar, mas aumentando a velocidade conforme crescia o seu prazer. Sua vagina estava quente e suculenta. Ela fazia fortes pressões contra a massa que por hora sentia o molhado que saia de Mariah. Os seios pequenos de Mariah tremiam, sua pele branca brilhava a luz amarela e a chama da vela cintilava sem cessar.

Samuel Farias
Enviado por Samuel Farias em 04/01/2009
Reeditado em 22/03/2011
Código do texto: T1367405
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