Dia de azar
Querido diário,
Hoje acordei naqueles dias. Nem devia ter me levantado da cama, mas aquele maldito rádio-relógio liga sempre às sete horas. Será que não dá pra programar finais de semana nele? Qualquer hora jogo aquele idiota contra a parede!
Mas hoje se não fosse o rádio-relógio seria o telefone. Não é que tem gente mal educada que liga pra casa dos outros às sete e meia da manhã? Meu essa gente não dorme né? Caramba, quando eu desliguei o infeliz do relógio pra dar mais um soninho de quarenta minutos me vem esse demônio do telefone tilintar no meu ouvido. Putz, mas quando encontrar meu irmão vamos acertar isso. E sabe pra que ele me acordou diário? Pra me avisar que estava na hora de levantar e que eu poderia me atrasar para a prova do vestibular. Carácas, ele me irritou muito com isso, nem me lembrava dessa tal prova. Eu odeio que me acordem cedo!
Afinal me levantei, pois parecia que havia um complô pra acabar com meu sossego. Vixi, já estava me atrasando. Me vesti rapidinho e passei pela cozinha pra um nescauzinho básico bem geladinho, e chuáá, derramei o copo de chocolate na camiseta. Não te falei que era um complô? Putz, ainda querem que eu me submeta a uma prova de vestibular num dia azarento como de hoje! Voltei correndo pro quarto, troquei pela primeira que estava sobre a poltrona e saí em disparada que nem doida.
No quintal aquele gato fedorento da Dona Fran me espreitou outra vez não me deixando passar. Meu, comecei a gritar: “Tira esse bicho traiçoeiro da minha frente senão eu ponho fogo nele”. Ah, foi belezinha, ela veio que nem bala, de cara feia dizendo que ia me denunciar pra Associação Protetora dos Animais. Eu nem tchum pra ela e saí correndo enquanto gritava que não ia dar tempo disso porque o gato dela tinha as horas contadas. Quem tem gato que cuide dele.
Perdi o ônibus das sete e cinqüenta. É hoje!
Pensei em voltar me deitar de novo e recomeçar, mas havia uma prova me esperando. Mas lá vinha a Dona Wilma com o fusca azulzinho dela. Ela estava indo levar a Vera pra fazer a prova. Acenei e ela parou. Pelo menos uma coisa deu certo hoje. Até o pneu furar e ela não ter o maldito macaco pra trocá-lo. Meu, que zica! Mas aí, ela que é tão expedita, deu sinal pra um táxi e nos mandou para a prova. Santa Wilma! Ufa, chegamos quando os portões estavam fechando.
Prova fácil, pensei eu, molezinha. Fui entrando para a minha sala em meio a uma multidão que caminhava junto. Parecia que estávamos indo pra câmara de gás. Odeio filas!
Lotação completa na sala. Um tom formal entre todos. Silêncio sepulcral. Notei que eu estava roendo o lápis. Que nojento isso! A inspetora pediu: coloquem sobre a carteira o RG e o protocolo de inscrição. Ahn! Meu mundo veio abaixo! Senti meu sangue subir para a face e um formigar na ponta dos dedos.
Maldita hora que troquei de blusa!
Eu disse que seria melhor não ter saído da cama. Não disse?