MARCA DE BATOM
Otaviano (Tavinho) era conhecido por não dar moleza.
Mulher no pedaço era com ele mesmo.
Um franco atirador.
Amasiado com a Maristela (Telinha) tomava lá seus cuidados para não feri-la demais em suas audácias com todas que caíssem na rede.
Tavinho não era muito chegado ao batente, era muito meticuloso com suas vestimentas para aparentar estar bem de vida e xavecar a mulherada nas portas das baladas do pedaço.
Geralmente ficava na porta por que não tinha dinheiro para entrar.
Telinha dava um duro para sustentar os dois, mas não queria se afastar de Tavinho, a despeito da Eminha sua vizinha, quase de parede, lhe aconselhar.
Coloca o Tavinho na linha! Alertava Eminha.
O problema é que Tavinho era primo e amigão do Birinha, companheiro da Eminha.
Birinha, sempre que podia, andava com o Tavinho, o que não dava muito amparo para as argumentações da Eminha.
Nessa lengalenga Tavinho ia enrolando Telinha e todas que aparecessem na área.
Tavinho disse para Telinha que conseguira um emprego noturno.
Apoio operacional de empresa de segurança.
Esses “armários” vestidos de preto que ficam circulando de prédio em prédio pelos bairros usando walkie-talkie e dizendo que está tudo sob controle.
Disse para a companheira que não tinha dia fixo de trabalho.
Segunda a segunda.
Excelente desculpa para ficar pela noite.
E pelo dia também...
Trabalhava das seis da tarde as seis da matina.
Fora as reuniões de treinamento no período diurno
Chegava em casa bem depois que Telinha já havia saído, dormia a primeira parte do sono, dava uma circulada pelo pedaço e voltava para a cama para o segundo tempo até Telinha voltar do batente de diarista e preparar o café antes dele ir para suas duras noites.
Encontrava pouco a Telinha e, também, o Birinha que reclamou um pouco sua ausência e os encontros dos casais.
Telinha, ao contrário, passou a freqüentar mais a casa de Birinha e Eminha, que estava desempregada e não se esforçava para deixar de ser.
Ia quando o Tavinho saia e ficava até o final da novela.
Marca de batom na roupa é um perigo.
Quando a mulher pega já é um bafafá.
Imaginem o oposto!
Eram umas quatro horas da tarde quando o Tavinho voltou para casa de uma de suas andanças pós primeira dose de cama.
Surpresa! Gritou Telinha saindo molhada do banheiro vestindo apenas uma camisa.
O que é isso? Perguntou, já meio furioso, Tavinho.
Saí mais cedo. A patroa vai viajar e me dispensou antes.
O que é isso na gola dessa camisa?
Tavinho enfurecido apontava a marca de batom na gola da camisa que Telinha usava.
Que marca?
Tavinho se fez de macho e engrossou a voz.
Nem deixou a mulher se explicar.
Marca de batom na roupa da mulher?
Telinha estava de caso com alguém?
Com outra mulher?
Deu-lhe uma bolacha, pegou umas roupas e saiu de casa.
Passou a noite fora.
Telinha ficou chorando de dor do tapa e da tristeza do abandono.
Pela manhã, Tavinho nem passou em casa.
Foi para a casa de Birinha, que já havia saído para trabalhar.
Birinha trabalhava das seis da manhã às quatro da tarde como repositor num mercado. E fazia comprovadas horas extras.
Encontrou somente Eminha e contou para ela o ocorrido e disse que iria acabar com o relacionamento com Telinha.
Como era “de casa” foi tomar banho.
Quase morreu do coração ao ver sobre a pia um batom da Eminha exatamente da cor da mancha da camisa que Telinha fora flagrada.
Batom lilás de farmácia de periferia é tudo igual, pensou e conformou-se.
Diabo não dá sossego!
Enquanto tomava o café que Eminha preparara, ficou matutando!
Coitada da Telinha!
Como fora injusto com ela.
Lembrou-se que a camisa que Telinha usava e estava manchada de batom era a mesma que ele tinha usado na visitinha matinal que fizera na véspera para Eminha.
Havia deixado a camisa jogada no chão do banheiro e Telinha para não sair totalmente nua pegara e se embrulhara nela.
Entre um beijo e um abraço em Eminha, disse-lhe que perdoaria Telinha.