UM CONTO DE NATAL
Meu nome é Norberto. Trabalho no escritório de uma grande multinacional na avenida Paulista. Estou com quarenta e dois anos. Sou casado e tenho dois filhos.
O que tenho para relatar nem eu mesmo acredito. Há coisas que são inexplicáveis.
Nunca fui muito adepto de algumas datas festivas. Acho tudo puro comércio. Com exceção do Ano-novo e data de aniversário. Veja bem: Dia das mães, das crianças, dos pais, dos namorados e por aí vai; tudo para aquecer o comércio. Com o Natal pensava o mesmo. Pois o real sentido mesmo – como na Páscoa – poucos têm ciência.
Alguns até achavam-me um chato. Que estava me tornando um velho ranzinza, porém eu contestava.
Então me diga, qual o significado do Natal? Nem mesmo a histórica do Papai Noel vocês conhecem.
Você está amargo demais.
Talvez. É que chega um momento em nossa vida que a fantasia já não consegue mais fazer morada; mesmo nós insistindo.
E conversa vai e papo vem, há um Banco na Paulista que sempre monta temas natalinos.
Que besteira, disse para mim mesmo.
Besteira ou não, quando chegou o natal passado, foi aquela mesma situação: Luzes, papais-noel, anjos e árvores natalinas, dentre outra coisas.
Estava vindo do almoço e avistei o anúncio: “Vistie a casa do Papai Noel”.
Ainda faltava uns vinte e cinco minutos quando resolvi entrar para fugir do calor. Algumas pessoas estavam passeando por dentro da casa exposta do casal Noel. Sentei-me no banco. Acendi meu cigarro, porém, repugnou-me. Apaguei-o. Levantei-me e fui em diração à saída. Olhei no relógio faltavam vinte minutos. Os primeiro cincos minutos pareceram horas.
Quando cheguei até a metade do caminho, olhei para o lado, depois para outro e resolvi entrar. Afinal, a decoração estava de uma beleza profunda. Não havia ninguém no momento na casa Noel. Comecei pelo quarto. As almofadas, um cachorro rosksiberino filhotinho muito verossimilhante. Fui para a sala. Uma lareira aconchegante, nos sofás gatos e ajundantes do velhinho. Assim, quando adentrei-me à sala algo inusitado aconteceu: um cheiro aconchegante de café e bolo natalino, misturado a biscoitos amantegados, frutas secas.
Nossa! Eles capricharam mesmo, disse eu sozinho.
Seja bem-vindo a Santa Claus!
Quando me virei, deparei-me com aquele velho de olhos azuis como safira, barba branca, e bochechas rubras.
A princípio pensei que fosse alguma gravação, mas quando o vi vindo em minha direção, fiquei estático!
Tudo bem meu filho?
Continuei olhando-o admirado.
Quem é você?
Olha, costumam me chamar Papai Noel. Mas meu nome mesmo é Nicolau.
Tentei sair, porém não conseguia.
O que você fez?
Eu? nada. Você entrou aqui de bom grado querendo respostas, não e mesmo Norberto?
Como sabe meu nome?
De repente, aparece uma senhora com um xícara fumengante e um pedaço de bolo:
Para você querido. Acho melhor sentar e ouvir o Nicolau.
MAS O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI!
Não adianta gritar Norberto, ninguém te ouvirá.
Quem são vocês?!
Olha, vamos começar pelo início: Meu nome é Esperança, Bondade, Harmonia, Prestatividade, Amizade, Espírito de Natal, mas conhecido como o Espírito Santo.
Hã? não estava entendo nada.
Porém, as coisas tem mudado muitos de uns séculos para cá. As pessoas andam tão materialistas e egoístas que aos poucos estou me afastando desse mundo.
Como ?
Sim. Vês como a cada dia mais aumenta o ódio, a incompreensão, falta de amor?
Assenti com a cabeça.
Então, cada vez mais me enfraqueço.
Mas como ?
Simples. Quando a maldade começa a imperar, os bons fluídos, os anjos, e tudo mais benéfico que existe se afastam, não porque querem; mas pelo próprio povo que os rejeitam.
Mas e quem tem fé?, perguntei-lhe.
Esses são os responsáveis pela luz que há no mundo. Quando faz um ato de caridade, é uma raio de luz que ultrapassa a barreira de escuridão trazendo um pouco de alegria a este mundo tenebroso.
Eu acho que estou em crise de esquizofrenia.
O velho balançou a cabeça desconsolado.
É, eu sei Norberto. Conheço seu caminho. Lembro das notas vermelhas, escondidas de seu pais. Do perfume importado que quebraste de sua mãe. De quando numa noite correstes para o quarto de seus pais em meio a tempestade. Eu estava lá ouvido a sua prece: Meu Deus me ajuda! Porém, você fugiu.
Olhei-o, e as lágrimas caíram-me dos olhos.
Sabe, não devemos nunca perder a compaixão, o amor, a esperança. Eu sinto, o que acontece pelo mundo. Mas o mundo vai mal pela egoísmo humano mesmo.
E nunca mudará?
Sim, um dia.
E quando?
Depende do Humanidade.
E Deus? Aonde está em meio a tanto sofrimento?
O povo sempre culpa-me pelas calamidades causadas por eles mesmos. Pensa que gosto de ver meus filhos assim? Não sabe a dor de um Deus. Se alguém adoece é conseqüencia, muitas vezes de hábitos errôneos. Se uma pessoa é boa e sofre tanto é por essa maldade que impera. Criei leis que não posso transgredi-la. Não posso interferir na vida humana, se não, não haveria o livre-arbítrio.
Por que se revelou a mim?
Eu vi seu coração angustiado. Sem fé, nem alegria. E cético às a questões da alma. Sabe o bem existe. O mal também os ronda. Porém estamos pronto a ajudar a quem precisa, claro, quando é-nos solicitado.
Coma o bolo.
Comi-o e nunca senti sabor tão sublime e envolvente.
É bolo de quê?
De mel. Conhece o maná?
Olhei-o incrédulo.
Do povo Egito?
Exatamente esse.
A xícara fumegante não era café, mas um concentrado de frutas. Senti o gosto de maçã, casca de laranja, canela, abacaxi, damasco e menta.
Olha, eu sei que estou maluco, porém não acredito em papel noel.
E faz bem. Porém como reagiria se eu viesse como pomba para conversar contigo?
As pessoas perderam o senso do Nartal e da Páscoa, disse a ele.
Então, o resgate tem que começar através de você. E você passará a outro que levará a outro e assim sucessivamente. Comemorar é bom. Porém devemos ter em mente o significado do Natal. Eu nasci para resgatá-los.
Jesus?
Sim sou eu.
Senti naquela hora um calafrio, tremia da cabeça aos pés. Meu corpo incandesceu.
Basta, Ele disse, e fiquei calmo.
Mas...
O que faço aqui? Sabe, uns cino mil anos atrás, encontrei-me com o larápio desse mundo para saber o que fazer pra resgá-los. Ele me disse que queria as pérolas do meu sofrimento, a rosa do meu sangue e os diamantes de minha lágrimas. Eu aceitei. E quando morri na cruz e voltei dos mortos, ele chegou com uma caixa e me mostrou. Está vendo Jesus? Eles não querem você. Mas eu sei que tenho meu rebanho, você é um deles.
Chorei apenas.
Creia apenas. O mundo há de mudar.
Então me vi saindo, não sei como correndo, o povo me olhou, pensando se não havia surtado.
Estou bem pessoal. Foi só um queda de pressão.
Quando olhei pra trá eu vi o prato com o pedaço de bolo mexido, o bolo cortado – outrora esta inteiro – e a xicara pela metade, mas tudo de mentira. Olhei para o Noel e estava então com um olho fechado, como se tivesse piscado para mim dizendo assim: foi sim, tudo verdade...
Depois desse acontecimento, resolvi participar mais para ajudar o povo carente. Visitar orfanatos, hospitais, e vi que o maior presente é um sorriso numa face de criança ou de alguém enfermo, feliz porque alguém se lembrou dele.
05/12/08
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