José, o sapo.
José, o sapo, assim como antes fizera o seu pai, e antes de seu pai, fizera o seu avô, sempre morou na lagoa sinistra, a maior de todas as lagoas da região do vale do sul, era um local de águas mornas e tranqüilas, ideal para que pequenino girino crescesse, e se tornasse mais um belo sapo a coachar tranqüilo por ali.
Mas apesar de ser um lugar propício para toda uma grande população de sapos, o número destes nunca passou de um milhar.
José, o sapo, nunca se preocupou com estes detalhes gostava daquele lugar, era ali que criaria seus girinos, tão logo encontrasse uma bela sapa que lhe acolhesse, por hora, aproveitava as horas de sol, e a fartura de insetos e outro petiscos existentes na lagoa.
Um dia, que dormira além da conta, acordou com o sol já alto, e ressecando seu coro, assim deu um belo mergulho na lagoa, tocando até o fundo lodoso, ficando nesse joguinho por um bom tempo, após comer 28 moscas e três borboletas imperiais, satisfeito subiu em um portentoso aguapé, que ficava no centro direita da lagoa, e dali, não via outro sapo, ou mesmo um girino.
José, o sapo, não se preocupou, deitou e esticou-se sob o sol, e quando novamente se sentiu muito quente, mergulhou na lagoa, ficando somente com seus olhinhos úmidos do lado de fora, e percebeu que não se ouvia o menor coaxar, não se via também, quaisquer tipos de pássaros, fato não muito comum, somente insetos, numerosos e rebuliços rodeavam a lagoa sinistra, também não se importou, já que estava de barriga cheia, e ao cair da noite adormeceu abraçado a um cogumelo.
Levantou-se no dia seguinte por volta do meio dia, e despreocupado com sua súbita solidão na lagoa, comeu, bebeu e se divertiu, e assim ficou por 6 dias, 14 horas e 22 minutos.
No vigésimo terceiro minuto das 14 horas do sexto dia, tomou uma sábia decisão enquanto boiava em sua lagoa, logo no amanhecer do outro dia, iria procurar saber o que teria acontecido com seus companheiros sapos.
José, o sapo, estava lustroso de gordo, ele não sabia, mas olhos cobiçosos o espreitavam há algum tempo, estavam ansiosos por aquele corpinho roliço.
José demorou a acordar, aquele silêncio todo era favorável ao seu sono, e recém acordado mergulhou e deu várias braçadas, parou para comer alguns insetos, e novamente mergulhou, e quando estava cruzando a lagoa pela segunda vez, sentiu uma dor horrível, que lhe fez gritar, e gritar, não sentia suas pernas, nadou com tuas suas forças para a margem, e na areia viu que metade seu corpo lhe havia sido arrancado, sua visão foi ficando turva, e apesar do sol a pino, estava sentindo cada vez mais frio, seus pensamentos estavam ficando incoerentes, lembrou-se vagamente de sua mãe, de seu pai, de sua infância, sentia-se desmanchando, e tudo estava mais escuro, mais escuro, até que a escuridão tomou conta, e tudo ficou em silêncio.
José estava morto, seu sangue ainda escorria até a lagoa, quando um exército de formigas começaram a devorá-lo, no horizonte o sol caia, o vento acariciava levemente as folhas das árvores, insetos variados dançavam pelo ar, e lentamente mais um dia se findava.