O ESPETÁCULO CONTINÚA
O ESPETÁCULO CONTINÚA
Alberto Lopes
C - Oi!
B - Ei!
C - Ãn!
B - Ual!
U - UUrúúúú!
C - É sem descanso, que esses “co-autores” perseveram me acompanhar em três turnos...
B - Ai, ô! In-te-gral-men-te!
C - Oi! Concordo porque quero me manter concentrado no que vou fazer agora, mas o imaginário vem com a técnica...
B - E Escrever?
C - Pois é, andam querendo nem pensar!
B - Escrever sem ler, ou ler sem escrever...O que dizer?
C - Traços humanos cujos gestos carregaram a evolução da espécie de ágrafa a gráficos, levaram-nos da grafia à ortografia.
B - "Audio-cine-tele-foto-info-mania" - declara solene.
C - Abro o escaninho, troco o diário da 5ªC pelo da 6ª C e vejo o plano-de-aula: grupos operativos ilustrando a poesia de Cordel: “A Cartilha do Povo” . Ôpa! Reúno o material e disparo pelo corredor. O interlocutor retoma sua argumentação numa eloqüência neurastênica:
B - Insisto no Conto Insólito!
C - Passo a passo, explico: como vinha já consultando ponto por ponto e acumulando uma por uma, as condições de produção propomos incluir lado a lado, os parceiros presentes em "EI - Ó U AUÊ AÍ, Ô!" agora como destinatários nucleares de nova produção.
B - E então?...(Inquire o acompanhante, chegando à última sala do corredor de fora. E ela vazia está...)
C - Os alunos foram dispensados e não entendi o aviso dado por mímica e de longe. Agora ...
B - Deixe-se esvaziar do pique atlético-pedagógico voltando para a sala dos professores, de onde saímos.
C - Sem nenhuma gravidade, sinto-me aéreo a flutar guardando os materiais e pegando um copo com água, depois sentando-me bem lentamente à cabeceira da mesa com mais de uma dúzia de cadeiras, vazias. Passeio os olhos pelo ambiente, até que me encontro no espelho. Despenco do transe porque bato de frente com outra realidade!
B - Quem precisa ser atendido com maior urgência clínica, institucional e cons-ti-tu-ci-o-na-lís-si-ma-men-te?
C - A família!...
B - A escola!?
C - A comunidade!?
B - Ou é toda sociedade que urge por revisão e capacitação continuada!?
C - Pergunto ao umbigo: Ele vibra como respondendo:
U - Estou ouvindo ou vendo coisas?
C - Já vi ese filme?
B - Certo como os sete palmos de terra, a medida é um padrão.
U - Formamos grupos sociais mais ou menos repetidores dos valores embutidos nos discursos das figuras que direta ou indiretamente foram significativas na formação do nosso ideário.
B - Este raciocínio está sendo acompanhado por uma brilhante roleta de bingo, esquecida no seu canto.
C - Giro trezentos e sessenta graus a manivela.
B - Ela se anima pela imprevista inclusão na história, faz seu momento de glória numa pirueta que rouba-nos a cena.
C - No desempenho da coreografia que ela inicia e vai acelerando e agitada rola, rola e rola até retomar lenta e plenamentemente o alheamento na costumeira inércia...Tiremos os olhos e ouvidos do objeto e esqueçamos sua sub-utilização...
B - Ela nada mais é do que uma vítima ou vilã da capacidade ociosia de uma engenhoca ou do alter-ego de um narrador-personagem.
C - Voltando a observar a eventual imobilidade física ostensiva agora em todo o cenário, quase sempre ocupado num burburinho indizível, resisto ainda divagando para não comprimir a pausa democrática da pauta.
B - Aguardemos um pouco mais...
C - Para não antecipar a intervenção participativa dos atores ausentes, passo a olhar de novo, uma por uma das cadeiras vazias da sala. São desnecessárias legendas, já que tudo é polidamente inteligível. Aterrizo neste espaço, onde acomodado estou e encaro expressões e leio poses, de um por um, na fantástica assembléia, supondo-os reais, presentes e atentos.
Agora estou com as palavras. Só com meus botões.
O espetáculo continúa!
- EI! Ó U AUÊ AÍ/ O ESPETÁCULO CONTINÚA
BREVE
NESTE SÍTIO: LUZES, CÂMERA, AÇÃO!
Alberto Lopes