O Misterioso Liquido Negro

- Cadê ele? Ah, deve ter ido ao banheiro, deixa-me voltar a dormir.

Na manhã seguinte, no café da manhã:

- Ontem à noite eu acordei e não o vi no sofá, foi ao banheiro?

- ...É... Sim, sim. Eu fui ao banheiro e demorei por que... Deu-me uma grande dor de barriga, deve ter sido algo que comi – disse Stanislaw.

Oito horas em ponto Stanislaw saiu para o trabalho, em uma construção a metros de sua casa. Nesse dia ele e seus companheiros, iriam cavar um grande buraco ao lado do prédio que estão construindo. Um poço certamente. O trabalho ocorrera normalmente naquela manhã.

Stanislaw era muito querido por seus amigos pedreiros. Entre eles era o mais novo e o mais bonito. Sempre tivera um cabelo invejável, nunca imaginaria-se que um homem como ele era um simples pedreiro. Morava com sua irmã na casa que lhe foi deixada por sua mãe há cerca de um ano e meio, morta em um acidente de trem.

Stanislaw diferentemente dos outros pedreiros, não bebia, mas nesse dia, a filha de Pedro, um dos pedreiros, havia nascido, então pagou bebida a todos, então Stanislaw pegou um copo de cachaça. Enquanto festejavam, do outro lado da construção estavam cavando o poço, quando de repente ouviu-se um grande alvoroço, Stanislaw correu em direção aos amigos que trabalhavam do outro lado. Quando se aproximou do buraco, ele já meio tonto com a bebida escorregou e caiu no buraco. A cachaça se misturou com um liquido negro não identificado que estava no seu interior. De repente Stanislaw desmaiou, não se sabe se pela bebida ou pelo susto, e cobriu a cabeça toda com a mistura de cachaça e o misterioso liquido negro.

Na manhã seguinte.

- Tu desmaiaste e não acordou mais Stan.- disse Gumercinda, sua irmã.

- Nossa, mas que buraco enorme aquele, acho que cai pela pinga que bebi.

- Tu bebestes? – disse a irmã na fúria – tu prometeu que nunca beberia, lembra-se do papa? Ele morreu por isso ta lembrado? Se tu morrer, o que vai ser de mim? Quem vai me sustentar?

- Nossa, eu só dei um gole, quer dizer, acho que foi meio gole. Como será que eles conseguem beber aquela coisa ruim.

E os dois riram.

Stanislaw se aprontava frente ao espelho para ir ao trabalho. De repente deu um grito e disse:

- Gumercinda! Venha aqui! Meu cabelo...Meu cabelinho... Meu lindo cabelinho está todo danificado, seco e quebradiço. Ontem mesmo ele não estava assim.

- Calma, calma. É só passar um creminho e resolve. Toma aqui, passa esse vai solucionar seu “problemão”.

- Não brinca não, tu sabes muito bem que eu adoro esse cabelo. É a única coisa de qual gosto.

- Ai, não precisa ficar bravo. Eu sei, eu sei. Tu não vives se teu cabelinho.

- Ta bom, agora da o fora daqui que eu preciso me arrumar para o trabalho.

Stanislaw chegou no trabalho, fez o de sempre. Mas quando chegou a hora do almoço, ele sentiu uma vontade incontrolável de beber e pediu uma dose de conhaque. Quando foi dar um gole, jogou o copo longe.

- O que deu em mim? Eu nuca bebo.

E nesse momento, seu cabelo ficou todo pra cima, desarrumado.

No outro dia, aconteceu à mesma coisa, uma grande vontade de beber tequila. Mas ele resistia todas. Passaram-se dias, semanas e meses. Todos os dias a mesma coisa.

Seu cabelo foi ficando feio, cheio de pontas duplas, e fios brancos começaram a aparecer. Nesse momento Stanislaw estava ficando revoltado, pois o que ele mais gostava era de seu cabelo, e agora ele estava horrível e não conseguia fazer nada para o fazer voltar como eras antes.

Uma certa noite, sua irmã acordou para ir ao banheiro. Passando pela sala, olhou para seu irmão e viu que ele estava sem cabelo.”Será que ele raspou a cabeça?” pensou ela.

Na manhã seguinte, ele levantou e seu cabelo estava no lugar de sempre, na cabeça. E ela disse:

- Ontem de noite eu levantei e tu estavas sem cabelo algum na cabeça. Mas agora ele esta ai. Devo ter sonhado – disse ela rindo.

- Só pode ter sido né. Ele está aqui, e por sinal, mais bonito que ontem. Quando acordei ele estava arrumado, nem parecia que eu havia dormido.

- Podes ser que tu não se mexeu muito.

- É. Deves ter sido isso mesmo – disse ele rindo da historia que a irmã contou.

Stanislaw foi ao trabalho, só que desta vez não deu-lhe vontade de beber. Isso fez com que sua alegria aumentasse. Seu cabelo estava voltando ao normal e não sentiu vontade de beber.

Na manhã seguinte, seu cabelo estava muito bonito, nem precisou arruma-lo, pois ele já estava em ordem. A alegria de Stanislaw aumentava a cada dia que se passava. Ficou assim por durante um ano mais ou menos. Quase todas as noites em que sua irmã levantava o via careca. Até que um certo dia, ela pensou, “por que sonho quase todos os dia a mesma coisa?”, e decidiu acordar o irmã a próxima vez que o visse careca. Ela tentava, mas ele não acordava, ela o empurrava, beliscava, chegou ate a dar socos e nada. Perdeu o sono e foi comer algo na cozinha. De repente ouviu a porta se abrir, pegou uma faca e foi devagarzinho expiar quem era. Quando ela viu que quem abrira a porta e entrava era o cabelo do irmão ela deu um grito tão forte que no dia seguinte a sua vizinha perguntou o que era, pois a havia acordado, mas o irmão nem se moveu. Ela correu para o quarto e acabou adormecendo. De manhã, Stanislaw apareceu com o cabelo na cabeça. Gumercinda pegou e começo a puxar o cabelo de seu irmão. Ele não estava entendendo nada e pediu para que ela parasse, quando ela soltou a mão da cabeça de Stanislaw, seu cabelo se arrepiou todo e ficou horrível. Stanislaw ficou tão bravo com sua irmã que de tanta raiva quase a bateu. Gumercinda contou toda a historia que aconteceu de noite, mas ele não acreditou.

Os dias, meses e anos iam se passando, e o cabelo de Stanislaw ficava a cada dia mais feio e inchado, inchava mais e mais a cada dia. Gumercinda não se conformava que o irmão vivesse com um cabelo alcoólatra em sua própria cabeça e ele não soubesse de nada. Na noite seguinte, ela pegou a filmadora e esperou que o cabelo chegasse do bar, para que ela filmasse e mostrasse para Stanislaw. O cabelo chegou e percebeu que algo de estranho estava ocorrendo. Quando ele viu Gumercinda com uma câmera na mão, ele correu em direção a ela e a imobilizou. Voltou para a cabeça de Stanislaw e fez com que ele se livrasse dela. A vida dele se tornou uma desgraça após este dia.

Até hoje, Stanislaw não sabe da verdade. Vive com um cabelo alcoólatra e com cirrose na própria cabeça.

Ana Júlia Marcato
Enviado por Ana Júlia Marcato em 03/11/2008
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